O QUE É EUBIOSE? (*)

(Ou o Manifesto Eubiótico de 1954)

Lorenzo Paolo Domiciani

 

Para definir o que é Eubiose mister se faz, em primeiro lugar, preparar o espírito de nosso leitor, através da teoria, a fim de que o mesmo, acompanhando, capítulo por capítulo de semelhante trabalho, possa finalmente alcançar a parte prática. Do mesmo modo que o viajante, irá ele marchando de etapa em etapa a descobrir novas regiões, novas pessoas, novos amigos, coisas, enfim, que lhe não eram conhecidas. E assim, ao chegar à meta final de semelhante jornada, estará de posse de um cabedal maior do que anteriormente possuía. Mas tudo isso à custa de "seus próprios esforços", ou de acordo com a sentença cristã do "Faze por ti que Eu te ajudarei". Nesse caso, o autor do trabalho não será mais do que um guia desconhecido que, de longe, aponta o caminho a se percorrer, mas contente e feliz por lhe terem ajudado, também, "a dar de graça o que de graça recebeu" no decorrer das suas várias existências.

E é assim que neste artigo o leitor conhecerá, em síntese, o que é Eubiose. E de que maneira é ela aplicada, de acordo com a evolução espiritual da Humanidade.

Eubiose é a ciência da Vida.

E como tal é aquela que ensina os meios de se viverem harmonia com as leis da Natureza, e conseqüentemente, com as leis universais, das quais as primeiras se derivam. Pelo que se vê, nenhuma diferença existe entre Eubiose e Teosofia, porque esta, como Ciência ou Sabedoria Divina, se propõe à mesma coisa, como "tronco donde se originam as ciências, religiões, filosofias, línguas e tudo mais quanto já existe e há de existir no mundo". Desse modo, não apenas os "Adeptos da Boa Lei", mas também todos os Iluminados que a este mundo vieram, pautaram a sua vida eubiótica ou teosoficamente, ensinando aos demais a que agissem do mesmo modo. E isto, de acordo com a evolução natural da época dos seus vários aparecimentos.

Desse modo, a Sociedade Teosófica Brasileira (**) não podia deixar de se servir de semelhante ciência, como detentora do movimento cultural‑espiritualista que "por força de lei" lhe coube no presente momento da humanidade. E isto, já se vê, em amplitude muito maior do que tudo e todos que a antecederam, pois que a evolução caminha sempre para diante. E muito mais, em pleno interregno de um ciclo para outro, como prova o seu próprio lema: Spes messis in semine, isto é, "a esperança da colheita reside na semente".

 

(**) Este foi o nome da Sociedade Brasileira de Eubiose, de 1928 até 1969. No texto doravante, onde originalmente vinha Sociedade Teosófica Brasileira, virá o nome atual. O mesmo, quanto à sigla STB, que virá trocada por SBE. (Nota da Redação, fevereiro de 1999).

 

Preparando a manifestação do avatara do Ciclo de Aquário

 

Tais momentos ou ciclos foram apontados, por exemplo, pelo bem‑aventurado Krishna, que viveu 3500 anos antes de Cristo, quando promete ao seu discípulo Arjuna ‑ vide Bhagavad‑Gita: "Todas as vezes, ó filho de Bharata!, que Dharma [a lei justa] declina [como está acontecendo agora] e Adharma [o contrário] se levanta, Eu me manifesto para salvação dos bons e destruição dos maus. Para o restabelecimento da Lei, Eu nasço em cada yuga [idade ou ciclo]". Jesus também prometeu a sua volta, pois que a Essência é sempre a mesma, como avatara da própria Divindade, do seguinte modo: "Quando ouvirdes rumores de guerra não vos assusteis, porque é preciso que tudo isso aconteça. Levantar‑se‑á nação contra nação, reino contra reino. E haverá fome, peste e terremotos em vários lugares; mas todas essas coisas são apenas o começo das dores. E depois da aflição daqueles dias, aparecera no céu o sinal do Filho do Homem".

As tradições, tanto do Oriente como do Ocidente, estão repletas de semelhantes "promessas". Os ciclos, as idades se passaram e jamais elas deixaram de ser cumpridas. Estamos em vésperas da "Manifestação do avatara sob o signo de Aquário". O de Jesus foi o de Peixes. E isto se pode constatar com a passagem da "mulher adúltera", quando lhe foi apresentada, ao traçar Ele no solo um peixe. E não a errônea interpretação de que era Ele pescador, a menos que o fosse de almas. Gotama o foi, por sua vez, de gado. Neste caso, pastor, ou seja, outro termo que se aplica aos "condutores de almas". O próprio termo go ou Gautama significa vaqueiro ou condutor de gado, etc.

Todos os manus, por sua vez, grandes ou pequenos, conduziram seu povo à "terra ‑ por Lei ‑ prometida". Nosso código penal comete grave erro ao julgar que semelhante nome pertenceu a alguém que "codificou as leis pelas quais os homens ainda se regem". Os Mandamentos do Manu ‑ falamos do que teve o nome de Vaivásvata e que "conduziu a semente da raça atlante para o planalto do Tibete, na formação da raça atual ou ária", há perto de um milhão de anos são repetidos com palavras mais ou menos idênticas nos códigos de todos Aqueles que O sucederam. E a prova é que os de Moisés são os mesmos do Cristianismo. Ao voltar Ele do Monte Sinai, depois de "haver contemplado a Luz face a face", seu povo ao ouvi‑lo falar de modo diferente teve ocasião de exclamar "Man hu?" ‑ "que significa isto?" (1). Não se trata, pois, de alimento físico, como pensam outros, ou do "maná caído do céu", e sim, como alimento espiritual ou da Sabedoria Divina ‑ ou teosófica ‑ pela boca do manu daquela época. Por sua vez, maná é termo que se confunde com manu e até com o termo latino manus, no sentido de mão, mas, "daquele que vem à frente ou à mão de seu povo". Manas ‑ manu, o homem ‑ tem o significado, em sânscrito, de mental, inteligência. Deste termo provêm o man inglês e germânico. E em nosso próprio idioma, o mem, da palavra homem.

O Manu é, portanto, o portador do Verbo Solar. E isso, por ser a Sua própria manifestação na Terra. O termo eon grego significa "manifestação divina". Semelhante termo lido anagramaticamente dá o Noé bíblico, por sua vez, um manu. E a prova é que conduz sua família ‑ povo ou raça,, e não apenas os de seu sangue ‑ pari 'a Arca, mas esse termo, muitíssimo mal interpretado, deve ser dedicado a Agartha, como região subterrânea. Arca, Barca ou Agartha são termos idênticos. Procurar, pois, vestígios de uma barca de madeira, nos tempos atuais, é prova de ignorância em matéria iniciática. E dizer‑se que os próprios cientistas modernos ainda se dedicam a semelhante trabalho!

Por tudo isso e muito mais ainda, a Sociedade Brasileira de Eubiose fez construir seu templo dedicado ao avatara cíclico, ao mesmo tempo que a todas as religiões do mundo e, conseqüentemente, à fraternidade universal da Humanidade, no lugar onde, a bem dizer, o Manu atual conduziu seu povo, dando‑lhe o tradicional nome de vila Canaã ‑ ou Terra da Promissão. E isto, na estância hidromineral de São Lourenço, no Estado de Minas Gerais. E a cuja estância, com sua Montanha Sagrada, pois foi nela onde se deu a espiritual eclosão do movimento em que a mesma instituição se acha empenhada, o grande cientista e teósofo espanhol doutor Mário Roso de Luna deu o precioso nome de "capital espiritual do Brasil" (2).

 

A Missão Cíclica Das Américas

 

Cristóvão Colombo, ou antes, Christoferens Columbus, "aquele que carrega o Cristo" e é, ao mesmo tempo, a Ave, a Pomba do Espírito Santo ‑ columba, etc. ‑ que ele mesmo saudava em sua sigla vide Dhâranâ número 110, foi o grande descobridor do Novo Mundo. Sim, Colombo, de acordo com o seu próprio nome, era a Avis raris in Terris. E Cabral, por sua vez, cujo nome provém de capris, Capricórnio, Kumara, etc., como ele mesmo o apontou em seu brasão ‑ vide mesmo número de Dhâranâ, foi completador de semelhante façanha, para não dizer, quem realizou o codicilo de tão espiritual testamento, ao mesmo tempo histórico e cíclico.

Surgiu o Novo Mundo! Surgiram as Américas! E, conseqüentemente, a região que devia servir para a nova civilização, a nova Humanidade da Era de Aquário (3) ou do Avatara de Mitra‑Deva. Sim, o Quinto Continente, de acordo com os cinco sentidos, cinco dedos, os cinco tattvas ou forças sutis da Natureza. Colombo e Cabral eram seres da Agartha. E como tal, eram iniciados nos Grandes Mistérios. Eis aí o valor da Eubiose. Eis aí o sentido profundo do termo Teosofia.

Os homens de maior cultura do mundo já pressentiram que "os tempos esperados já chegaram", pouco importa se cada qual a seu modo. Do Oriente ao Ocidente, as Chamas do Espírito Santo, ou Terceiro Logos, se erguem para iluminar toda a Terra; no Oriente, os Rama‑krishnas, os Vivekanandas, o próprio Gandhi, como redentor político da índia, e o místico Aurobindo. São suas estas palavras: "Nosso papel está findo. A hora é do Ocidente. Tudo farei para nascer naquelas bandas". O mesmo vêm dizendo outros místicos mais "orientados", pois não falta quem ainda se deixe levar pela mística antiga. Nem sequer vêem que os horizontes estão toldados de "vermelho". Nada mais doloroso do que ter olhos e não ver; ouvidos, e não ouvir. São os "cegos de espírito" a que se referia o meigo Nazareno.

Foi do Oriente ‑ logo fundada a nossa instituição, com o seu primitivo nome Dhâranâ, "o sumo controle do pensamento" ‑ que nos veio a maravilhosa mensagem que mais uma vez trazemos a público:

"Salve Dhâranâ, rebento novo mas vitalizado pela uberdade do tronco gigantesco donde nascente. Vieste do Oriente, como uma rama extensa, florescer as mentes dos filhos deste país grandioso o grifo é nosso ‑, que já tiveram a dita de ouvir o cantar mavioso da Ave Canora, que lhes segreda internamente amor a todos os seres. Os teus triunfos já são cantados em melodiosas estrofes no grande concerto universal da Cadeia Setenária, porque tu, excelsa Potência, criada pelos teus próprios esforços, começaste a dar crescimento, nas tuas poderosas hastes, às folhagens verdejantes, onde amarelados frutos serão colhidos por todos aqueles que se acham famintos e perdidos na grande floresta da vida. E assim, com as cores do Pavilhão da pátria de teus filhos, também tu, Dhâranâ, terás o teu hino glorioso cantado pelos querubins que adejam em torno da silhueta majestosa do Supremo Instrutor do Mundo" ‑ o Avatara, dizemos nós.

Tão excelsa mensagem, que nos foi enviada do Oriente, é uma verdadeira apoteose ao continente americano, dando ao Brasil o seu lugar de destaque, pois, como disse muito bem o chefe de tão espiritual movimento, "Brasil, terra do Fogo Sagrado, tu és o santuário da iniciação moral do gênero humano a caminho da sociedade futura". Tais palavras dizem muito, muitíssimo.

Quando da Conferência panamericana no Rio de Janeiro, no ano de 1942, a SBE teve ocasião de lançar um número especial de seu órgão oficial, a revista Dhâranâ, no qual colaboraram todos os embaixadores acreditados junto ao nosso governo, além da senhora Gabriela Mistral, prêmio Nobel de literatura. Outros nomes de imenso valor no mundo político e intelectual colaboraram no referido número. A própria imprensa, tanto do País como do estrangeiro, foi unânime em afirmar "que se trata de algo inédito na história da imprensa". O Correio da Manhã, por sua vez, teve ocasião de dizer que "em imprensa especializada nunca se vira coisa igual" (4).

Para finalizar esta introdução à Eubiose, transcrevemos mais uma vez diversas citações de homens ilustres a respeito do papel das Américas no grande concerto universal do ciclo presente. Começamos pelas palavras do etnólogo mexicano José de Vasconcelos:

"É dentre as bacias do Amazonas e do Prata que sairá a raça cósmica, realizando a concórdia universal, pois será filha das dores e das esperanças de toda a humanidade".

Do grande cientista e polígrafo espanhol doutor Mário Roso de Luna (5 ), membro número 7 da SBE:

"O país de Pinzon, Cabral, Lepe e Sousa, por sua maior vizinhança com Europa e África, por sua mescla de raças e por inúmeras outras razões, demonstra excepcionais características, que nos dão o direito de dizer que seus futuros destinos são semelhantes aos de Norte América; que, em cultura, no litoral, nada fica a dever à Europa; do mesmo modo que em belezas naturais e espiritualidade faz lembrar o berço do povo ário, a Índia, como se no desenrolar dessa nobre raça ‑ da Ásia à Europa e desta à América ‑ coubesse ao Brasil a glória de ser o remate e epílogo daquele grande povo, com uma civilização fluvial e costeira igual à de todos os grandes rios chamados Ganges, Indo, Oxus, Iaxarte, Nilo Tigre e Eufrates, Danúbio, Ródano, Reno, Mississipi, etc., cada um deles legando ao humano futuro um florão da sua coroa... Não resta a menor dúvida de que as bacias do Amazonas e do Prata, com o decorrer dos tempos, selarão nas suas ribeiras os destinos do mundo".

Do inesquecível Joaquim Nabuco:

"Pelos ideais e pelo coração, as repúblicas panamericanas formam já no mundo uma grande unidade política. Trabalhando, entretanto, por uma civilização comum ‑ o grifo é nosso. E por fazer do espaço que ocupamos no Globo uma vasta zona neutra de paz, nós trabalhamos pelo beneficio do mundo todo".

Com as magníficas vibrações de seu verbo inflamado e patriótico, Afonso Arinos de Melo Franco, por sua vez, teve ocasião de dizer, em sua maravilhosa obra Política Cultural Pan Americana, o que se segue:

"O europeu Spengler vaticinou a tragédia da sua época continental num livro a que deu o ambicioso título A Decadência do Ocidente. Seria talvez mais modesto e mais exato circunscrevendo ao Velho Mundo as proporções da catástrofe. Nós não temos nenhuma inclinação pela decadência precoce ou pelo extemporâneo suicídio".

 De fato, falar assim um re­presentante do Velho Mundo, es­quecendo o grande fenômeno cíclico e histórico que foi o da des­coberta do Novo Mundo, demons­tra quae-farte o gênio conservador, e portanto não evolucionista, de certos letrados.

Apontemos outros vultos proeminentes da América Latina:

"As conquistas da força não são jamais duradouras e requerem quase sempre o sacrifício de vidas e princípios que são preciosos para a Humanidade. As conquistas do saber são conquistas sem sangue, que não subjugam a vontade do homem, que não violentam a tranqüilidade social nem fazem coação alguma à iniciativa individual, ao contrário, estimulam‑na, infundindo anseios vivos de superação, impulsionando‑a para a ação produtiva, que, apreciada em conjunto, vem a constituir o avanço cultural de um povo e o grau com que será qualificado no concerto dos povos civilizados" ‑ discurso de Hormodio Arias na inauguração da Universidade do Paraná, 1935.

"Hoje uma nova geração, forjada pelo calor de generosos ideais, decepcionada do poder das revoluções, cética do prestígio dos caudilhos, cheia de brios, generosa, preparada, idealista, surge..." Arguedas.

"Cremos que os melhores e mais seguros meios de aproximar os países deste continente são aqueles que procuram, por sua vez, a aproximação das classes intelectuais, por serem aquelas que dirigem as nações". ‑ Julio Garcia e Fernando Gonzales Roa, 1937.

Dhâranâ, em seu número 25, de 1928, já dizia:

"Da América irradiará pelo Globo o verbo consciente da paz. Sentimentos nobres, aos clarões da razão iluminados, reunirão povos em finalidade única. E sobre as ruínas materiais da força bruta pairará o Direito apoiado no Direito".

Na mensagem que a SBE lançou ao mundo através da Rádio Cruzeiro do Sul e pela boca do ilustre homem de letras que é o doutor Edmundo Cardillo, figuram as memoráveis palavras:

"O clima espiritual das Américas propicia o renascimento interno e dá extraordinário alento para vencer‑se o umbral da descrença, que afoga outros povos no infortúnio. O Novo Mundo é o decantado hipogeu da iniciação humana, onde almas se religam para maior glorificação da Fraternidade. Colombo foi o Messias do Eldorado ‑ontem, sonho, hoje, realidade".

Sim, dizemos nós, os povos americanos estão ligados com elos da mesma cadeia fraternal, imposta pela Lei que rege os destinos de homens e coisas. E contra semelhante lei, "nenhum outro poder mais alto no mundo se alevanta".

 

O Que Pretende a Eubiose

 

Como já foi dito, "Eubiose é a ciência da Vida. E como tal, é aquela que ensina os meios de se viver em harmonia com as leis da Natureza e, conseqüentemente, com as leis universais, das quais as primeiras se derivam". Seus partidários não visam outra coisa senão, através do Naturismo e de outros recursos de ordem elevada, estabelecer novamente na Terra as condições de vida em que se achavam os homens primitivos ‑ de preferência os atlantes, porque as primeiras raças não podiam ser tidas como propriamente humanas, e só nos meados da terceira raça, que foi a lemuriana, com a separação dos sexos, a Humanidade tornou-se digna de tal nome ‑, não vendo na civilização atual e na Ciência profana outra coisa senão um caminho errôneo que a conduzirá ao abismo fatal da degenerescência física, de tal modo que, se no referido caminho continuar insistindo, chegará à completa ruína, para não dizer, desde logo, à irremediável extinção da espécie, obrigando a Lei que rege os destinos de homens e coisas ‑ conhecida como Dharma, "a Lei justa" ‑, a empregar diretrizes diferentes daquelas já traçadas.

Em tão pessimistas apreciações oculta‑se um cunho de verdade tão profundo que não seria possível apontá‑lo num trabalho como este com a clareza que só pode ressaltar da inteligência daqueles que se acham à vanguarda dessa mesma civilização em franco declínio. E como tal, seus verdadeiros guias ou instrutores. Tudo isso significa uma grande luta entre o Bem e o Mal ‑ uma espécie de batalha idêntica à travada no campo de Kurukshetra entre lunares e solares, como descreve de modo soberbo o grande poema épico Mahabharata. "Campo" este que, em uma das sete chaves interpretativas, como deve ser lido o referido poema, é a representada pelo grande campo da vida.

Se a maioria dos homens continua sob o impacto, ainda, da consciência primitiva, ao invés da que lhe compete no presente momento de sua vida, lógico é deduzir que é mais animal do que humana. O mesmo termo sânscrito trama manas quer dizer "mental inferior". Isto significa que a alma ou anima, em latim ‑ é quem governa, em vez do espírito, como Consciência superior, Manastaíjasi, para não dizer desde logo, Budhí‑taíjasí, que, em verdade, provém do plano da Intuição, da Inteligência, ou do lugar onde esse mesmo Espírito pontifica.

"Eureka!", dizem o intelectual, o cientista, o homem de evolução mais adiantada que os demais, quando lhe vem à mente algo que ele não esperava, e, portanto, ignorava. Esse fenômeno diz muito, principalmente num momento em que a evolução humana se acha em pleno interregno de um ciclo para outro. Fenômeno idêntico, por sua vez, aos das pororocas do rio Amazonas, ou do encontro das águas do mesmo rio com as do mar, cujo ruído é ouvido de longe. Daí, a Missão em que está empenhada a Sociedade Brasileira de Eubiose ter escolhido por lema o Spes messis ia semine, momento este por alguns aclamado como "Era de Aquário", e por outros, como, por exemplo, o grande polígrafo espanhol Roso de Luna, "Era do Espírito Santo". (6)

Suprimir a civilização não tornaria com isso feliz o homem. Se os que da mesma se afastam encontram durante certo tempo uma relativa felicidade porque são seres enfastiados da vida, esgotados, tanto por sofrimentos físicos como morais, por isso mesmo tal afastamento ‑ uma espécie de exílio, de momentâneo socorro espiritual lhes serve de medicina; porém não tarda em surgir no fundo da consciência a voz das aspirações humanas, os nobres apetites ou anseios da Inteligência, além de que, nos devemos convencer, como filhos que somos dessa mesma civilização, sem ela não podemos viver, apesar de todos os seus defeitos. Muito mais do que isso, dizemos nós, nosso dever é auxiliá‑la e estender‑lhe a mão, principalmente no momento doloroso por que está atravessando.

Os ouvidos que, com sublime anseio, se deleitaram com as sinfonias de Wagner e Beethoven não mais poderão suportar o rugido das feras famintas; os cérebros que se deliciaram com a nobilitante embriaguez do entusiasmo científico e filosófico não mais poderão suportar a monotonia das auroras e dos crepúsculos, no meio da paisagem agreste; busca‑os, numa sofreguidão imensa, muitas vezes redentora, para, depois de algum tempo, desprezá‑los, e a seguir novamente procurá‑los, de modo quase idêntico ao da tragédia shakespeareana, ou do "To be or not to be" do indeciso Hamlet.

A atividade humana, encaminhada durante milênios em luminosos roteiros ‑ na razão do roteiro ou Itinerário de ló, da tragédia de Ésquilo ‑, não é capaz de retroceder à eterna luta contra o perigo que constitui a condição primitiva, e na qual o triunfo, como na maioria dos casos, foi obtido pelo mais feroz, qual acontece com as próprias guerras. Ao contrário, os homens de hoje aspiram por lutas futuras em que, de modo diverso, a palma da vitória pertence ao melhor, o bom, o mais sábio. O melhor da atualidade não é aquele que, com maior habilidade, sepulta as suas vitórias do dia no ventre pouco perfumado do lar, atrás de cochilos sonolentos, a ouvir o massacre de uma música aparentemente clássica, mas nunca, absolutamente nunca, de Beethoven, Wagner, Bach e outros grandes estetas da Divina Arte, mesmo assim, torpemente maltratada por gargantas doentias e pianos desafinados. Sim, hoje os triunfos do saber e da magnanimidade são os mais gloriosos. E tal fenômeno se firmará cada vez mais com a marcha, embora que vagarosa, do tempo, se a Humanidade quiser aplicar aos vícios e erros de uma civilização, como mal endêmico que a consome, o remédio único da Eubiose. Tal remédio não é novo ‑ como aqueles que aparecem dia a dia, seja o das ingratas vitaminas ou dos degradantes processos endócrinos (7) ‑nem quem hoje o relembra ousaria orgulhar‑se de o ter inventado, se é que alguém inventa alguma coisa... Nihil novi sub sole.

 

Felicidade e melhoramento: condições para uma vida eubiótica

 

Nunca deixamos de nos bater a favor da felicidade humana, procurando esquecer a nossa humilde pessoa. Este é, talvez, o nosso melhor remédio. Não sei se nos compreendem. E com a diferença de que tal ambição nasceu em nós mesmos, entretanto a perfeição só poderá advir de homens superiores que por trás de nós se ocultam, embora que nem sempre, uns e outros, possam sair ilesos das batalhas que, a cada momento, se travam à sua frente, tolhendo‑lhes os passos. Sim, pelos inimigos da Lei, pouco importa se consciente ou não, desde que os homens passam mas os erros ficam. E podem servir de mau exemplo a outros.

 

A eubiose científica está por construir. E tudo quanto temos vivido e realizado basta para proporcionar a essa vastíssima ciência futura seus primeiros materiais construtivos.

 

Tais tendências ‑ ou skandas, segundo as escrituras orientais, que geram o bom ou o mau carma de cada indivíduo ‑ e as várias maneiras por que elas se manifestaram na evolução humana, constituem uma Eubiose, embora que empírica e deficiente; o que, entretanto, não lhe impediu de derribar a teocracia e o feudalismo inclusive, na Revolução Francesa, a flor de Lis caótica dos Bourbons ‑, abolir a escravidão, criar e desenvolver as artes e as indústrias e influir na formação de todas as ciências, particularmente da higiene, cujos fins quase se confundiriam com os da Eubiose, se não estivessem desorientados pelas concepções microbianas.

Resumo de todas essas proposições: faz‑se necessário estabelecer uma constituição científica de um corpo de doutrina eubiótica e, portanto, teosófica ‑, para que se aprenda, antes de mais nada, a melhorar interiormente, a fim de que nossa atuação comece pelo melhoramento desse mesmo interno para o externo, ou de dentro para fora; e, em segundo lugar, a interessar‑nos pela felicidade geral da Humanidade ‑ que bem poucos o fazem, preferindo explorar‑se mutuamente ‑, donde deverá sair nossa própria felicidade, como uma folha de loureiro só pode botar de um ramo dessa mesma árvore, posto que a felicidade egoísta, com o desprezo pelos demais, não satisfaz, absolutamente, a condição eubiótica do melhoramento. E aí nos encontrarmos com o principal fator nefasto que falseou a verdadeira Eubiose, tornando‑a empírica, mas, apesar de tudo, à mesma se deve o humano progresso.

Tais condições de melhoramento e felicidade, internas e externas, apaixonaram, isolada e alternativamente, aos homens; raramente se as levou em consideração, todas juntas ou por inteiro, razão de nunca ter existido até agora a verdadeira Eubiose teosófica. A Eubiose científica está por construir. E tudo quanto temos vivido e realizado basta para proporcionar a essa vastíssima ciência futura seus primeiros materiais construtivos. Aquele que aspira a sua própria felicidade raramente a relaciona em íntima interdependência com a felicidade alheia. Os próprios vizinhos nenhuma importância ligam uns aos outros pelos males que os afligem, as suas necessidades, etc. E ainda há quem fale de caridade, palavra que tanto deprime a quem a faz como a quem a recebe, pois o verdadeiro termo a ser empregado por homens de elite é o Dever ou Dharma. Aquele que aspira o seu aperfeiçoamento isolado dos demais julga‑se no dever de sacrificar, desse modo, seus prazeres mais legítimos; o industrial desejoso de aperfeiçoar ou melhorar a sua produção não leva em conta o melhoramento dos demais produtores, muito menos a sua felicidade, senão que procura sacrificá‑los, barateando o produto, desafiando competências, sem se lembrar de que os aniquilados, os despojados dos seus haveres serão renovados, substituídos por outros, como se muda a peça de uma máquina quando a mesma se acha gasta ou defeituosa. Uma grande parte da felicidade a que o homem aspira obtém-na corrompendo os seus semelhantes, enquanto que, no sentido eubiótico, toda felicidade, todo prazer que não contiver o menor vestígio de aperfeiçoamento é fictício e ilícito. Nas mesmas condições se acha a chamada felicidade sexual, ou do prazer dessa mesma natureza, prejudicando a verdadeira felicidade eubiótica de outros (8).

A Civilização, no seu presente aspecto, não equivale à eubiótica do próprio avanço das ciências e da cultura moral que alcançaram alguns espíritos superiores. Uma Humanidade que vem até hoje subordinada aos favores deíficos do seu começo ‑ à parte o que em matéria hierárquica diz respeito ao nosso globo ‑, de um modo ou outro, deforma os corpos e as almas. Dor e miséria são o seu apanágio, justamente pela falsa felicidade de uma riqueza não educada, para falsos prazeres que obrigam aos favorecidos da fortuna a sorrirem dos fracos e dos humildes, além de aos mesmos darem o mau exemplo de os imitarem. Nesse caso, conduzindo‑os ao crime, à prostituição, ou mesmo ao suicídio, mas com aquele sorriso do palhaço de Leoncavallo, que oculta as dores que lhe corroem o coração! Os pobres, por sua vez, julgam que, resolvido o problema financeiro e liquidados os seus débitos, as suas angústias terão encontrado a verdadeira felicidade, como um sol que se irradiasse por trás de tempestuosas nuvens.

Pobres e cândidas almas! Como vos explicar as infinitas torturas que a vida moderna inventa para aqueles que julgam estar a coberto de todas elas? O rude camponês, cujo corpo fatigado cai inerte, como a própria árvore decepada por seu machado, depois de ter farto o estômago com alimentos impróprios ‑ atravessamos uma época em que pobres e ricos se sujeitam a tais alimentos ‑, no entanto, mais feliz é do que o despreocupado ricaço, farto de champa­nhe e de fois gras, que pro­vou com repugnância, embora o esmero do seu ativo e leal cozinheiro, gorducho como o patrão, por alimentar‑se das mesmas igua­rias. Rico, mas po­bre de saúde, semelhante homem, que passas as noites inteiras a contar as badaladas do relógio, olhos abertos na penumbra, a sonhar, embora que acordado, com o que deve fazer no dia seguinte, sempre a aspirar algo que não lhe pertence, inclusive a real felicidade que dia a dia vai sumindo, como sol que descamba no horizonte de sua vida. A neurastenia já lhe pôs o sinete de fogo!

Os ricos não são melhores nem mais felizes do que os pobres; morrem do mesmo modo e, talvez, mais depressa o rico do que o pobre! A fortuna não é uma situação eubiótica na existência humana, senão, quando se a considere como um recurso poderoso para concorrer para a felicidade dos demais, ou para as boas obras. (9)

Não deseja a Eubiose o progresso e a parasitária euforia de alguns às expensas do rebaixamento e infelicidade dos demais. Não deseja que as cidades ‑ mesmo que em benefício da sua estética ‑ sejam uma mescla de custosos palácios e casebres imundos; arranha-céus que desafiam a própria ira celeste arrancando a vitalidade dos que neles habitam, como também, dos que são por eles engolidos, vivendo em moradas menores, algo assim como gigantes ao lado de pigmeus. Sim, tudo isso de parceria com barracos cobertos de zinco ou folha de Flandres, onde os pobres seres que neles habitam morrem de fome e de frio, contentando‑se em cantar as suas misérias! Nada disso é Eubiose, mas a demonstração palpável do Mal, nas mãos de uma civilização bastarda, por ser composta ainda de "homens‑animais". Não quis até hoje o moderno sistema de casta deixar-se guiar pelas leis do Manu, pois este legislador ário, do qual já se falou neste capítulo ‑ do mesmo modo que aqueles que O antecederam e sucederam ‑, se preocupava com a felicidade de todas elas, isto é, desde a mais humilde até à mais abastada. Gandhi, na Índia, quis relembrar, à custa de tremendos sacrifícios, os reais valores dos referidos códigos. Bem poucos o compreenderam, a ponto de ter morrido nas mãos de vulgar assassino. Sim, o Manu sempre se preocupou não só com aqueles que estavam sob a sua guarda ‑ em verdade, sua "espiritual família" ‑, como pelos demais que para Ele fossem atraídos. Hoje, os administradores de todos os países não seguem aquelas diretrizes, ao contrário, deixam seu povo morrer à míngua, mesmo que lhes prometendo muitas coisas, antes de serem eleitos, para depois faltarem com a palavra. Por que não dizer, coisas e fatos de um fim de ciclo apodrecido e gasto? O Manu de outrora sofria com a desgraça do seu povo, com todas as suas situações penosas. E mesmo quando tinha de lhes infringir qualquer penalidade, era com os olhos rasos de lágrimas. Houve um homem neste século que amava de fato seu povo. Este homem foi o rei Alberto da Bélgica, que a bem dizer morreu por seu povo. Como este, raramente outro se encontra, a não ser um Franklin Delano Roosevelt, pois com este "a política desapareceu no Ocidente, do mesmo modo que no Oriente com o Mahatma Gandhi".

Quanto aos condenados de hoje, bem que poderiam ser úteis às suas pátrias; ao contrário, a própria prisão os arruina e degrada, além de provocar maiores aberrações não dignas de figurar neste estudo. Sim, poderiam ser o valioso tecido do organismo social e, no entanto, passam à categoria de trágicos "rasgões" desse mesmo tecido! Quem nada vale, em verdade, é o organismo social, pois é o primeiro a prestar homenagens aos que, em seu seio, desempenham o papel de malignas "neoplasias".

Pobre infância de nosso país! Só na cidade do Rio de Janeiro, milhares de crianças se acham abandonadas, a bem dizer, na escola do vício e da malandragem.

 

Toda simbiose tem uma finalidade eubiótica, e, por conseguinte, a ciência eubiótica lhe confere o direito de estudar as suas perturbações e meios de remediá‑las. Seu papel é o de embelezar e aperfeiçoar a vida humana em todas as suas manifestações.

 

Assim o querem as leis que nos regulam! Não falemos dos que as poderiam acolher e educar, como, por exemplo, aqueles "veneráveis anciãos" que se deleitam nas ruas a "soltar" pilhérias às senhoras e jovens que por ali passam. E à noite se dirigem para o lar, "contentes e felizes", como um general que volta vitorioso do campo de batalha, embora aqui as armas sejam bem outras, isto é, as dos olhares e palavras indiscretas. Ou então, os que, em vez de adotarem semelhantes desprotegidos da sorte, preferem criar cães a filé mignon, doces e outros alimentos apetitosos; e à noite, com verdadeiro carinho maternal, colocá‑los num bercinho perfumado. Sim, fatos, pessoas e coisas de um fim de ciclo apodrecido e gasto. Para não dizer desde logo, "O tempora! o mores!".

 

Simbiose, o Modelo Eubiótico de Cooperação Social

 

Enquanto isto, a Eubiose se propõe a concorrer para a felicidade de todos; em uma palavra, deseja abolir o sistema das concorrências, onde a felicidade de uns é amassada com a infelicidade de outros; a riqueza destes, com a fome daqueles; substituindo‑o pelo sistema de cooperação simbiótica, isto é, que cada um possa melhorar e conquistar a felicidade em proporção àquela que traz aos demais; que ninguém possa resumir a sua prosperidade e felicidade em desacordo com as daqueles que concorreram para as mesmas, isto é, para levantá­-lo. Ao parasitismo social pouco a pouco vá substituindo a simbiose social, pois doloroso é saber que as reformas sociais só se dão através de colisões e violências, quando o simples espírito de humanitarismo, o inato sentimento de justiça devia viver no coração de todas as criaturas. Isto sim, que, sendo Eubiose, também devia servir de fundamento a todas as religiões do mundo. E nem todas, a bem dizer, se lembram de semelhante coisa! Perdem tempo envolvendo‑se na política ou arruinando todas as causas justas, desde que as considere prejudiciais à sua existência. Além de não quererem compreender que "o poder temporal é um e o espiritual é bem outro", pois, como disse muito bem o Cristo, "Dai a César o que é de César; e a Deus, o que é de Deus".

A Eubiose do homem isolado será, talvez, real em alguns anacoretas do Cristianismo, em certos sufis da lei do Corão ou em determinados sanyasis, em cuja nudez ascética se refletem, ao menos uma vez por ano, nas águas do Ganges. O homem vulgar, que é aquele que devemos estudar e em quem devemos pensar, deixando de parte os casos excepcionais, é naturalmente sociável, e enquanto a sociedade se estabelece entre os seres já não mais pode ser senão de dois modos: simbiótica ou parasitária.

Essas duas formas extremas de relações dos seres compreendem todos os casos possíveis, quer no domínio biológico, quer no sociológico. As células de um organismo, as abelhas de uma colmeia, os membros de uma instituição que trabalha pela coletividade mais do que todas, Aquela que é hoje "o centro de irradiação espiritual para toda a face terrena" ‑, trabalham, sim, em simbiose, na mesma razão das bactérias saprofiticas em nossas cavidades; e até a ação dos bacilos patogênicos é simbiótica, quando, estimulando as defesas, procuram erguer o tônus vital no conjunto orgânico. De não ser assim, tais bacilos, que constituem uma das inevitáveis condições do meio cósmico, teriam feito desaparecer da face da Terra a Humanidade, muitos milênios antes do advento da ciência moderna. E representa isso um fato importantíssimo que os bacteriologistas, e em geral todos os partidários da doutrina microbiana, não devem jamais esquecer, isto é, que os micróbios patogênicos assim os são para o inapto ao meio cósmico. Donde se conclui que a grande higiene, que o esclarecido Ferram como uma das maiores glórias da medicina atual, faz consistir nas vacinas, a Eubiose é que vai realizá‑la, ou seja, encontrando o natural recurso dentro da civilização, com a readaptação do Homem ao meio cósmico. Donde a reabilitação de suas primeiras relações simbióticas com as formas de vida que se tornaram agentes patogênicos.

Não só os micróbios nos fazem comparáveis a tão magno problema, pois que o mesmo acontece nas colisões políticas com a vontade popular, quando ambas as partes perdem a sua simbiose, isto é, que a atividade de cada uma seja favorável à outra, em perfeita reciprocidade, tornando‑se, então, a política um parasita do povo; as intrigas entre o capital e o trabalho, empenhados em se vampirizarem mutuamente, quando justamente a sua maior vitalidade depende da sua harmonia, simbiose, que, se diga de passagem, já vem em caminho. Isto equivale às relações entre a criança em gestação e a mãe, produzindo intoxicações mais ou menos graves nas mulheres mimadas da civilização, na sua maioria em desequilíbrio com o Cosmo, prejudicando a própria raça, senão as vindouras, com raras exceções, principalmente entre as camponesas, por viverem estas mais em harmonia com a Natureza, sem os atavios, as futilidades das grandes cidades, sem falar no seu pestilencial ambiente. Pelo mesmo motivo, o parasitismo do lactente sobre a mãe esgotada, quando em condições naturais a lactância é tanto favorável a um como à outra. Eis aí outros tantos casos de Eubiose que se transformam em parasitismo.

O lar também tem a sua simbiose freqüentemente alterada pelo luxo. Não entendemos por luxo o de que em todo lugar onde existam os necessários recursos haja um certo conforto ou bem‑estar; ou de que se renda culto, por exemplo, à arte em suas várias formas. Por luxo enten­demos todo desperdício que se faça sob o impulso da vaidade. A companheira do homem que administra com critério a sua casa e traba­lha sem detrimento de sua psíquis e de seu fisiologismo, sem embrutecer‑se nem afetar‑se, está em simbiose com seu marido. Aquela que se entre­ga à ociosidade e com luxos inúteis se converte na terrí­vel preocupação financeira do homem, renunciando a sua nobre missão simbiótica, transformando‑se, pois, em parasita. A mulher é a sacerdotisa do lar. E como tal, deve ser boa mãe, além de esposa virtuosa.

Toda simbiose tem uma finalidade eubiótica, e, por portanto, a ciência eubiótica lhe confere o direito de estudar as suas perturbações e meios de remediá‑las. Eis, pois, anotados vários casos, como exemplo do imenso campo de ação que à Eubiose incumbe, desde que seu papel é o de embelezar e aperfeiçoar a vida humana em todas as suas manifestações.

As condições de melhoramento e felicidade, como conseqüência da ação, tanto para quem a executa como para os demais, no maior raio de ação possível, não podem ser jamais esquecidas, nem em uma alimentação, nem em uma educação, nem em um trabalho eubióticos.

A felicidade deve ser lembrada porque seu esquecimento é impróprio para a ciência positiva, já que provém da moral ascética, que aceitava de bom grado um mundo de dor para ganhar um céu como recompensa. A ciência positiva carece de elementos para afirmar ou negar a possibilidade de uma felicidade post‑mortem. Tão pouco está em condições de pronunciar-se sobre a existência, ou não, da alma e sua possível supervivência, ainda que os mais conspícuos representantes da mentalidade contemporânea se mostrem cada vez mais respeitosos para com esse lado duvidoso, pois que outrora não o levavam a sério. Porém, qualquer que seja o destino póstumo de nossa individualidade e a ação das religiões e dos sistemas filosóficos espiritualistas a tal respeito, a ciência positiva não pode considerar-se isenta de ocupar‑se da felicidade humana ‑ aí estão os positivistas, que outra coisa não fazem senão pautar a vida de acordo com os sãos princípios da Eubiose, mesmo que não teosófica, no imenso esplendor de seu templo dedicado à Humanidade ‑, agora mais do que nunca, se estamos atravessando uma época de decadência cíclica, para outra nova, com o albor da manhã de um Manuântara, que somente não o percebem olhos não acostumados a tamanhos esplendores, .por isso mesmo, sujeitos à cegueira nada simbiótica.

As orientações modernas indicam, por toda parte, um grande esforço para a volta à Natureza Não a outro fim, respondem os desportos tão generalizados, a luta contra o alcoolismo e outras iniciativas semelhantes, embora que se esquecendo do intelecto e do espírito, que formam parte do ser humano! Sim, sua parte principal. Tem‑se mesmo a impressão de que a alma da raça esteja concentrada nos punhos dos boxeadores e nos pés dos jogadores de futebol. Basta comparar o público que se interessa por match com o que aprecia uma audição de música clássica. Responde, ainda, o frio glacial que refresca o entusiasmo não só daqueles nossos intelectuais que ousam, todavia, fazer conferências, senão até o dos representantes da ciência estrangeira, mesmo precedidos de extraordinária fama, que raramente basta para sacudir a nossa indiferença. Admitamos o jogo ao ar livre, mas condenemos as suas rudezas. Condenemos também uma parte de nossa muito ilustre imprensa, quando ocupa páginas inteiras em discutir qualquer desses jogos ‑ do mesmo modo que o faz com os crimes ‑, concorrendo mesmo para intrigas e batalhas em campo, fora da técnica, ou sejam, aquelas que vão às vias de fato. E até convertendo um simples jogo em "arte suprema", quando escasseia espaço para outras manifestações culturais, onde em vez dos pés é o cérebro que intervém. Sim, tudo isso é menosprezar, de modo digno de crítica ‑ e das mais severas ‑, o órgão pensante, para enaltecer escandalosamente os órgãos "pateantes". Donde os "valores", também, das corridas de cavalos. Não nos atrevemos a falar dos pontapés e outros meios brutais com que se "mimoseiam" os contendores, para não termos de fazer uma estatística das pernas quebradas em campo, mas também, muitas cabeças. Assim, a conhecida e sábia sentença Mens sana in corpore sano se converte em meus mais ou menos perturbada em um corpore mais ou menos defeituoso, para não dizer, inutilizado. (10)

Não somos indiferentes aos importantes resultados da cultura física ‑ de acordo com a HataYoga, que é a ciência do bem‑estar físico, como a Jnana‑Yoga o é do aperfeiçoamento do caráter, e a Satya‑Yoga, da mente ou inteligência, de acordo com o corpo físico, a alma e o espírito ‑ em favor da perfeição da raça, mas, baseado no referido termo, em sua totalidade, e não com os defeitos da métrica. A entidade humana é, antes de mais nada e acima de tudo, uma individualidade psíquica cujo corpo físico é o instrumento ou meio de manifestação, pois que o termo persona, ou pessoa, quer dizer "aquilo através do qual o som se manifesta", desde que este termo ‑ som ‑ seja considerado como Espírito. E o conselho de Spencer de ser "uma boa besta" ‑ a besta rugidora que ainda vive no interior da maioria dos homens, em vez da verdadeira Consciência, ou esse mesmo Espírito ‑ não tem outro fito senão o de dotar o artista com uma boa ferramenta. Sendo que a melhor entre todas de nada poderá servir para aquele que não a souber manejar. E o corpore sano não é nem deve ser outra coisa senão uma superior psiquis ‑ na mitologia grega Psíké anda em busca do seu bem amado, o Espírito ‑, sem o que voltaríamos ao tipo clássico do gladiador romano, cujo bíceps contraído era maior do que a sua cabeça.

Em compensação a tanto desperdício de "fisicismo" ou "musculismo", que é uma das formas de regressão, mais ou menos bem entendida, para a Natureza, fa­çamos constar que a natureza hu­mana não. se satisfaz, de modo al­gum, com a atenção que se empres­ta a um só dos seus aspectos. E tampouco se conforma com que, noutra ordem de coisas, a mente se submeta a uma aridíssima me­canização escolar e universitária, que fazem de qualquer cidadão que assim o deseje, em tão curto espa­ço de tempo, um doutor.

A Eubiose não admite o es­forço estéril, quer para as energias orgânicas, quer para as potências mentais. Dela nos virá a finalidade e justificação de ambas as espécies de esforços, em todas as infinitas modalidades da atividade humana. Com um critério eubiótico, por exemplo, poderiam ser organiza­dos centros apropriados a todos os trabalhos, capazes de dar múscu­los às pessoas, principalmente de profissão intelectual ou sedentária, pois os operários já possuem seme­lhante "esporte". Um oficio manu­al também seria o melhor meio de combater o artritismo dos negoci­antes e a dispepsia dos intelectuais; outrossim, um meio de vida no caso de necessidade, principalmente para aqueles mesmos milhares de jovens que perambulam pelas ruas das capitais brasileiras, pois o dia de amanhã é quase sempre incerto. Como ainda, para poder avaliar as condições e necessidades do ope­rário, e por ele poder fazer alguma coisa de favorável, pois só pode avaliar o mal alheio quem por ele já passou ou está passando. Assim, mais que elevado seria o trabalho manual, como condição, ipso fac­to, do operário, que, dentro do ver­dadeiro espírito democrático e sem necessidade de invocar doutrinas avançadas, não deve ser de modo algum colocado em uma classe inferior, pois são as suas mãos aben­çoadas que fazem manejar o gran­de mecanismo produtivo de todos os povos da Terra.

E daí nasceriam reformas plenamente eubióticas, isto é, favo­ráveis ao aperfeiçoamento e à feli­cidade dos que são o seu objeto; aperfeiçoamento e felicidade exten­sivos, quanto possível, ao meio social. Sim, porque onde se pensa e trabalha não pode haver sofrimen­to, fome e miséria. (11)

Nossa vastíssima Eubiose não se dedica, pois, a propiciar a volta às condições primitivas da existência humana, mas ao que elas possuem de favorável, quer materi­al como espiritualmente falando, à Civilização. E quanto a esta, não deseja suprimi‑la, mas utilizá‑la em proveito integral do Homem. Bas­ta a sua definição completa: Ciên­cia do melhoramento da vida em todas as suas formas e debaixo de todos os aspectos, com o fim ime­diato de assegurar a felicidade a quantos à mesma se sujeitem.

 

Ciência e Medicina sob o critério eubiótico

 

Em referência aos médicos de ontem e de hoje, temos a dizer, o tipo do médico onisciente, cético e sempre pronto a desdenhar de tudo quanto não pertence ao princípio dogmático apren­dido em aula ‑ que por in­felicidade ainda existem al­guns ‑ já começa a ser subs­tituído, com vantagem, por uma espécie de sacerdotes repletos de amor e de bon­dade que, compenetrados do desejo de consolar e ali­viar os males alheios, diga­mos com a franqueza que este trabalho exige, estão acima de muitos sacerdotes, cuja vocação para as suas próprias reli­giões não lhes era um dom espiri­tual e congênito, na razão daque­las skandas ‑ ou tendências ‑ a que já nos referimos neste trabalho. Sim, porque outros há que nasce­ram "para servir a Deus", como se costuma dizer, e, conseqüentemen­te a todos os seres da Terra. Quan­to aos médicos em questão, são aqueles que se não apressam em despachar os doentes ‑ quando te­mos visto alguns que os recebem de pé e param de falar bruscamen­te, indício certo de que estão man­dando embora os referidos doen­tes. Aqueles, não, muito ao contrá­rio, passam dias e até noites à ca­beceira de seus doentes, quando seu estado é grave. São como membros das suas famílias, as quais os esti­mam, admiram e neles confiam. Para estes, a beca e o diploma fica­ram em casa. São os verdadeiros teurgos de outrora que... ao menos os clarividentes poderiam perceber a preciosa aureola do Saber e da Bondade que os circunda. Assim também o são os médicos de nos­so Colégio Iniciático, como verda­deira academia teosófica ‑ e con­seqüentemente eubiótica ‑, pois que, de fato, como os seus demais companheiros de "missão", trabalham pela felicidade humana.

Existe uma outra categoria de investigadores, muitas vezes mártires da própria ciência: os homens de laboratório, artistas cheios de fé e de entusiasmo, simples e ingênuos como a própria Natureza, demasiadamente interessados na utilidade ou beleza do conhecimento, por isso mesmo, alheios às exterioridades do mundo. Não são "doutores", são magos da ciência, perquirindo sempre algo que possa minorar os sofrimentos do mundo. Contrariamente, os pesquisadores da guerra química, doutos, sim, na arte de matar, pois cada qual com as suas tendências cármicas. No entanto, os próprios descobridores da energia atômica foram os primeiros a lançar o seu protesto junto ao inesquecível Franklin Delano Roosevelt, quando ainda presidente dos Estados Unidos da América, pela aplicação destruidora que se fazia da sua descoberta. Na mesma razão, o saudoso Santos Dumont, com a da aviação, a ponto de ter morrido, digamos, por um choque traumático.

Acabou também o tempo em que os chefes de Estado eram eleitos entre os nobres. Agora exige‑se o de maior capacidade ‑ mesmo que nem sempre os eleitores acertem ‑, por isso mesmo, sem que lhes flua nas veias o menor glóbulo do chamado sangue azul, termo este de que um dia nos ocuparemos, no seu verdadeiro sentido teosófico ou eubiótico, por ser da maior transcendência. Acabou, sim, o tempo em que os sábios eram eleitos entre os "doutores", pois quando um Homem ‑ com maiúscula ‑ demonstra verdadeira capacidade científica ninguém ousa pedir‑lhe seus títulos, chame‑se Pasteur, Metchnikoff ou outro qualquer. Haja vista aquele camponês que curou o presidente Plutarco Calles, do México, depois de ter passado pelas mãos de vários médicos. E ao qual o mesmo presidente ordenou à Saúde Pública que lhe desse "uma autorização para curar", uma espécie de "médico ad hoc", para não dizer, por já ter nascido "douto" na mais sublime de todas as ciências, que é a da arte de curar. Mais uma vez, skandas ou tendências trazidas de vidas anteriores, à parte a descrença de alguns nas leis da Reencarnação e do Carma, que nem por isso deixam de ser respeitadas e seguidas por milhões de pessoas, tanto no Oriente como no Ocidente. É natural, entretanto, que antes de poder demonstrar a sua capacidade científica, tenha que passar por provas bem amargas, de certo modo, justas e convenientes, como meios de seleção, pois essa mesma experiência já demonstrou de modo insofismável a nulidade da seleção operada pelas carreiras universitárias, pois que vultoso número de diplomados não passa de verdadeiras mediocridades.

Os plasmogenistas representam um brilhante exemplo de cooperação internacional e de simbiose científica, à parte o que de transcendental e gigantesco possua a sua doutrina. Muito nos interessa a sua obra, porquanto a Plasmogenia vai à Biogenia, e esta é a preliminar obrigatória de uma Eubiose científica. Ouçamos, pois, a linguagem de alguns deles, a começar pelos franceses irmãos Mary, um dos quais, por infelicidade, foi logo arrebatado deste mundo, quando mais podia esperar‑se de seu vastíssimo preparo científico e de seu espírito apostólico que, por felicidade, impera entre alguns deles na hora presente:

"A mais habitual das críticas que são feitas aos plasmogenistas é a de serem visionários. Com efeito, os plasmogenistas vêem as cousas que os olhos dos biologistas ortodoxos não podem discernir. Para aquele que nasceu cego, o que vê perfeitamente as cousas e as descreve poeticamente, inclusive as harmonias da luz, os encantos das cores, as belezas do firmamento, as águas e as flores, deve ser também um visionário.

 

Os plasmogenistas representam um brilhante exemplo de cooperação internacional e de simbiose científica. A Plasmogenia vai à Biogenia, e esta é a preliminar obrigatória de uma Eubiose científica.

 

E os plasmogenistas encontram‑se em perigo de continuarem visionários enquanto seus adversários, do mesmo modo, continuarem cegos.

A única objeção sensata que se pode fazer às observações e às teorias dos plasmogenistas é que não são infalíveis. Nós adotamos, perfeitamente, semelhante reserva, porem, os detratores da nova ciência estão senhores dessa infalibilidade?

Houve um tempo em que a ciência oficial ensinava que a Terra era plana como uma tábua. E que o Sol girava em seu redor. Vieram outros tempos e essa mesma ciência oficial procura desdizer‑se daquilo que aceitava como bom e real! Por trás da ciência oficial de ontem, que está de pé pela tradição, germinava a ciência de amanhã, que jamais será perfeita nem definitiva, mas que se aproximará um pouco mais desse ideal de relativa verdade, para o que se projetam sem descanso as inteligências, em busca da claridade".

As atuais Biologia e Higiene possuem homens desse "quilate", pois, qualquer que seja a origem das suas idéias, das suas descobertas, impõem respeito tanto a amigos como a inimigos pela simplicidade da sua modéstia, que tanto contrasta com o detestável pedantismo de pseudo‑cientistas, seja qual for o setor em que se apresentem.

Os privilégios pertencem, a bem dizer, a uma civilização fóssil, onde aparece ainda, e por desgraça, o sinete da Santa Inquisição. As fogueiras de outrora foram substituídas pelas intrigas de bastidores e de outras cousas mais. Mesmo assim, os verdadeiros cientistas não temem a falta de liberdade, mesmo que outros métodos, além daqueles, pudessem surgir. É bem verdade que, ao irrés de se queimar os vivos, hoje se teima em não queimar os mortos...

A Química, a História, o estudo minucioso de uma grande quantidade de propriedades físicas, antes apenas notadas, como a viscosidade, a diálise, as das membranas, dos cristalóides e colóides, a pressão osmótica, etc., fazendo vislumbrar os mecanismos das trocas celulares, já permitiram aos plasmogenistas descobrir, sem outro recurso que não a matéria inerte (?), formas que só foram antes conhecidas nos moluscos, nos celenterados e nos vegetais, e não apenas formas, como também desenvolvimentos que imitam os processos funcionais da nutrição e, ainda, da geração dos seres vivos. Em tão maravilhosa ciência, hoje ainda em começo, que muitos dos seus partidários pretendem opor como argumento contrário: todo átomo da matéria é suscetível de desenvolvimentos superiores, sempre que se o coloque em condições favoráveis, precisamente porque a "matéria inerte" de que falamos não existe, senão para a nossa ignorância das coisas que não tinham ainda encontrado a maneira de despertar, em aspectos ostensíveis, essa Vida que é tão inseparável da Matéria, em si, como o próprio Espaço.

 

A Vida é inseparável da Matéria, em si, como o próprio Espaço. A Vida é a energia‑raiz, mulaprakriti, donde emanam em suas várias modalidades todas as energias do Universo.

 

Procure‑se ver se é possível subtrair da matéria o espaço por onde se estende; pois bem, a vida é a energia‑raiz ‑ mulaprakriti ‑, donde emanam em suas várias modalidades todas as energias do Universo; do mesmo modo, as que fazem mover os corpos, as que ondulam no espaço, as que vibram na matéria ‑ viva ‑ e as que dormem ou vibram reconditamente no fundo da inércia, onde irá despertá‑las, ou deixá-­las de lado, a cada vez mais penetrante ciência humana.

Com Lamarck o vitalismo fica eliminado; a vida resulta da organização. Quem, entretanto, produz a organização? Se precisamente a organização é capaz de produzir a vida, porque esta a produziu, ficamos nas mesmas condições daquela pergunta: "foi a galinha ou o ovo que veio em primeiro lugar?".

"A Vida [comenta Leduc, de Nantes, o grande e admirável sábio, e não vacilamos em reconhecê‑lo como tal, embora sustente uma tese contrária à nossa] não é senão um fenômeno físico. Todos os fenômenos vitais são devidos a causas mecânicas, sejam físicas ou químicas, que dependem da organização".

A vida é um fenômeno mecânico... Muito bem! Enquanto os biologistas não encontram na vida senão forças físicas, os físicos vão achando a vida nas últimas expressões da matéria física, chegando a sutilizações: átomos de átomos, alterando já, em homenagem à rotina o sentido do termo, pois átomo quer dizer indivisível, e quando dele se pode retirar elétrons, deixa de ser átomo... To be or not to be. E assim, o espaço vazio e inerte, donde por misteriosa causalidade havia aparecido essa única planetária "mansão" de seres vivos converte-se em espaço vivo, palpitante, todo povoado, não já de imaginários pontos geométricos, mas de elétrons e prótons ‑ eles mesmos com a sua complexidade ‑, ou algo todavia mais sutil, contendo, como energia pura que são, todas as possibilidades criativas, para todos os desenvolvimentos vitais; verdadeiras mônadas ‑ centelhas na chama ‑, verdadeiras almas, embora certas restrições que nos fazem lembrar os versos de George Meredith, que dizem assim: "Les étoíles ne son pás / de loíntaínes étrangéres / dinsensibles puissances. / Du feu quí est'en elles / Nous sommes nés...".Versos esses que já tivemos ocasião de ler num dos mais valiosos livros de ensinamentos da SBE, que só daqui a muitos anos poderão chegar ao conhecimento público, tal a sua transcendência.

E eis aqui, depois daquelas últimas palavras, como os físicos poderiam provar que no Espaço e em todas as suas sidéreas concreções não há outra coisa senão vida; a própria inércia da matéria que chamamos de grosseira, antes de conhecê‑la, é vida interna, é a expressão de forças vibráteis, de equilíbrios dinâmicos que compõem uma verdadeira atividade vital. E o átomo de nossos maiores ‑ ingrediente inerte da composição dos corpos, algo assim como o grão de areia para a argamassa em que toma parte ‑ tornou‑se não apenas um edifício de complicada construção mas uma espécie de cidade povoada cujos habitantes se movem, vivem e trabalham na vida dos organismos ‑ que não são senão a expressão da Vida Universal, pois sem ela, em lugar dessa diferenciação de infinitos elementos que se agitam e evoluem não teríamos senão o Para‑Nirvana dos budistas; e os elétrons, que hoje a vida alimentam, se transformariam em inertes "átomos" geométricos, imóveis.

A Plasmogenia progrediu graças ao concurso de homens de todos os países. Júlio Hlix, fundador do Instituto Internacional, vivia em Bruxelas; Martin Ruckuk, em Petrogrado; o esclarecido Alfonso Herrera, no México, cujo progressista Parlamento, num sublime rasto de humanitarismo, votou 10 mil pesos anuais para secundar as mais luminosas investigações; o mago Estevão Leduc, em Nantes, França; o cultíssimo Victor Delfino, em Buenos Aires; os laboriosos e eruditíssimos irmãos Mary, em Paris, etc. O presente artigo foi escrito há muitos anos e leva, hoje, diversos aumentos e anotações.

 

 Vontade, Razão, Emoção: Poderes que movem o mundo

 

"O ter de extrair da História Geral da Humanidade a história da Eubiose, isto é, do aperfeiçoamento humano, exigiria medir‑se o valor positivo ou negativo de cada fato histórico; exigiria uma síntese filosófica da História, e só um esforço sobre‑humano seria capaz de realizar tal obra. Que arquivo de sabedoria prática seria a História assim compreendida! Que arquivo de utilíssimas lições que cada geração, cada época poderia transplantar à sua própria existência, para evoluir daí em diante. E com isso, livrar-se do círculo vicioso das repetições que fazem despender, ou antes, malbaratar séculos de progresso, tornando quase nulo para cada geração o aproveitamento das experiências passadas!".

A história política da Humanidade, no que diz respeito à evolução do Direito e afirmação da Liberdade, tão torpemente espezinhada pelos governos ditatoriais, refere‑se apenas a um dos aspectos da alma humana: a Vontade. Esta concerne toda a Evolução Eubiótica, enquanto aquela formou o ambiente para a sua mais completa manifestação. A liberdade, palavra que encerra a síntese da concepção eubiótica ‑ mas tão mal compreendida por muita gente ‑, neste sentido não é mais do que a possibilidade de manifestar‑se, para a vontade, sem esmorecimento por parte de condições exógenas.

A Vontade, debaixo do aspecto Atividade, predomina na Indústria, embora que exija o concurso da Arte e da Ciência. Porem, existem mais dois aspectos igualmente elevados de nossa uno‑trina psiquis, lamentando não poder aqui recorrer à Trindade teológica, com o que teria de alongar‑me em estudos profundíssimos, que, à primeira vista, não poderiam ser compreendidos. Direi apenas que "a base das virtudes [segundo Raimundo Lulio] está nessa tri‑una manifestação da Divindade, desde que se coloque no nível de semelhante Vontade a Memória e o Entendimento". Não é isso desconhecer o fundo íntimo da verdade que deve, indubitavelmente, existir nessa antiga classificação, como pálido reflexo de outras mais antigas. Desde os cânticos do poeta Kalidasa ‑ e os principais atributos que, segundo ele, constituem Brahmã, a saber, Poder, Sabedoria e Amor, na razão de Onipotência, Onisciência e Onipresença ‑, creio que estão definitivamente estabelecidos os verdadeiros componentes de nossa alma, pois que o princípio Poder, que o poeta atribui a Brahmã, é em nós a Vontade, a mesma essência de nosso Eu, como ser individualizado ‑ não se deve esquecer que personalidade é uma coisa e individualidade, bem outra; a primeira, persona ou pessoa, "aquilo através do qual o Espírito, como Som ou Vibração Divina, se manifesta"; e individualidade, essa mesma Manifestação Divina, no seu tríplice sentido de Sabedoria, Vontade e Atividade, tal como na Música, harmonia, melodia e ritmo, etc. O princípio divino de Amor se acha em nós no aspecto afetivo ou emocional de nossa alma em três graus: 1° ‑ instintos vitais, 2° ‑ emoções e paixões, 3° ‑ sentimento de unidade com a essência do Universo, base absoluta da fraternidade humana, que a mais pura e diáfana essência da sociabilidade, como sua base fundamental, é a cooperação defensiva, conservadora ou ofensiva, pelo vínculo dos instintos.

Tudo quanto a humanidade já fez exigiu o concurso desses três fundamentais poderes da alma: Vontade, Mente e Emoção. As diferenças que existem entre as varias formas de humana atividade são uma questão de predomínios ou proporções. Nas ciências políticas domina o princípio Vontade, tratando de afirmar‑se como domínio, por uma parte, e liberdade por outra. Todas as lutas políticas da Humanidade, com a palavra, com a pena, com a espada, a maça ancestral ou os modernos aviões e tanques blindados, sem esquecer a bomba atômica, etc., com as cruezas de um Diógenes ou a extrema finura de um diplomata moderno, não conduzem a outro resultado, nem outro motivo possuem. (12)

O predomínio da mente engendrou a Ciência, porem não se julgue que o homem de ciência, nem tão pouco o que se encerra nas investigações experimentais, esteja livre de emoções estéticas. Ao contrário, o sábio torna uma emoção estética até aquilo que para o vulgo não passa de repugnante e odioso. O patologista admira uma úlcera que apresente caracteres bem definidos, que confirma as suas previsões clínicas, com um sorriso beatifico, igual ao dos raros poetas que muito cedo se levantam para contemplar a saída do sol, e talvez até não haja prazer maior para o intelectual do que aquele de geometrizar. Com os olhos semicerrados, em atitude de êxtase, o geômetra, como se fora um Deus, povoa o espaço de criações que não existem e que são muito mais exatas do que as coisas existentes. Ao passo que a Biologia e a própria Física só alcançam, em última análise, as leis aproximadas, o geômetra, se as encontra é, quase sempre, através de leis exatas. Nada há de arbitrário ou caprichoso em tais criações, pois que constata os desenvolvimentos inesperados com o gozo estético mais refinado. Aqueles que encontram um grande prazer em saborear um bom havana, um faisão trunfado, uma maionese de lagosta, uma taça de champanhe, ou em outras coisas que se costuma servir juntamente com aquelas, para os verdadeiros sábios só podem causar desdenhosa compaixão.

Resta o terceiro aspecto da alma humana, aspecto realmente hipostático, o mesmo que os demais, pois, a alma é una, e aqui seriam aplicáveis, embora com maior proveito, todas as teológicas perquirições sobre a Trindade. E se digo "com maior proveito" não por me mostrar desrespeitoso por doutrina alguma, senão para a facilidade das comprovações em teorias sobre assuntos acessíveis de compreensão, enquanto que, no caso dos teólogos, o inacessível do mesmo assunto tornam incompreensíveis as suas especulações, no antropomorfismo aperfeiçoado que atribui ao Absoluto e Incognoscível os atributos de nossa própria alma, assim como tantos outros antropomorfismos mais primitivos inventaram "um Deus à imagem do corpo humano" embora que o seja em essência. Esta tríplice hipóstase nada tem de misteriosa, muito menos de absurda, e não é de louvar a insistência com que os enciclo­pedistas e Meslier fizeram finca‑pé naquilo de que "um é igual a três" repugnava a razão. Todas as religiões desenvolveram uma ciência especial que algum dia virá a ser motivo para uma síntese mais atenciosa como respeitosa. Então se poderá melhor compreender que as religiões se referem ao mais elevado aspecto de nossa natureza emocional, e como o amor, como o instinto, a inteligência, etc., tal aspecto, como devoção, digamos assim, necessita do ambiente evolucional que as religiões lhe proporcionam, para adquirir desenvolvimento, dos quais bem pouco sabemos onde irão parar, mas que, através dos seus altos e baixos, hão de acabar por contribuir para a integração perfeita da alma humana.

O terceiro aspecto, o Emocional, do qual nos ocupamos neste momento, se inicia na assimilação como base de todos os instintos, do mesmo modo que a sensibilidade é a base de todos os sentidos: evolui desenvolvendo os sentimentos e predominando na arte, para culminar no sentimento de unidade, de afinidade do indivíduo pelo Todo, que é o puro e profundo Amor místico de todas as religiões.

 

As nove seções da Eubiose

 

A Eubiose divide‑se em nove seções principais, especializando-se no modo de conseguir o maior desenvolvimento de cada uma delas para que a alma humana receba todo o desenvolvimento de que é capaz, e desse modo possa descobrir outros tantos caminhos para a felicidade, pois é este, enfim, o término de todos os esforços, para não dizer desde logo, a meta final das coisas.

Sofre a Mente, sofre a Vontade, sofre a Emotividade enquanto o objeto que as pode satisfazer em vão é procurado.

Qualquer que seja o princípio necessitante, a realização é sempre felicidade.

A forma principal da Vontade, Energia ou Impulso cego que se manifesta na energia nervosa é em realidade uma pré‑vontade, porque a Vontade, propriamente dita, é o segundo aspecto: a vontade auto‑consciente, que é o núcleo do Eu. E além dessa Vontade propriamente dita, que é o Eu subjetivo ao mundo ‑ pelo duplo caminho da mente e do sentimento ou emotividade ‑ há, entretanto, uma supra‑vontade onde o Eu renuncia ao seu interesse ou à afirmação de si mesmo em virtude de motivos superiores, e que constituem precisamente a base psicológica da Moralidade.

Esta é a condição essencial de uma política, no bom sentido da palavra, isto é, a direção dos homens, pelo fato de se por ao serviço dos seus elevados interesses, com renúncia ou esquecimento de toda e qualquer espécie de egoísmo. Não desejo ocultar que seja este um conceito ideal da verdadeira política que, como outros tantos de valor, se acha, no presente momento da Humanidade, profundamente subvertido, para não dizer anarquizado. Donde já termos apontado a maneira de governar, segundo a adotada por todos os Manus, como chefes ou guias espirituais da Humanidade. Por tudo isso e muito mais ainda, a necessidade da Eubiose.

Este Eu, esta Vontade tem a seu serviço, para se manifestar e agir no externo e também para colher do externo as suas impressões e experiências, dois grandes veículos, que são a Mente e o Sentimento. Paralelamente à tríplice gradação que temos encontrado no domínio da Vontade, há também uma pré‑consciência e uma supraconsciência, tanto para a Mente como para o Sentimento.

 

Sofre a Mente, sofre a Vontade, sofre a Emotividade enquanto o objeto que as pode satisfazer em vão é procurado.

 

A pré-consciência mental compreende o domínio das sensações; a supraconsciência, o das intuições ‑ é o mesmo plano búdico da Teosofia, imediatamente acima do mental ‑, que é a alma do conhecimento filosófico, por sua vez, cúspide banhada na luz, com relação às ciências empíricas, que formam o território onde a mente propriamente dita, ou Inteligência, é senhora soberana. A Consciência emotiva, onde tem seu centro as paixões e as emoções, encontra‑se igualmente precedida por uma pré‑consciência da mesma classe; uma, compreendendo os instintos vitais, por cuja virtude se operam as funções de nutrição, reprodução e defesa; ao passo que a outra inclui os sentimentos de devoção, adoração ao desconhecido e origina o sentimento íntimo da unidade do Ser Real com todos e tudo. O verdadeiro fim da religião é a solidariedade, fundada não apenas na defesa que se deseja para a luta pela vida, solidariedade de uns para assistir ou se sujeitar a outros, mas também na razão da suprema moralidade, que se encerra neste aforismo: "Eu não sou mais do que um dos tantos; cada um dos outros é outro eu", o que, desfeitas as pérfidas insinuações do egoísmo, é uma verdade inconcussa.

Com profundo pesar somos obrigados a tratar de modo sintético de um assunto que daria para escrever uma grande obra, mas, de acordo com a aridez desse assunto, nem todos seriam capazes de fazer a sua leitura, quanto mais de ter uma nítida e perfeita compreensão do seu sentido, ainda um tanto obscuro para certas inteligências. Em todo caso, por mais lacónica que tenha sido esta parte de tão modesto trabalho, que será lido por outras inteligências maiores, basta, cremos nós, por em evidência que a Eubiose não é um amontoado informe de ciências ou de conhecimentos tomados em todas elas, nem tampouco um simples sistema de classificação, mas, sim, uma orientação especial de cada uma delas, com um fim perfeitamente definido, que depende diretamente de nosso sistema psicológico. Cada faculdade predomina em uma ordem especial de atividades, e estas devem ser eubioticamente "encausadas" para assegurar o melhor funcionamento daquelas, seu desenvolvimento e aperfeiçoamento, garantindo, também, como conseqüência do seu legítimo uso científico e racional, uma benéfica reação de felicidade.

 

Alguns exemplos servirão para ilustrar o assunto:

 

O segundo aspecto da Vontade desenvolve‑se e educa‑se pelo trabalho, em todas as suas formas, sempre que sejam eubióticas; requer o concurso, principalmente, do primeiro aspecto ‑ a força cega – e também do primeiro e segundo aspectos mentais, a saber, os sentidos e a inteligência. Porem nem todo trabalho é eubiótico: o que desperdiça as faculdades, em vez de desenvolvê‑las; o que esgota as forças além do reparável; o que não deixa uma sensação de prazer ou de felicidade não é um trabalho eubiótico, mas disbiótico, isto é, contrário à vida, da qual não podemos dispor, como muitos julgam, ao nosso talante, se todos temos uma missão a cumprir na vida, do maior ao menor ‑ donde messe, missão, mas também messias, no sentido puramente eubiótico, ou justamente da "missão" que, por força de Carma lhe coube na vida, alguns até de fazer o mundo sofrer com o seu desaparecimento, já que nos não assistem, em um trabalho tão insignificante, citar coisas que jamais seriam compreendidas, a não ser por aqueles a quem mais apreciaria a leitura de nosso humilde trabalho. Com outras palavras, só pode avaliar a perda de alguém ou de alguma coisa quem estreitamente ao mesmo se ache ligado.

A Instrução refere‑se à Inteligência; e a Educação, à Emotividade. Que grande reforma exigem, entretanto, todos os seus evidentes progressos, tanto a Instrução como a Educação, para o aperfeiçoamento dos seus educandos, a fim de que os mesmos sejam felizes! Uma instrução que cansa, uma educação que oprime não é eubiótica. Ademais, deve-se por a educação em condições de cada um continuar a fazer o seu próprio aperfeiçoamento, mesmo depois de ter abandonado a tutela de seus mestres. De nada vale uma didática que não inclua em seu esforço tornar autodidáticos os educandos ‑ os teósofos são mais que autodidáticos, por serem teodidáticos; que não lhes ensine, também, a que, em sua obra de aperfeiçoamento próprio, não devem perder de vista a felicidade, pois esta, para aquele que não se acha anormalmente excitado ou deprimido, dá a medida justa do que é conveniente e legítimo; e que, reciprocamente, na conquista da felicidade, não esqueçam o melhoramento que sempre fica sacrificado disbioticamente quando se buscam falsas felicidades: a da preguiça, da avareza, do orgulho, da vaidade e, pior, do egoísmo.

O pedagogo que inventou a máxima "Ensinar deleitando" estava inspirado por uma tendência francamente eubiótica, embora de uma Eubiose empírica e, portanto, defeituosa. Esqueceu‑se ele de juntar: deleitando e melhorando o discípulo, pois se tais deleites forem mórbidos, como por exemplo os dos ensinamentos obscenos ou de anedotas e outras coisas mais do mesmo gênero, tão ao gosto e paladar de muita gente, inclusive de idade avançada, e que nada têm de aperfeiçoamento, e sim, de degradação do caráter, faltar‑lhe‑ia, portanto, duas das condições sine qua non que limitam e definem com exatidão um critério eubiótico, que são, como ficou dito, Perfeição e Felicidade.

 

Medicina e Higiene sob o critério eubiótico

 

A Eubiose em Medicina trará uma reforma radical dos métodos terapêuticos, os quais alcançarão um fim mais profundo que a supressão dos sintomas patológicos, antes de se dar como curado um doente. A Medicina Eubiótica deverá ter em conta o estado de infecção latente e suas conseqüências para o indivíduo e a espécie, conseqüências estas que nem sempre são fáceis de seguir e comprovar no domínio dos fatos, porem, cuja investigação será simplificada, uma vez que a lógica, hoje tão rara na prática geral das coisas, tenha apontado o seu "roteiro".

Quando os sintomas visíveis cessarem, quando os modificadores terapêuticos produzirem a ação desejada, apagado o fogo da febre, normalizadas as funções mais grosseiras, ou seja, as conhecidas da Medicina, ao invés de o médico afirmar que o doente está clinicamente curado, guiando-se pela Medicina Eubiótica procurará, entretanto, investigar se o indivíduo está em condições favoráveis ou desfavoráveis para o futuro, e seguirá a linha hipotética, embora, da sua existência, com sábia previsão, até nas células germinais, que, desse corpo desprendida, irão engendrar novos seres, herdeiros de condições propícias ou infaustas, vítimas da lei atroz, que tão odiosa nos parece quando a encontramos nos primitivos legisladores religiosos ‑ ou seja, os Manus a que já nos referimos ‑ e, no entanto, quase sempre inapelável nos domínios da triste realidade: a lei de herança, castigando por muitas gerações os inocentes ‑ à parte a questão do carma patológico que escolhe determinada família para que nela deve encarnar, etc., coisa que a ciência oficial não reconhece e até as religiões ocidentais. Não esquecer que esse mal já provém da queda atlante. E se a Medicina se encontra hoje diante de males incuráveis, se a Higiene, ou Saúde Pública, em suas disposições sanitárias, se torna impotente, mesmo quando ditando medidas bem inspiradas, tal coisa se deve ao fato de, não tendo podido ou sabido agir sobre as causas, efeitos há que se manifestam com irreprimível fatalidade. À força de remendos terapêuticos que viciam os humores ‑ pois que curar não é abusar dos medicamentos ‑, alterando a reativação dos organismos ‑ como podem fazer os antibióticos tão em voga, verdadeiras espadas de dois gumes, sem falar numa cortisona, num ACTH e outros perigosos medicamentos .‑, e isso, mantido, digamos, durante alguns séculos, criamos uma Humanidade artificial, inteiramente deslocada do ambiente cósmico em que nasceu e se fez seu elemento; Humanidade que se firma de pé enquanto não sobrevier uma causa, seja qual for, que ponha à prova a sua fortaleza, pois um simples surto epidêmico é bastante para fazê‑la cair, com tanta facilidade como uma fileira de peças de dominó, quando impulsionado o primeiro. Que dizer de coisas mais sérias?!

Um caso de infecção latente

Caso interessante de infecção latente, o de um cavalheiro que na sua mocidade contraiu uma doença infecciosa, e que depois de ter corrido vários médicos conseguiu jugulá-la ‑ naquele tempo não  havia a sulfa nem a penicilina, etc. Depois de quatorze anos, a conselho de um amigo, e por estar pas­sando mal, recorreu aos meus cui­dados. Devo dizer que ele nem de leve suspeitava que seus atuais so­frimentos se relacionassem com o  mal que o afligira há tantos anos.

 Manifestei‑lhe as minhas teorias sobre infecção latente e a grande  probabilidade que havia da repeti­ção dos antigos sintomas, sob a ação de uma vida natural, que vies­se despertar os meios de defesa.

 

Por felicidade, a moderna Biologia, encaminhada pelas fecundíssimas diretrizes da Plasmogenia, acabou admitindo a criação dos organismos primordiais por "geração ESPONTÂNEA"!

 

O meu cliente ficou um tanto desconcertado, porque seu recente matrimônio lhe fazia temer uma situação um tanto duvidosa, dado o caso que a minha teoria fosse verdadeira. Dei‑lhe a respeito as devidas instruções, encorajando‑o a esperar com paciência os resultados, que seriam infalíveis. Passada apenas uma semana, a antiga infecção havia reaparecido, e foi então obrigado a curare, real e efetivamente, o que não havia acontecido quatorze anos antes. Algo assim como quem esqueceu uma conta atirada no fundo da mala e, finalmente, aparece o velho credor que a vem cobrar. (13)

Um pouco de teoria sobre o caso. Nem todos os banhos que eu receitei, nem o conselho da alimentação frugívora que aconselhei poderiam ser responsáveis pelo fenômeno da volta da doença primitiva ‑ "reinfecção", digamos assim. Por nenhum dos processos postos em prática poderia o doente readquirir os micróbios de seu mal. Inútil dizer, também, que tínhamos plena certeza de o doente não ter concorrido para um novo contágio. Como, pois, explicar a permanência dos micróbios em estado inofensivo durante quatorze anos, isto é, sem destruírem nem serem destruídos? E como explicar, ainda, que justamente ao melhorar seu estado geral se renovasse o "ataque infeccioso", quando, ao contrário, devia se dar o reforço das defesas orgânicas? Não existem, pois, senão dois caminhos a seguir: o ter de renunciar à explicação do fenômeno, que está muito longe de ser o primeiro, ou se sujeitar à antiga teoria dos "humores pecantes", que o organismo tolerou enquanto não teve forças suficientes para expulsá-los, deixando de os tolerar quando readquiriu todas as suas energias perdidas. Em tal caso, os micróbios eram o efeito e não a causa da enfermidade (14). Tais humores desprendidos e conduzidos às suas vias de eliminação, graças à intensificação da vitalidade, deram origem aos micróbios... por uma síntese biológica! E isto se confirma porque, tendo por diversas vezes se sujeitado a exames nesse sentido, todos eles foram negativos. Ademais, era impossível a permanência de tais micróbios em estado latente durante quatorze anos. Em virtude da lei de assimilação funcional, tão maravilhosamente descrita por Le Dantec, teriam eles que devorar ou serem devorados; quando não fossem infeciosos, deveriam ter sido nutritivos. O protoplasma celular com certeza os destruiu. Como explicar, pois, o reaparecimento? Com a antiga teoria microbiana tal fato incontestável teria sido um mistério. Por felicidade, a moderna Biologia, encaminhada pelas fecundíssimas diretrizes da Plasmogenia, acabou admitindo a criação dos organismos primordiais por "geração espontânea"!

Não faz muito, uma afirmação idêntica seria tida como anticientífica, por ser contrária aos dogmas derivados das clássicas experiências de Pasteur. Hoje, não só foram elas obtidas, do mesmo modo que derribadas por completo as fronteiras entre a química orgânica e a inorgânica; criações inteiramente semelhantes a quantas se criam continuamente nos abismos do oceano, mediante simples reações de laboratório; do mesmo modo que células artificias, que, envolvidas em um meio nutritivo apropriado, crescem e se reproduzem por segmentação; senão ainda, quando os já citados irmãos Mary, trabalhando com tuberculina isenta de bacilos, obtiveram em caldo de gelatina verdadeiras culturas de bacilo de Koch, que mal diferem dos da tuberculose humana, sem que essas pequeninas diferenças possam ser contrárias à sua natureza, pois maior não é, por exemplo, a que existe entre o bacilo tuberculoso do gado vacum e o das aves. Tais pesquisas de laboratório, cada biologista pode reproduzir para se convencer por si mesmo, desde que seus autores não fazem disso mistério, quer dos ingredientes empregados, quer dos processos. Tudo isso e muito mais ainda vem confirmar a interpretação que dei a um dos meus casos de "infecção latente". Digo mesmo que há muito maior número de doentes dessa natureza do que se possa imaginar, para não levar o fenômeno para o lado ocultista, onde teríamos muito, muitíssimo que expor. E quando, ainda, teríamos que dizer que todo ser humano infectado já o era, desde tempos imemoriais ‑ mais uma vez em cena a queda da Atlântida ‑, à parte o precioso processo, mais do que eubiótico, empregado pelos deuses que lhe deram a vida.

No caso antes citado, o organismo reconstituiu os micróbios, como os irmãos Mary criaram seus bacilos de Koch, pois, com efeito, os micróbios podem infectar, justamente, por eles mesmos provirem de focos infectados, por isso que "efeito e não causa" da referida infecção.

Quantos enigmas clínicos não serão aclarados à luz dessas novas concepções? Poder‑se‑ia chamar ao fenômeno de "a volta do organismo ao seu estado primitivo", antes dito, ao equilíbrio que lhe era inerente, tal como ao mundo acontecerá quando, por sua vez, for igual aos processos cósmicos da sua criação.

O ignorado mecanismo de certas metástases observados pela medicina popular ‑ inclusive a do câncer ‑ será posto de lado? O futuro o dirá... antes cedo, talvez, do que tarde.

 

Em resumo, o que desejamos provar é o seguinte:

 

Qual é o estado desse organismo onde vive adormecida uma infecção latente? É são ou doentio? Não há existência alguma capaz de deixar de originar conseqüências, sejam elas quais forem. O que não dá origem a coisa alguma é porque não existe. Se a infecção pode manifestar‑se depois de quatorze anos é porque durante todo esse tempo existiu. Se existiu, não é possível que não tivesse dado origem seja ao que fosse; efeito, portanto, para a referida causa. E os efeitos que, indiscutivelmente, originou devem não menos indiscutivelmente ter modificado a atividade vital de algum modo. E como não é possível a qualquer fator mórbido modificar a atividade vital favoravelmente, logo, desfavoravelmente deveria ter sido essa modificação.

Do ponto de vista de sua própria vida e a obra que nela o doente colaborou, do mesmo modo a herança, a resistência, etc., a vida do doente terá sido distinta do que deveria ser se tão antiga infecção tivesse sido de fato curada na sua primeira crise ou manifestação.

 

 

A Higiene eubiótica  evita a doença

 

Suponhamos um relógio que, sendo hoje sacudido algumas vezes, sofre outro pouco amanhã, vai andando mas, com freqüência para, atrasa, por conter um ligeiro "cisco" em sua engrenagem; em vez de manter a sua marcha irregular por meio de tais processos, muito melhor seria limpá‑lo de uma vez, isto é, ter sido feita tal coisa desde que ele começou a apresentar semelhantes irregularidades. Na mesma razão, a maioria dos processos terapêuticos de que lança mão a atual Medicina, processos que ela é a primeira a desconhecer, além da toxidez dos medicamentos, se é que também se pode orgulhar de conhecer o organismo humano. .Que o digam Paracelso, Van Helmont, Agrippa e outros mais.

Uma medicina eubiótica não se limitará jamais á dar alta a um doente pelo fato de ter suprimido as manifestações anormais visíveis, sem se preocupar se algo continuou invisível ou em estado latente para ser destruído, ou antes, devidamente corrigido. A medicina oficial, além do mais, seus processos concorrem ‑ principalmente no que diz respeito à hormo e opoterapia para sérios distúrbios orgânicos. Ninguém ignora que certos animais possuem um suco gástrico capaz de digerir seja o que for ‑ o avestruz, por exemplo ‑, mas ignora que semelhante suco gástrico depositado no estômago humano se degenera, principalmente num doente do aparelho gastrointestinal, sujeito, portanto, a fermentações e putrefações; e mesmo que funcionasse como no do animal donde procede, de modo algum obrigaria o estômago humano a ter a mesma função, depois que deixasse de fazer uso dele. Tal coisa é idêntica a um maquinismo estragado ao qual se quisesse obrigar, por meios ou processos estranhos, artificiais, a ficar novo ou como era antes.

Todo processo que não seja natural demonstra ignorância em matéria de Natureza, seja aquela que nos envolve, ou onde vivemos em seu seio, seja o nosso próprio meio interno. Um cão, um gato, uma lebre, uma cobaia, etc., vivem dentro dessa mesma Natureza, mas a sua jamais poderia ser igual à humana. Falam bem alto os dois reinos a que ambos pertencem: o animal e o hominal, à parte certas objeções que já procedem do início das coisas, mas que seriam destruídos pela marcha evolucional dos seres: o que ficou para trás não mais pode ser igual ao que hoje se processa; muito menos, com o de amanhã. Haja vista a reprodução que no começo ‑ em plena raça lemuriana ‑ teve lugar entre o homem daquela época e certo animal parecido com a lontra, do qual surgiu o que ainda hoje se conhece pelo nome de antropóide, o que, de certo modo, vem contrariar a teoria de Darwin, pois é o símio que descende do homem e não este daquele. Para isso, teríamos que fazer um estudo mais aprofundado, inclusive em matéria de Teosofia, no que diz respeito ao número de "espílulas" de um ser daquela época em relação ao de hoje. Experiências feitas nesse sentido, por exemplo, por certos cientistas russos deram em fracasso.

 Querer, pois, que o estômago funcione melhor pelo fato de estar sendo tratado com o suco gástrico de uma cobaia, ou outro qualquer animal, é o mes­mo que se querer fortificar os músculos obrigando um mico a que faça por nós a ginástica que nos foi prescrita.

Em resumo, uma higiene eubiótica deixará no esquecimento aquela falsíssima teoria de que "o organismo é o terreno e os micróbios, as sementes". Sim, porque o terreno, sendo puramente passivo, não pode realizar esforço algum deliberado para se opor à germinação das sementes, ou seja, as que no mesmo tenham encontrado condições favoráveis ao seu crescimento. Mas todo organismo, toda matéria viva dispõe de maravilhosos processos auto defensivos. E logo porque os micróbios ‑ que não são para o organismo mais do que um dos muitos casos de intoxicação entre tantas intoxicações químicas, fisiológicas e até psíquicas, inclusive as de choques morais, excesso de trabalho, mesmo que de ordem mental, etc. ‑ tão pouco podem ser comparados a sementes, pois isso daria a idéia da enfermidade como um ser, uma entidade externa ‑ com certas restrições que não desejamos comentar ‑, uma espécie de demônio obsessor como aqueles a que se atribuíam a epilepsia ‑ à parte a questão dos devatas, a que nos referimos em anotação anterior ‑, o histerismo, a demência, a dança de São Guido, ou coreia e outras enfermidades, na Idade Média, com o beneplácito dos doutores em Teologia e dos médicos, quando, em realidade, a doença consiste em perturbações funcionais ou em lesões orgânicas, qualquer que seja a sua etiologia, e não tendo existência fôra do organismo, do ponto de vista que se julga, sem que isso signifique a impossibilidade de transmissão ou transplantação, como o demonstra o próprio contágio, quase sempre, mais psíquico do que físico.

O fenômeno do contágio por elementos patogênicos, tirados de um foco infeccioso para um terreno são, ou pelo menos até então isento deles, não é tampouco uma prova concludente de que os micróbios se comportem ou ajam como sementes, mesmo que se tenham produzido infecções experimentais com caldo de cultura isenta de micróbios; desafiamos a qualquer agricultor a obter trigo com seu caldo, sem semear os mesmos grãos. O caldo da cultura diftérica, com micróbios ou sem eles, determina as mesmas lesões.

 

Um organismo suscetível de contágio já está doente

 

Mais parecido com a realidade, o de se comparar a ação dos micróbios com o mofo que se forma em uma parede úmida que ainda não o possuía; porem em troca, de nenhum modo fará aparecer umidade em uma parede seca para onde se os transplantar, pois, ao contrário, seca ficará ela do mesmo modo. E tal comparação ou exemplo tem o mérito de dar uma idéia clara, ao alcance de todos, sobre os fenômenos da "natural imunidade".

Aquele que é capaz de contagiar‑se já é um enfermo; tal como na parede onde surge o mofo pode aparecer, pela umidade, o musgo, a hera, etc., e não são estes que a fazem úmida.

E assim, como toda parede úmida denota um defeito de construção, bastando não se construir tais paredes para evitar a proliferação dos musgos da hera, do mofo, assim também a regeneração da humanidade, do ponto de vista do seu vigor geral e da integridade do seu fisiologismo nutritivo e defensivo, fará desaparecer os micróbios patogênicos ou, pelo menos, não lhes permitirá que sejam de tal natureza.

Do ponto de vista ocultista ou teosófico, basta a modificação dos caracteres, que tanto vale pela moral, para que os mais do que terríveis micróbios do front contrário, ou que germinam à sombra da Lua, sejam de todo destruídos... Honní soít qui mal y pense ("Maldito seja o malicioso" ‑ Henrique IV).

Desse modo, trabalhemos todos para que tal aconteça: médicos, sacerdotes, advogados, engenheiros, sábios de todos os ramos da ciência profana, mas também da divina; e muito especialmente jornalistas e homens de letras; operários também, pobres, humildes, seja quem for, contanto que concorrendo para a eubiótica espiritualidade de todos os seres da Terra!

 

Grandes vultos da Eubiose

 

Ao darmos como terminado este trabalho não poderíamos deixar de prestar homenagens aos grandes vultos da propaganda a favor da Eubiose, como meio de unificação dos homens pelo maior de todos os ideais, que é o da Fraternidade. Filosoficamente falando, chama‑se a isto "viver a vida una". Dentre semelhantes homens figura o dr. J. Carbonell, como autor de vultoso número de obras científicas, filosóficas, artísticas, etc. O dr. J. Carbonell coloca Beethoven acima de todos os compositores musicais. E, tal como o dr. Roso de Luna, de saudosa memória, chama‑o de "Cristo", mas isso no sentido profundo desse termo, que quer dizer Iluminado. Todas as composições musicais de Beethoven servem‑lhe de motivo para interpretações iniciáticas de imenso valor. O mesmo faz com as de Wagner, Bach, etc. Trata‑se, pois, de um grande gênio, ao mesmo tempo que um missionário do Bem na face da Terra.

A seguir, vem o nome do saudoso comandante Astorga que, por ser um abnegado, fez‑se vitima da sua inabalável teoria de que, pelo naturismo, estava imunizado contra todas as doenças, inclusive a tuberculose, que atualmente vem ceifando vultoso número de pessoas no mundo, principalmente em certos lugares, como em São Paulo, Rio, etc., onde o clima, os excessos corporais, os vícios, etc., por que não dizer, o próprio carma patológico da Humanidade, neste "fim de ciclo apodrecido e gasto", se manifesta de modo tão doloroso, mas que foram os próprios homens ‑ por se terem afastado das leis naturais ‑ que para si mesmos arranjaram. Desse modo, o comandante Astorga inoculou no seu preciosíssimo organismo o bacilo de Koch, e dentro de pouco tempo a moléstia se declarava. Nas proximidades de morrer, chamou seus discípulos e maiores amigos para dizer que "tendo errado, só me cabia agora demonstrar que não tinha medo da morte", por isso mesmo desejava tê‑los a seu lado para que aprendessem a mesma coisa, isto é, "a não temerem a morte".

Mais uma vez, dizemos nós, ficava provada a nossa tese das quatro espécies de temperamentos, com todo o seu cortejo de intolerâncias e idiossincrasias, na anarquia ou confusão patológica provocada pela catástrofe atlante, pois, como foi dito noutra parte deste mesmo estudo, concorreu para o desvio da Terra 23° do seu eixo primitivo. Catástrofe idêntica estão os homens, desprecavidos, provocando com as guerras repetidas, e onde são empregados meios de destruição que ao próprio Globo afetam, a ponto de tomarmos parte nos grandes horrores que o mesmo está padecendo. E isto porque "a Terra é um ser vivo", como procura provar na sua obra Os Mistérios do Sexo o Professor Henrique José de Souza, presidente cultural e espiritual da Sociedade Brasileira de Eubiose. E tal não fosse, dizemos nós, não poderia ela alimentar os seres e tudo mais quanto na mesma habitam.

Mas falta apontar ainda dois nomes de grande valor entre os catedráticos da Eubiose em todos os seus magníficos setores. Um deles é o famoso teósofo e cientista espanhol dr. Eduardo Alfonso, em cujos braços morreu o grande gênio de nosso século, o dr. Mário Roso de Luna, como um dos seus maiores amigos.

O dr. Eduardo Alfonso é um grande mestre na Fisioterapia, na Arqueologia e até no que diz respeito à Música, de todas elas possuindo obras importantíssimas, que figuram nas principais livrarias, principalmente na América Latina. A Sociedade Brasileira de Eubiose tem a satisfação de ver seu nome figurando nas suas fileiras como Membro de Honra. Onde quer que o mesmo se encontre não esquece de enviar palavras de amizade e respeito ao presidente da referida instituição, do mesmo modo que a todos os que seguem os seus passos. Muito mais, por saber que Roso de Luna foro arauto da chamada "Missão da Sétima Sub-Raça"; e que tinha seu chefe, também, como "um dos seus maiores amigos nesta parte do Globo". O dr. Eduardo Alfonso, que vive em giros constantes por todo o Continente americano, como fazia Roso de Luna, não faz muito tempo esteve em São Paulo realizando belíssimas conferências sobre todos esses assuntos, sem esquecer a Teosofia, da qual é fervoroso adepto.

Finalmente, o outro é um nome que inclui muitos outros nomes, por suas várias missões na Terra, seja como realizador de curas assombrosas, em Jemeppe Sur Meuse, na Bélgica; outras vezes, como escritor maravilhoso, sobre todos os assuntos imagináveis e inimagináveis, digamos assim. Foi e continua sendo um foco de luz para todos aqueles que quiserem ouvir a sua palavra de amor, sabedoria e justiça, a favor de todos os seres da Terra. De todos os seus nomes, o que serve de síntese à famosa constelação de tão alta individualidade é simplesmente dr. Maurus, que faz lembrar o de Mário, mas também de Moria. E porque não dizer que de semelhante Criatura transcende o embriagante perfume das bibliotecas subterrâneas do Mundo Jina ou de Duat! Honra ao Gênio! Honra ao Intemerato!

Tudo pela Sinarquia. Nada pela Anarquia. Finis.

 

NOTAS

 

(1) O povo hebreu, na sua expressão Man Hu? referia‑se ao mana ou manas sânscrito, como Sabedoria Divina ou Teosofia, Iluminação, Conhecimento Perfeito, etc. A mesma Igreja, que interpreta mal o verdadeiro sentido, no entanto tem ocasião de dizer: "Quod cum vidissent fílii Israel, dísserunt ad invicem: Man hu? quod significat: Quod est hoc? [que vem a ser isto?] ignorabant enin quid esset. Appelavit domus Israel ejus Man" : (tradução??) No Êxodo ‑ c. XVI, v. 31 encontra‑se: "E a casa [povo, família, etc.] de Israel, depois que se alimentou com o Maná [Inteligência, Sabedoria Divina, etc.], chamou‑se Man, equivalente à semente de mostarda ou cilantro branco, e seu sabor é igual ao da flor de farinha e mel" ‑ esse mesmo mel, que é o da ambrosia dos Deuses, o néctar delicioso provindo do Céu ou desses mesmos Deuses. Esse cilantro branco é o mesmo "fruto do pensamento", a que se alude em diversas parábolas de Jesus ‑ Mateus, c. XIII; Marcos, c. IV; Lucas, c. XIII. No dizer dos Upanishades, "assim como o grão de sal desaparece dissolvendo-se na água, que deixa salgada, assim também o Grande Todo [Pensamento Divino ou Mente Cósmica], na plenitude do Conhecimento, desaparece e se funde em todos os seres, deixando como vestígio da sua manifestação a mente concreta", que passa a constituir, em cada um "o cilantro branco", o grão de mostarda, a idéia individual em luta para se tornar coletiva e encher o mundo, tal como faria qualquer semente, livre de manifestar suas propriedades de expansão. Outra não foi a razão de a Sociedade Brasileira de Eubiose escolher por lema o Spes Messis in Semine, pois, como foi dito no texto, tem por significado "A esperança da colheita reside na semente". Nesse caso, a semente da Nova civilização para a qual a mesma trabalha. (N. do autor).

(2) São Lourenço - MG

(3) O grande escritor patrício Aníbal Vaz de Melo teve ocasião de escrever duas magníficas obras intituladas A Era de Aquário e Sinais dos Tempos. Há nelas tópicos bastante interessantes, onde o leitor poderá comparar as idéias do autor às do próprio movimento em que a SBE está empenhada. Desse modo, Aníbal Vaz de Melo é mais do que um escritor, é um grande inspirado. (N. do autor)

(4) No referido número de Dhâranâ a SBE lançou uma mensagem nos três idiomas falados no continente americano: português, espanhol e inglês. (N. do autor)

(5) O doutor Mário Roso de Luna foi um dos maiores escritores de nosso século. Além de teósofo, era químico, astrônomo ‑ como tal, descobriu o cometa que leva seu nome ‑, músico, jurisconsulto de fama, etc. Antes de morrer, pediu a sua família que enviasse "ao seu maior amigo no mundo", residente no Brasil, o professor Henrique José de Souza, presidente social e espiritual do movimento em que a mesma SBE está empenhada, recortes e outros documentos para uma obra maior do que a por ele publicada em El Loto Blanco‑ revista de Barcelona ‑, em 22 capítulos. E a obra veio a lume em 54 capítulos, com ilustrações de imenso valor, através da revista Dhâranâ. A SBE pretende publicar esta obra ‑ em edição correta e aumentada, inclusive com a biografia do seu presidente, sua viagem. à índia e outras coisas mais, segundo a promessa feita pelo professor Henrique José de Souza. Tal obra, escrita pelos dois homens de letras, tem por título O Tibete e a Teacsofia (N. da redação).

(6) A bem dizer, tudo quanto a ciência profana conhece em matéria etnológica está errado, mesmo porque é a primeira a reconhecer que houve uma época em que nenhum estudo concreto pode ser feito a seu respeito. E chama a tal época de Pré‑História. E isto, como será dito em outros lugares, por não mais se fazer uso dos Colégios Iniciáticos, onde eram dados todos os conhecimentos relacionados com a Cosmogênese e a Antropogênese. No entanto, existem bibliotecas em lugares secretos do mundo que tratam do referido assunto, além de outros de maior transcendência; do mesmo modo que autores de grande envergadura, como Helena Blavatsky, Roso de Luna e poucos mais, apresentando aos interessados por semelhantes estudos obras como A Doutrina Secreta, Ísis Sem Véu etc. ‑ da primeira ‑, e toda a coleção intitulada Biblioteca das Maravilhas, do segundo, como "o maior gênio de nosso século". Resta, pois, distinguir o termo teosofista ‑ estudante de Teosofia do de teósofo ou aquele que sabe, que conhece Teosofia. Razão pela qual o teósofo não precisa dizer que é ocultista, e sim este, dizer que é teósofo, sob pena de não ser nem uma cousa nem outra. Mesmo assim, a Teosofia que se conhece, não é, absolutamente, a que nosso Colégio Iniciático está desenvolvendo em 4 séries distintas a quantos se acham afastados nas suas fileiras. Melhor dito, que desejam fazer parte da Semente da Nova Civilização. Teósofos, chama César Cantu na sua História Universal a Paracelso, Van Helmont Deleuze, La Fontaine, De Puysegur, Amônio Sacas e até ao filósofo árabe Asin Palácios.

O dr. Mário Roso de Luna tinha o número "7” em nosso Colégio Iniciático, como uma homenagem a ter sido ele "o Arauto da Missão dos Sete Raios de Luz", ou sétima sub-raça "do ciclo ariano" ‑ vide, além do mais, suas Conferências Teosóficas na América do Sul, nos anos de 1909 e 1910, tendo estado neste último ano na cidade do Rio de Janeiro. Antes de morrer, como quem faz entrega "do seu a seu dono", isto é, ao chefe da Obra em que está empenhada a SBE, pede a sua família que envie ao mesmo os documentos, por acabar, de sua última obra, O Tibete e a Teosofia, pois somente 22 capítulos haviam sido publicados na revista EI Loto Blanco, de Barcelona. Sua família, logo o mesmo abandonou o mundo, fez a referida remessa ao Professor Henrique José de Souza, com a qual ‑ além dos seus próprios recursos intelectuais e congênita clarividência ‑ escreveu mais 32 capítulos, ficando assim tal obra com os 54 capítulos que foram publicados nesta revista ‑ Dhâranâ ‑, com Ilustrações adequadas, pois os 22 primeiros não as possuíam. No entanto, a missão integral da SBE, referindo­-se às duas Américas, onde se inclui a Central, possui o nome mais iniciático de "Missão Y", ou seja, "os dois ramos raciais que finalizam o ciclo ariano". Contrariamente ao que julga a ciência profana, quatro raças antecederam àquela que está em pleno desenvolvimento, ou melhor, no interregno para o ciclo imediato. E como cada raça possui sete sub‑raças, ramos e famílias, no desenrolar dos sete estados de consciência por que tem de evoluir a Mônada até a meta final das coisas, estamos justamente no 5° sub‑ramo da 5a raça ‑ ária ‑, faltando duas raças para o seu término. A seguir virão as duas últimas Raças-Mães, com as respectivas sub raças, ramos, famílias, etc. (N. do autor)

(7) Não vamos nesta simples anotação tratar de um assunto tão complexo, como é o da Medicina, tão estreitamente ligada, em matéria de higiene, ao verdadeiro Naturismo.

Àqueles que, por exemplo, preconizam como alimentação racional para o homem a por eles chamada de "naturalista", ou em harmonia com a Natureza, pedimos licença para os conduzir aos tempos gloriosos da Atlântida, quando em pleno período da Satya‑Yuga, "Idade de Ouro", mas também da "Eterna Primavera"! Este último nome diz tudo: uma única estação, e não quatro, como aconteceu depois da grande catástrofe, que ocorreu para desviar a Terra 23° de seu eixo primitivo. Desse modo, os próprios homens começaram, desde então, a se apresentar sob o aspecto quaternário da própria Terra, no que diz respeito a "temperamento", isto é, surgiram os quatro tipos que até hoje dão o que fazer aos próprios médicos: linfático, bilioso, nervoso e sangüíneo ‑ na escolha de medicamentos e respectivas doses para a complexidade com que, em cada um desses tipos, se apresenta a mesma doença. Razão de se dizer que "existem doentes e não doenças"; e também, ao grande médico francês, mais que experimentado em matéria de intolerâncias e idiossincrasias: "Je víve a batonerle malade et la maladje. Heureux le malade quande je bat la maladie" ("Eu vivo a dar pancadas no doente e na doença. Feliz do doente quando eu acerto na doença"). E razão ainda, senhores "naturalistas" que ignoram o passado evolucional da Humanidade, porque um "linfático" não pode alimentar‑se exclusivamente de vegetais e frutos, do mesmo modo que um sangüíneo, exclusivamente de carne. Muito pior se o primeiro, por exemplo, for filho de pais tuberculosos, ou de acordo com seu "carma patológico", coisa que a ciência oficial nem certas religiões admitem, pois, como disse muito bem o Senhor Gotama Buda, "ninguém nasce numa família ou pátria que não seja a sua"; e quando aconselha aos seus discípulos a maneira de proceder na vida, com estas memoráveis e sapientíssimas palavras: "Luta em primeiro lugar pelos de teu sangue ‑ a família ‑ e da tua raça ‑ a pátria. E guarda os teus sidhis ‑poderes psíquicos adquiridos em cada existência, etc., e não os desperdice, dizemos nós, como querem fazer outros, abandonando as coisas do mental ou da inteligência, que são o apogeu da raça atual ‑ para a vida futura". Como se vê, "Religião, Pátria e Família" já era velho slogan iniciático, porque a religião nesse caso era o próprio Buda, que dava semelhante ensinamento, e não que tal slogan fosse aclamado por uma das muitas "ideologias bastardas" que figuram e continuam ainda figurando "neste fim de ciclo apodrecido e gasto". Voltando aos falsos naturalistas, mesmo que levados pela melhor das intenções, não é pela adoção de um sistema único alimentar que a Humanidade voltará ao que era nos tempos gloriosos da Atlântida. De fato, naquela época os homens, sendo de uma só e mesma natureza, sua alimentação era principalmente a frugívora, acrescida de alguns cereais e de oleaginosos. E quanto à queda da Atlântida, completamente desconhecida dos próprios ocultistas e teósofos, teve lugar justamente "pela confusão estabelecida entre deuses e homens", pois que as próprias escrituras sagradas do Oriente, e a própria Igreja no Ocidente, afirmam que "os anjos se uniram às filhas dos homens", etc. No que a mesma Igreja incorre em erro é que Babel não quer dizer "confusão", e sim, "Porta do Céu". E foi justamente em certo lugar sagrado que possui tal nome onde se deu a revolta. O país possuía sete cidades ou "cantões", cada um deles governado por seu rei ‑ os chamados "Reis de Edom", do Edem ou Paraíso terrestre ‑, havendo um oitavo, dedicado à própria Divindade: "Querer escalar o céu", como diz a Bíblia, é o mesmo que querer invadir o Portal celeste. A bem dizer, essa oitava região continua sendo até hoje a gloriosa Shamballah ‑Shamb‑Allah, ou "mansão dos deuses" ‑, pois que, de se chamar "Ilha imperecível que nenhum cataclismo pode destruir", se torna a Cidade Eterna de nossos Ensinamentos ou Revelações de hoje. "Confusão" ou anarquia, sim, as várias que já se deram no mundo, todas as vezes que a Humanidade se afastou de Dharma ‑ a lei justa ‑, caindo em Adharma ‑ o contrário ‑, como agora mesmo está acontecendo; e, conseqüentemente, sujeitando-se ao castigo cármico, de Carma, "causa e efeito", ação e reação, etc., de acordo com a promessa do próprio Espírito de Verdade, como já foi apontado, através da respectiva transcrição do poema épico O Mahabharata, pela boca de Krishna ao seu discípulo Arjuna. Do mesmo modo que a Atlântida, como um grande continente, foi castigada, assim o foram também pequenas cidades, dentre elas, Sodoma, Gomorra e a própria Cartago. (N. do autor)

(8) No prefacio da valiosa obra do saudoso polígrafo e teósofo espanhol dr. Mário Roso de Luna intitulada Aberraciones Psíquicas del Sexo encontra‑se o seguinte: "O ser humano se acha crucificado no sexo, podemos dizer, desde que nasce até que morre. Semelhante limitação orgânica é a causa principal de suas lutas, de suas desditas da existência. Há no diálogo O Banquete do Amor, diz E. Gomes de Baquero, uma passagem onde se transcreve estranha mitologia, que fez caminho pelo Oriente e ressuscitou no Ocultismo moderno. É aquela em que Aristófanes descreve a Humanidade como tendo tido, outrora, uma forma diferente da que conheciam os gregos. Compunha‑se ela de homens duplos de três classes: uns, varões; outros, fêmeas e outros, misto de varões e de fêmeas: os andróginos. Tais seres, que eram como uma sólida parelha de irmãos siameses, foram fortes e audazes. Conceberam o plano de escalar o céu ‑ donde a Igreja copiou o termo torre de Babel, com o significado errôneo do termo Bab‑El, pois o verdadeiro é `Porta do Céu', portal celeste, etc. ‑ para lutar com os deuses, tal como acontecera, em dias mais remotos ainda, com os Titãs. Júpiter quis castigá‑los, faltando‑lhe, porem, coragem para aniquilar tão soberba classe de seres, além de que isso poderia privar o Olimpo dos sacrifícios que os mesmos lhe prestavam [o termo Júpiter provém de Jove, Jehove ou Jehovah]. Adotou, então, um termo médio: dividiu os homens duplos em duas metades, às quais Apolo ‑ o Sol ‑ deu os necessários retoques, a fim de os tornar mais perfeitos. Foi quando nasceram as atrações do amor, as naturais, e aquelas que o homem natural considera como aberrações, pela nostalgia de cada um pela sua metade perdida ‑ `minha cara‑metade' é termo ainda hoje empregado entre os cônjuges, enquanto os poetas chamam‑na de `alma irmã', etc. Os teósofos modernos citam os andróginos platônicos como reflexo da antiga tradição esotérica de uma raça afastada, como "bissexuada", e de acordo também com certo versículo da Bíblia que diz: `Macho e fêmea o criou' ‑ embora interpretando de modo grosseiro a velha tradição, por não possuir os conhecimentos necessários para um dos fenômenos mais importantes da Antropogênese ‑, dentro da exegese bíblica, como expressão abreviada da criação da primitiva parelha, em a narração em que foram copiadas as duas versões do eloísta e do jeovista. Não realizada, entretanto, a emancipação do crescimento, da vida intra-uterina à puberdade, o sexo alcança plenamente, com esta, seus tirânicos direitos. É o que, acompanhando Freud, o ilustre dr. Maraion, por sua vez, afirma, em suas diferentes obras ‑ Amor, Conveniência e Eugenesia, Estudos Inter‑sexuais na espécie Rumava, Madri, Morata, 1929 ‑, `que a vida começa a cobrar semelhantes direitos muitos anos antes, fixando a idade dos cinco anos como os pródromos da sexualidade". (Vide obra Os Mistérios do Sexo, do presidente da SBE, Professor Henrique J. Souza, capítulo intitulado Comentando Maranon e Freud.)E continua o mesmo autor: "E logo que o sexo começa a impor seu categórico imperativo orgânico, nunca mais o perde. Em resumo, quando o homem está em idade mais avançada ‑ ou em pleno climatério ‑, do mesmo modo que a mulher ‑ no da menopausa, que tanto vale ‑, o sexo descamba de modo estranho para diversas espécies de misticismo, que a ciência atual está bem longe ainda de conhecer. É a `ferida de Anfortas', no Parsifal de Wagner, a chaga terrível, difícil de curar, a eterna propulsora de grandezas e de loucuras, de heroísmos e de crimes, de sonhos, de esperanças e desilusões, da arte, em suma, da História e da Vida!

A crucificação no sexo e pelo sexo não se manifesta apenas no homem. Dela compartilham os animais, se é que em si não representa ela a característica animal de sua complexíssima contextura, à guisa de simbólica flor do loto, com as suas raízes no fundo do lago, seus talos emergindo das águas tranqüilas, suas folhas estendendo-­se, verdes e louçãs, nos ares, e suas flores, alegria de nossa vista, saturando de fragrância todo o seu redor. Nas mesmas condições, segundo o grande Maeterlinck, `a valisnéria, que vivendo no fundo do lago, vem, no momento propício, unir‑se ao macho, que vive na superfície das águas. E dessa `união heróica' surge a futura flor, gerada no seio da primeira, enquanto a outra, desfeita em pétalas, vai ter às margens do lago, cadáver; [fenômeno idêntico ao do zangão, no mundo dos insetos, ou seja, o do vôo nupcial, onde aquele perde a vida em benefício do filho, que vem, no seio da rainha‑mãe de determinada colmeia, para ter, no futuro, a mesma sorte do pai]'. A Idade Média, na noite de sua ignorância, hão foi muito além no problema do sexo, até que apareceu o sábio Lineu, surpreendendo o mundo com a revelação do sexo nas plantas e tendo nas flores ‑ o maior encanto da natureza animada, depois da mulher ‑ um tálamo de amor, o cego amor vegetal! tálamo em que, sob o cálice floral ‑ havia de ser em dores e amarguras! ‑, masculinos estames e femininos pistilos, unem‑se sublimemente no policrômico seio da corola circunvaladora, para dar nascimento à semente, como futuro gérmen de outras plantas análogas, querendo opor‑se, com a sua continuação indefinida sobre a Terra, à destruidora ação da Natureza, realizando, assim, mais uma vez, o conhecido aforismo de que `o amor é maior do que a Morte' e de que Mors Amor, Morte e Amor ‑ como o título genial da maior das obras de D. Juan Valera ‑, são os dois pratos da Balança da Vida, cuja oscilação eterna, que muito possui do fluxo e refluxo das marés, concorre para manter a economia do Universo, vencida pela Espécie, que é o verdadeiro sentido do que pretendiam dizer os velhos textos hindus, através do simbolismo da eterna luta entre Brahma criador Brahma não é propriamente Deus, como vulgarmente se pensa, mas o gérmen, da raiz sânscrita brig, crescer, estender‑se, propagar‑se, etc. ‑.e Shiva, o destruidor, ou antes, o reformador, para as novas ou futuras criações". E mais adiante: "Muito tem ainda a estudar a Ciência a respeito do mistério do sexo em a Natureza, não se limitando apenas a animais e vegetais, além do homem, mas estendendo‑se a tudo quanto nos cerca: minerais, átomos, moléculas, células e astros ‑ os próprios cometas, dizemos ainda, não possuem outro papel na construção dos universos, pois, como se pode verificar, mesmo que a olho nu, atras, por exemplo, dessa 'poeira cósmica' representada pela Via Láctea, que outra coisa não é senão "espermatozoários ejaculados, perdoe-se o termo, pelos referidos 'astros errantes', embora que hoje, palpitantes de vida, estejam passando por outra transformação, independente dos mesmos astros, no estudo do Sexo Universal, a chave mestra dos segredos do Cosmos, porque se o sexo, em si, é imitação, a união dos sexos contrários é propagação indefinida: a finitude da Dualidade vencendo, com a sua reciproca interpenetração, o Infinito; é o 'Pai‑Mãe cósmico' a que se referem as escrituras teosóficas e ocultistas. E isto porque, tanto orgânica como filosoficamente falando, o fenômeno da união sexual não é mais do que a cessão que o elemento chamado masculino faz ao feminino de algo que aquele possui e este carece, razão pela qual a sabedoria da linguagem ‑ a Filologia, uma das chaves mais preciosas do Mistério que nos cerca ‑ ao mesmo fenômeno denominou de `Comércio sexual', idêntico, pois, ao fenômeno comercial, nascido com a Humanidade, em forma de troca ou cessão de algo que se possui e dele se não necessita, por sua abundância, por algo que se não tem e precisa ou deseja; e comum a tudo quanto existe no Universo, constituindo, desse modo, a mesma Essência da Vida, que é precisamente: `vida pelo Sexo'. Destarte, a própria Química não vem a ser outra coisa senão o estado de sexo em moléculas e átomos. Se a Filogenia e a Ontogenia nos ensinam que a vida terrestre nasceu no mar donde a passagem mitológica de Vênus ter nascido da espuma das águas, ou então, a deusa Narayana vagando sobre as águas, em cima de um cubo, etc. ‑, isto é, da água ‑ ou apas, como tattva ou força sutil da natureza, anterior a prithivi, ou matéria, etc. ‑, a Química moderna já comprovou a existência de tal princípio que, na presente obra, não nos é possível cientificamente desenvolver, ou seja: de que todas as reações químicas produzem água ou decompõem água; ou, finalmente, quando esta não se apresenta por falta de algum dos seus componentes, colocam os elementos da reação em condições de produzir água ou decompor a água em uma reação posterior ‑ casos típicos, por exemplo, os do tricloreto e do pentacloreto de fósforo, que se combinam com enorme energia, e, logo que se apresenta a água, a esta decompõem, formando os ácidos fosfóricos e clorídrico. Daí, se a água é a Mãe , e "águas‑mães" ou marinhas ‑ Maria, provém de mare, o mar, as águas, etc. ‑ são chamados os resíduos da cristalização por via úmida, a água é, por sua vez, o filho ‑ como fruto, produto, etc. ‑ em toda reação de ácido com base, para formar um sal ‑união dos resíduos, ligaduras post‑cópula, como se poderia dizer, o que não é estranho, algumas vezes, no reino animal ‑, sendo, além disso, a água o protótipo do `androginismo químico', porque, embora o voltâmetro decomponha a sua molécula em um átomo de oxigênio e dois de hidrogênio, a verdadeira rotura da água nas reações a torna em duas partes: uma, de um átomo de hidrogênio (H'), que age nas reações à guisa de elemento ácido, e outra, de oxidrila (OH‑), que, por sua vez, age como elemento básico, formando‑se, assim, da água, por seu H ‑ hidrogênio ‑, o último, o menos ácido dos ácidos, e por seu OH oxidrílico, a primeira ou a menos alcalina das bases, o que, com seu maior calor específico, é a causa da decisiva importância da água em a Natureza. E tudo isto para demonstrar que o fenômeno sexual, vivendo em tudo e em todos, não é um prazer, mas uma necessidade fisiológica, que o vulgo prefere pagar a bom preço, arruinando a sua vida, física e moral ou psiquicamente, por não querer aceitar o sábio conselho latino do Uti, non abuti, que deve ser aplicado a todas as coisas da vida, donde a indigestão por comer em demasia, a embriaguez por fazer uso exagerado do álcool e assim por diante. Por isso que nenhum outro remédio melhor para as pessoas e mais consentâneo com a própria Natureza do que o matrimonio, ao qual já tivemos ocasião de chamar de 'amor a uma só dimensão', que deve ser a esposa, como companheira escolhida na formação do lar. Assim o exige não só a moral como a razão. Fora de tal preceito, sobrevêm o crime, a doença, a morte. Mais uma vez dizemos: amor e paixão são duas coisas diferentes. O amor é o equilíbrio perfeito entre duas pessoas que se amam, compreendem, etc. A paixão, uma simples maneira de saciar desejos incontidos." E é a razão pela qual o autor que estamos transcrevendo e comentando tem mais estas palavras em Aberraciones Psíquicas del Sexo. "Micróbio moral algum existe que ataque tão diretamente a santidade do Sexo como a má literatura, tão em voga atualmente no mundo ‑ inclusive, nas bancas dos jornais ‑ desde as cruezas de As Mil e Uma Noites árabes ‑ não, As Mil e Uma Noites primitivas, ário-hindus, hoje perdidas, e de cuja grandeza só podemos ter conhecimento através das traduções cruentas feitas para o francês pelo dr. Madrus, e para o castelhano, pelo nosso Blasco Ibanez ‑ até a obra do abade Villars, que vamos comentar através de toda essa literatura medieval conhecida com o nome genérico de `literatura picaresca', e hoje continuada, com lamentabilíssimo êxito, por escritores colocados nas primeiras filas; por isso mesmo, procurando semear, com as pétalas de rosas do seu primoroso estilo, a esterqueira da mísera realidade que deveria ficar em silêncio, em honra da própria Verdade, já que elas, por sua vez, representam uma verdade animal, e não `humana verdade'. E isso, no sentido do sublime ideal literário, que, voando a imensas alturas, não pudesse alcançá‑las, justamente por sua própria elevação, já que a verdadeira Arte deve ser encontrada sempre muito acima da realidade, melhor dito, dos crus realismos, que não são mais do que uma parte mínima e inferior daquela Realidade, tal como para a Terra se acham os próprios sóis do firmamento". As questões do Sexo principalmente quando dele se faz uso contrário às leis da Natureza, quando do mesmo se abusa, em detrimento da saúde do corpo, da alma e do espírito ‑ foi sempre a maior de todas as causas para o castigo de um povo, de uma civilização, de um país inteiro. Da mesma Sodoma surgiu o bem conhecido termo sodomia, que se emprega para certa perversão do sexo. Que dizer das péssimas leituras, sejam de livros ou de revistas, que nas próprias bancas de jornais existem, sem que as autoridades competentes levem em consideração um dos fatos mais degradantes para a própria Raça, a começar pelos jovens que se comprazem com semelhante leituras, se não bastassem as de gangsteres, ao lado das de "heróis de fancaria", que tanto vêm concorrendo para a modificação do caráter de nossos filhos. Basta ver como a nossa infância se comporta em casa ou na rua, sempre esgrimindo uma arma de ferro ou de matéria plástica, ou em lutas corporais, donde muitas vezes algumas delas saem feridas. (N. do autor)

(9) À página 127 de O Verdadeiro Caminho da Iniciação, do Professor Henrique J. Souza, encontra‑se esta valiosa passagem, quando o mesmo fala dos sinais certos da queda da civilização: "Quanto ao crime, esse outro indício certo da mesma decadência, é dele responsável a própria sociedade, não lhe cabendo, por isso, o direito de reclamar contra aquilo que tanto rebaixa o seu prestígio". Já dizia o Visconde de Bonald: "Esperar o delito para o punir, quando é fácil corrigi‑lo, é uma barbárie inútil, um crime de lesa‑humanidade que desonra um código e um governo". "Inconscientemente ou não, os favorecidos excitam os apetites das classes inferiores, e não será arrojando, aqui e ali, um porta-moedas mais ou menos recheado, que se conseguirá acalmar a sede de ouro entre os deserdados. O exemplo tem que vir de cima, se é que se deseja por termo aos sentimentos de inveja, que explodem em forma de roubo, assassínio ou anarquia. Quando um povo colocar a instrução acima do dinheiro; quando todas as honras forem para o homem instruído, para o sábio, para o benfeitor, aí, então, o pobre, atraído pelas radiações de semelhante ideal, imitará o exemplo que lhe dão, porque o povo é um grande imitador e segue sempre o caminho que lhe traçam os que vão à sua frente. Se naquele que o conduz apenas encontra o vício, a este será conduzido; se ao contrário, for a virtude que ali domina, para esta se voltará, do mesmo modo." Quase em toda parte do mundo, já o dissemos alhures, o indivíduo que comete uma falta é condenado a uma pena já por si difamante, sem que o juiz que a aplica leve em conta os recursos morais e intelectuais que acaso possua o delinqüente. Só a uma coisa se atende: à Culpabilidade. Daí se deduz que não se procura educar o criminoso, no sentido de uma conduta mais humana. Todo o esforço é exercido sobre o castigo, sem que ninguém pareça suspeitar que castigar não é educar. O fato de castigar pode fazer parte de um sistema educativo; porem, por si só, não pode ser fecundo em resultados. Acontece, com efeito, que o criminoso não, renuncia, de modo algum, a cometer novos crimes, quando se lhe der a liberdade. O que ele faz é acautelar­-se, de modo a evitar novo castigo. Ensinam‑lhe, unicamente, a agir com cautela. Em resumo, a segurança pública depende do nível moral da sociedade.

Por conseguinte, o criminoso não deve ser castigado, mas educado e vigiado, até que a sua mentalidade o obrigue a seguir a linha reta. (N. do autor)

(10) Fazem parte do livro do Professor Henrique J. Souza O Verdadeiro Caminho da Iniciação, várias vezes citado neste estudo, as seguintes palavras: "Reconstruir! É o brado que nos compete! Sim, reconstruir o homem, o pensamento, a moral, os costumes; reconstruir o lar, a escola, o caráter, para que o cérebro se transmude". Quem melhor, portanto, poderá colaborar conosco, senão essa mesma imprensa que, fatalmente, terá que ser eubioticamente "transmudada"? Essa mesma imprensa, ainda, sempre presente àquelas famosas sessões públicas dos domingos em Niterói, sejam: O Estado, O Fluminense, Diário do Estado, no Rio: A Vanguarda, O Globo, O Brasil, que, por ter desaparecido bruscamente do cenário jornalístico, faz‑se comparável a um cometa, que aparece e desaparece, deixando apenas no espaço sideral uma espécie de `lembrete cósmico', mais que significativo, por seu papel `fecundador de universos', o que, no caso daquele querido jornal, é representado por seus valiosos esforços a favor de nosso povo, a favor do próprio Brasil, cujo nome ele tanto sabia honrar. Finalmente, diversos outros que, ao lado dos primeiros, traziam colunas inteiras descrevendo aquelas mesmas `sessões memoráveis de Dhâranâ', como primeiro nome que, por força de Lei, coube à nossa Instituição, para, depois da sua autonomia material e espiritual, receber o verdadeiro que lhe competia, ou seja, o de Sociedade Teosófica Brasileira." (E desde 1969, o de Sociedade Brasileira de Eubiose ‑ N. da redação, fevereiro de 1999).

Pelo que sabemos, um grande e valioso movimento se processa entre os mais ilustres jornalistas de nosso país, principalmente na capital bandeirante ‑ como se o sangue dos grandes descobridores de nossos sertões de novo entrasse em efervescência, apontando os novos rumos a seguir, para que, "de direito e de fato", o Brasil se torne o "santuário da iniciação moral e intelectual do gênero humano, a caminho da sociedade futura". Sim, "Brasil, terra do Fogo Sagrado".

(11) Nos Colégios Iniciáticos do antigo Egito, como nos da Grécia, etc., o neófito tinha que cursar três anos em cada um dos "Sete Portais", perfazendo 21 anos, para dali sair um Iniciado, ou antes, Iluminado. O mesmo Jesus, dos 13 aos 30 anos, desaparece por completo, como se deduz do Novo Testamento. Para Jesus, como se vê, foram exigidos apenas 17 anos. E aperfeiçoava‑se num Colégio dessa mesma natureza, existente no monte Moria, ou dos Essênios, estes com o nome também de Nazareus, por adotarem a seita de Nazar. Seus adeptos traziam os cabelos à altura dos ombros, donde, até hoje: "cabelos a nazareno". Muitos dos faraós do Egito, principalmente o famoso Amenófis IV ‑ ou Kunaton ‑, como reis e deuses, ao mesmo tempo, cursaram semelhantes colégios. Daí serem grandes administradores, grandes intelectuais, portadores de todos os conhecimentos, ao mesmo tempo que guerreiros. A própria História aponta a guerra religiosa de Kunaton ‑ 1370 a.C. ‑, pelo fato da maioria dos sacerdotes, em companhia de generais do seu exército, quererem adotar nova forma de governo. Como é sabido, foi ele que, tendo destronado o deus Amon‑Ra, substitui‑o por Aton ‑ o disco solar ‑, ao qual dedicou versos iniciáticos de raríssimo valor. O mesmo termo Kunaton quer dizer: `O amado de seu Pai Aton', isto é, o Sol espiritual. Pelo que se vê, em tais Colégios já se ensinava a verdadeira Eubiose, mas, como se diz no texto, a mesma deixou de ser praticada no mundo profano.

(12) Nos Versos de Ouro de Pitágoras encontra‑se a seguinte estrofe: "O número três reina por toda parte / E a Mônada é o seu princípio". De fato, a Mônada é a síntese da própria evolução humana, pois representa a Consciência em cada homem ‑ Atmã, Budhi e Manas. E esta, por sua vez, o valor em latência da própria Divindade. A Igreja reconhece na mesma uma tríplice Manifestação, como Pai, Filho e Espírito Santo ‑ que equivale também à Mãe. Da mesma maneira, pois, que "Deus fez o Homem à sua semelhança", este não tem apenas corpo e alma, como querem algumas religiões, contrariando a sua teologia, e sim, três corpos: o físico, a alma e o espírito. Plutarco já afirmava que "enquanto o Homem vive na Terra, seu corpo a ela se acha ligado; a alma, à Lua, e o espírito, ao Sol". Nenhuma filosofia mais completa do que esta. As escrituras orientais falam nas três gurias ou qualidades de matéria: sattva, rajas e tamas. E suas cores, das quais aquelas escrituras não falam, são as mesmas três cores matrizes, das quais as outras quatro se derivam: amarelo, azul e vermelho. Alegoricamente falando, temos aí os três princípios superiores, a própria Mônada, e quatro inferiores; estes, como as quatro patas do Cavalo Branco, ou Kalki-Avatara, cavalgado pelo guerreiro Akdorge, de cujo simbolismo, por sua vez, nasceu a lenda de São Jorge. Na mitologia grega, Perseu salva Andrômeda, na porta do seu palácio, no momento em que ia ser devorada pelo monstro, isto é, o Dragão Infernal, colocado justamente por baixo das referidas quatro patas do "cavalo branco". Cabalisticamente falando, tal mistério se expressa do seguinte modo: Vemos aí o Carro ‑ Arcano VII, ou 3 mais 4 ‑, que também chamamos de Mercabah. Note‑se que semelhante figura equivale ainda à Morada do homem, ou o frontispício da casa (4), com o telhado de duas águas, com cuja base, equivalendo a 3, forma o número 7. E tudo isso corroborando com a forma trina de governo, a que se refere o texto deste estudo, nesse caso, um triunvirato composto por: um civil ‑ coluna central ‑ e dois militares. E isto, já se vê, até o dia em que os homens não mais pensarem em guerras, pois ninguém pode admitir que Deus, como Criador, tivesse criado um mundo e os seres que nele habitam para os destruir logo em seguida. Acontece, porém que o exemplo em sentido contrário devia ser persistentemente mantido ‑ haja vista todos os Iluminados que a este mundo tem vindo não pregarem senão as doutrinas de Amor e Inteligência pelas religiões, os filósofos, os homens de letras, todos quanto, a bem dizer, segundo a própria evolução humana, se encontram à vanguarda dos demais. E não benzendo‑se exércitos, espadas e outras coisas mais, em contradição palmar ao que foi pregado pelo próprio Cristo e demais Iluminados. Quanto à escolha dos nomes para o referido triunvirato, jamais deveria ser através de partidos políticos, cada qual escolhendo seus "interessados", nunca, absolutamente, os da vontade do povo, do que resultam revoltas tremendas, com os consecutivos crimes de morte, de invasão de lares e outros desmandos que ninguém pode contestar que não sejam o lastro pernicioso de um "fim de ciclo apodrecido e gasto", além de muitos outros que avassalam o mundo. Daí, também, as ideologias bastardas, pois nenhuma delas resolve o magno problema da felicidade humana, muito menos as de índole puramente materialista. A Sociedade Brasileira de Eubiose, no seu glorioso afã a favor de uma Era Nova, portadora de felicidade para o Mundo, foi a primeira ou única que lançou ao mundo o seguinte slogan:

"Um só idioma. Um só padrão monetário. Uma Frente única Espiritualista". Utopia, dirão muitos. Utopia, sim, como foram outras, inclusive as da aviação, do pára‑raios e de tudo mais quanto faz parte das ciências, mas também, no campo social e político, as reformas de que falam a própria História. Assim também pensava o "santo Papa", que nós mesmos o consideramos como tal, ou seja Pio X, Lourenço Sarto, que na Conflagração de 1914 lançou uma encíclica aos chefes de todas as religiões e facções do neo‑espiritualismo para que implorassem ao "Deus único de todas elas que fizesse cessar a guerra". E isto depois de ter apelado para os próprios contendores. O fato de seu apelo não ter sido atendido fê‑lo lançar, numa espécie de protesto digno do chefe da Igreja Romana, nova encíclica dizendo que, em vista do mesmo não ter sido atendido, ele, como se fora o próprio Cristo, com seus apóstolos, os cardeais, iriam imediatamente para o front a fim de morrerem pelos homens. E, trágica coincidência, o mesmo morria um dia depois, ninguém sabe como. Um traumatismo moral... talvez. Com este, sim, que se poderia dizer: "Que santo perdeu o mundo!". A revista Dhâranâ, em seu número 110, teve ocasião de lhe prestar as merecidíssimas homenagens, além de ilustrá‑la com a sua veneranda figura. O mai or mistério que envolve a evolução humana está no seu Governo Oculto, que  bem poucos o  conhecem. E a  maioria, agora mesmo, com as nossas palavras. irá negá‑lo.

Mas isso, para quem  está investido de  falar a respeito,  não tem importância alguma semelhante crítica. O mesmo presidente cultural e espiritual da SBE já o fez de modo ostensivo, seja através da supracitada revista, seja em artigos e livros seus, com palavras mais que suasórias. Dentre elas, comentando a obra de Renê Guénon, O Rei do Mundo, com justa razão reputada como uma das mais importantes a respeito. Ele mesmo, Renê Guénon, nessa sua obra comenta outros dos ilustres escritores, ou seja, Saint‑Yves d'Alveydre e Ferdinand Ossendowski ‑ a obra deste último, Bétes, Hommes et Dieux foi publicada em diversas línguas, inclusive na portuguesa ‑, que falam de Agartha, etc. E é assim que semelhante Governo Oculto do Mundo, possuindo em mão os dois Poderes, o Temporal e o Espiritual ‑ "Dai a César o que é de César. E a Deus o que é de Deus", disse o mesmo Jesus, numa dupla interpretação, que só agora apontamos a segunda, ou seja, em referência ao referido Governo ‑, compõe‑se de um Ternário, como se fora a própria Manifestação perene da Divindade no Sanctum Sanctorum da Mãe Terra, Mater‑Rhea, matéria, etc. Isto é, Espírito e Matéria, através do iniciático e precioso símbolo (Estrela de Salomão). O mesmo Jesus é crucificado entre dois ladrões como se fossem suas próprias Colunas. As "Colunas do Templo de Salomão", até hoje adotadas pela Maçonaria, ou Jakim e Bohaz. Nas escrituras vedantinas, os dois caminhos laterais: Jnana, o conhecimento, e Bhakti, amor, devoção, etc., para Carma, o do meio ou central, que é aquele por onde caminha a Humanidade, razão de por esta ter morrido o mesmo Jesus. Não se deve esquecer que Jesus nasceu em Belém, para morrer em Jerusalém. Sempre as mesmas duas iniciais! E quem o batiza, no Rio Jordão, chamava‑se João Batista. A Maçonaria de hoje está longe de saber que o rito Adonhiramita, dedicado a João Batista, oculta grandes Mistérios, que não podem ser ditos de público ‑ vide Ocultismo e Teosofia, de H. J. Souza. E quanto à degolação de João Batista, basta apontar os nomes: João, Herodes ‑ e Herodiades ‑ e Salomé, para transparecerem as 3 iniciais: JHS. Teríamos muito, muitíssimo para dizer e provar sobre a existência do referido Governo. Diremos apenas ‑ respondendo a qualquer pergunta que nos quisessem fazer, principalmente, "a razão pela qual o referido governo não intervém nas coisas do mundo, inclusive, nas guerras, nos governos, etc." ‑ que se assim fôra, a própria evolução não se daria. Seria o mesmo que, "dar doces e brinquedos às crianças para cumprirem os seus deveres escolares". O mesmo Jesus já ensinava: "Faze por ti que Eu te ajudarei". E não, pagar a outros para que façam por ti. Acontece que os maus governos sofrem com a sua desídia pelo papel que lhe coube perante o povo, perante a nação. E aos bons, o prêmio das virtudes, do seu interesse por esse mesmo povo ou nação que lhes incumbe velar e defender. Haja vista "as sete espigas cheias e as sete vazias; e as sete vacas gordas e as sete vacas magras" do sonho do faraó, decifrado por José do Egito, pois em tal sonho há um bom exemplo para todos os governos que não se limitam a "fazer política", a pensar, desde que entram, no seu substituto; e sim, precavidos se tornam contra os tempos de miséria que podem assolar o país que governam; e nos de fartura, são inteligentes, dinâmicos, amigos de seu povo, enfim, uma espécie de pai ou de Manu à frente de sua "família". Enfim, falar de semelhante Governo Oculto é falar de Agartha e Shamballah, pois que o próprio Renê Guénon afirma naquela sua supracitada obra "que Agartha já esteve na face da Terra" ‑ certa região da Atlântida. Mas o que ele não sabia é que a mesma, tanto outrora como hoje... se compõe de sete cantões, ou cidades, cada uma delas governada por seu Rei ‑ os sete reis de Edom ou Edem, do Paraíso Terrestre, etc. Do mesmo modo que não cita Shamballah, que muitos confundem com Agartha. E já dissemos que significa: Mansão ou Vale de Deus, de preferência, "dos Deuses". O Wahallah, das lendas escandinavas, também exprime a mesma coisa: "Vale ou Mansão dos Deuses". E como a Verdade paira no ar para os intuídos dela se servirem, aí temos o filme Horizonte Perdido, baseado no romance homônimo de James Hilton, onde há uma região privilegiada com o nome de Shangrilá". E é assim que, ao finalizarmos um ciclo de evolução para a Humanidade, o referido Governo se manifesta, pouco importa de que maneira, mas obediente, entretanto, àquela "promessa", já por nós apontada neste mesmo estudo, feita pelo Bhagavad‑Shri Krishna ao seu discípulo Arjuna: "Todas as vezes, ó filho de Bharata! que Dharma [a lei justa] declina, e Adharma [o contrário, como está acontecendo agora] se levanta, Eu me manifesto para salvação dos bons e destruição dos maus. Para restabelecimento da Lei, Eu nasço em cada Yuga" ‑ ciclo, idade, etc. O mesmo é dizer: um avatara da própria Divindade, como Filho, etc., na Terra se manifesta, o que não deixa de ser um Julgamento Cíclico, e não final, como pensam muitos. Temos um exemplo dessa nossa proposição em matéria governamental no rei Felipe 11, conforme se poderá verificar na obra do grande cientista e teósofo espanhol dr. Mário Roso de Luna, intitulada De Sevilha a lucatã ‑ Uma Viagem Ocultista através da Atlântida de Platão, quando o mesmo, se referindo àquele misterioso rei de Castela, tem estas palavras: "Felipe 11, que o vulgo cognominou de `anjo do meio‑dia', por desconhecer o seu papel secreto no mundo, firma o seu régio poder através de equilibrante e valioso Triunvirato: Ele próprio, como poder Executivo; Arias Montano, coluna da esquerda, como poder Legislativo, e o duque D’Alba, coluna direita, como poder Judiciário". Arias Montano, por sua inteligência comparável, por exemplo, a um Pico de la Mirandola, era, ainda, a coluna da Inteligência ‑ ou Jnana, como um dos três caminhos da Vedanta ‑, enquanto o duque D'Alba, a coluna da Justiça ‑ por sua vez, o caminho de Bhakti, ou Justiça, Amor, Devoção, embora que aparentemente contraditório para aquele que o vulgo, por sua vez, cognominou de sanguinário. Em verdade, nada mais difícil do que julgar os homens, principalmente os que vêm investidos de certos poderes, ou antes, missões. Em verdade existe um quarto Poder, mas este, por ser mais do que secreto, digamos assim, é aquele que dirige ou governa à distância por que não dizer? ‑ , da Agartha. Donde ser também chamado de Governo Oculto do Mundo, como já o apontamos anteriormente. Esse poder, que também é formado por três seres, poderia ser chamado de Moderador ou Equilibrante. No tempo do Império, D. Pedro 11, por exemplo, fazia esse papel de moderador, talvez que com maior propriedade do que muitos outros reis terrenos. Era um monarca, um imperador por excelência. Este último termo foi empregado pela verdadeira Rosacruz para aquele que a dirigia; Rei ou Imperador do Mundo é aquele que dirige da Agartha. A bem dizer, essa tradição já provinha dos tempos dos "reis divinos". Os faraós, por exemplo, eram considerados deuses. Daí o poder de curar que muitos reis tinham, principalmente na Inglaterra. Diz‑se que "o rei Jorge V tinha o dom de curar o câncer com a simples imposição das mãos". Quanto ao magnânimo, justiceiro e sábio ‑ filósofo, por excelência ‑ Pedro II, bastavam-lhe esses três "títulos" para provar a sua nobilíssima hierarquia, pois que em si mesmo possuía os três referidos poderes, embora que sabendo escolher quem a seu lado os representasse, nas figuras dignas e ilustres daqueles que o cercavam. Que diferença, entretanto, daqueles abençoados tempos de outrora para os duvidosos de hoje, com as minguadas exceções de um "fim de ciclo apodrecido e gasto". E o fato de elogiarmos um rei não é motivo para que se nos tome como monarquista. Muito mais, defendemos a idéia‑mater do ciclo, que é a Eubiose, empregada em todos os setores da vida, inclusive numa democracia, desde que esta fosse a verdadeira. Nunca houve um rei ou imperador mais democrata do que Pedro II. (N. do autor).

(13) Na Homeopatia, como medicina mais próxima da que se poderia chamar de racional, tais casos são facilmente resolvidos, pois, para fazer voltar uma doença ao seu estado primitivo não faltam remédios apropriados. Para o caso, por exemplo, citado neste estudo, bastava uma dose de Medorrhínum 200, 5 gotas para 15 gramas de água destilada, tomado de uma só vez, em jejum.

Medorrhinum é o agente blenorrágico dinamizado. De um caso grave sabemos nós, ou seja, de um doente que ficou paralítico de um braço e que havia tido, quando jovem, diversas infecções dessa natureza; após o médico, mais que experimentado, ter lhe receitado a fórmula antes recomendada, logo se manifestou um abscesso que entrou em estado supurativo graças a algumas doses de Sílicea 30, como complemento do primeiro medicamento. Com isso, o doente, além de se ver livre daquela paralisia, digamos, fictícia ‑ por ser provocada pelo mal que persistia em estado latente no organismo ‑, ficou radicalmente curado da velha doença e de outros sintomas, a bem dizer, subjetivos. A respeito da Silicea também sabemos de um caso dos mais interessantes: certo amigo nosso, falecido em 1948, em idade avançada, quando jovem e aluno da Escola Militar, foi baleado nos quadris num levante em que o mesmo defendia briosamente, com outros companheiros, o governo federal. Extraída a bala, dentro de poucos dias obteve alta do hospital. Quando o conhecemos, claudicava de uma perna, para, finalmente, sentir uma dor na mesma região onde em jovem fora baleado. Demos‑lhe a tomar Sílicea da 30. Depois de alguns dias, formou‑se um abscesso, que logo veio a furo e um corpo estranho foi retirado com uma pinça, na flor da pele. Era uma esquirola, ou lasca de osso, que permanecera durante todo esse tempo ‑ mais de meio século ‑ no lugar donde a bala fora extraída. Desde então, todos os seus sofrimentos desapareceram. Veio a falecer de uma broncopneumonia, por ter abusado da umidade numa idade em que todo e qualquer abuso pode ser fatal, isto é, passou horas inteiras cuidando da sua chácara, num dia chuvoso. O fato é que enquanto a alopatia vê em certos sintomas "simples manifestações nervosas", a homeopatia vai mais longe, embora que desconhecendo, como a primeira, as questões do corpo astral, que, diga‑se de passagem, não deixam de atingir o sistema nervoso. E é assim, por exemplo, que o caráter do doente é levado em altíssima consideração. Hoje a Psicossomática também pensa desse modo, embora que muito longe ainda de conhecer a fundo os mistérios dos métodos antigos. Uma senhora "de porte de rainha", por exemplo, cabeça em posição de altivez, etc., ao dar entrada no consultório do médico, logo este vai anotando a Platina como seu remédio de fundo, ficando os demais de acordo com os sintomas pela mesma revelados. Na mesma razão, o doente que não pára de mover os pés, quando sentado, o mesmo faz o médico experimentado: anota Zincum metalicum como seu remédio preferido. Os demais, como no caso anterior, correm por conta dos sintomas pelo próprio doente revelados. E assim por diante. Paracelso, já em seu tempo, como verdadeiro criador do "Similia similibus curantur", de quem Hahnemann foi buscar a sapientíssima sentença, já dizia: "Estudar anatomia e fisiologia num cadáver é o mesmo que querer perscrutar as pulsações cardíacas numa estátua de mármore". Até hoje ninguém soube decifrar a razão de semelhantes palavras, que é a seguinte: se no duplo‑etérico do homem ‑ coisa ainda não conhecida pela medicina oficial ‑ se acham os centros de força, ou vitais, como verificar‑se tal coisa num corpo sem vida? Não falemos dos tattvas, como "forças sutis da Natureza". O carma, entretanto, da Humanidade não lhe permitiu até hoje a medicina racional, que muitos atribuem ao sistema Naturalista. Seria uma contradição palmar com as leis da evolução, que ainda colocam o Homem muito distante do seu final. E assim, embora que a Homeopatia tenha recursos maiores do que a Alopatia e outras mais medicinas, todos os seus verdadeiros sacerdotes lutam denodadamente para restabelecer a saúde aos seus doentes. Nesse sentido, seria impossível citar os nomes de quantos no mundo inteiro deixaram um rastro luminoso após a sua passagem. Isto, no tempo em que se procurava debelar a pneumonia, como exemplo, inclusive a dupla, com uma poção de benzoato de sódio, ipeca, kermes mineral, xarope de canela, etc., auxiliada por sinapismos, ventosas e outras coisas mais. É, pois, esta uma homenagem que prestamos, ao menos em nosso país, aos ilustres baianos daquele tempo, com os nomes de Silva Lima, Chastenet, Paterson, Nina Rodrigues, Alfredo Brito, Aurélio Viana, do mesmo modo que um Francisco Cardoso, Júlio Adolfo, Júlio David e outros muitos; e no Rio, a um Barbosa Romeu, famoso cardiologista, com mais de 50 anos de clínica hospitalar, do mesmo modo que um Sílvio Moniz, todos eles verdadeiras glórias da medicina nacional. Hoje, porém, os remédios são outros, ou relativamente mais fáceis do que os de outrora. E isto porque quem formula não é mais o médico e sim os laboratórios de produtos químicos, tais como a penicilina, a aureomicina, a cloromicetina e demais antibióticos, verdadeiras "espadas de dois gumes". Não falemos nos inseticidas, causadores de alergias tremendas, que jamais acabam com os insetos, mas aumentam a riqueza dos "nababos do petróleo". Citam‑se inúmeros casos de trombose provocados pela penicilina, além do mais comum e relativamente fácil de debelar, que é a urticária, etc. Quanto à cloromicetina, com a qual se pode debelar hoje, em poucos dias, o tifo e o paratifo, tem provocado uma série de distúrbios tão grandes que da própria América do Norte têm sido feitos ultimamente sérios avisos neste sentido. Muitas pessoas ignoram que, nesse mesmo país, tão estreitamente ligado aos nossos destinos, tanto espirituais como materiais, existem diversas companhias de seguros que não aceitam segurados que façam uso da alopatia. E semelhante exigência evita outros comentários. (N. do autor)

(14) Acrescentamos nesta anotação uma teoria que, embora da autoria do presidente cultural e espiritual da SBE, Professor Henrique J. Souza , tem algo semelhante com os processos empregados na Universidade de Kumbum, no Tibete, e em nosso próprio país e outros mais, no que o vulgo denomina de "cura por meio de rezas, de simpatias, etc.", embora que, para o Professor Henrique, os processos sejam bem outros. Semelhante teoria é a seguinte: a moléstia, que nunca vem de dentro para fora, e sim de fora para dentro, na razão de que a força vital, que provém do plano astral ‑ ou jiva ‑ e se derrama nas campânulas dos chacras ou centros de força do homem, é representada por uma tríplice forma ‑ sempre o "ternário" de que já nos ocupamos em outros lugares ‑, a que daremos os nomes devata ‑ como espírito ou essência da doença ‑, micróbio como alma ou força que mantém tal doença ‑, e finalmente, a própria doença, visível ou não, no corpo físico do doente. Razão pela qual inúmeras pessoas fazerem uso do referido método das rezas, que no Oriente tem o nome de dharanis, ou mantrans especiais para cada uma das doenças. Quanto à universidade tibetana a que nos referimos, e que tem o nome de Kumbum, por ser situada nesta região, ou antes, no mosteiro desse nome, possui os seguintes cursos: 1° ‑ a faculdade mística, que abraça as regras da vida contemplativa e os exemplos encerrados nas vidas dos santos budistas; 2° ‑ a faculdade de liturgia, compreendendo o estudo das cerimônias religiosas, com explicação de tudo quanto serve ao culto lamaico; 3° ‑ a faculdade de medicina, tendo por escopo principal o conhecimento propedêutico e terapêutico das quatrocentas e quarenta e quatro doenças ‑ por lei de "causalidade", o número 444 dizia respeito à Atlântida ‑ a que está sujeito o corpo humano; a 4° é a faculdade das preces. Nesta é onde está contida a teoria que serve de base tanto ao presidente da SBE como, por tradição, à das rezas; por exemplo, para a erisipela, o "cobreiro" e até a "bicheira" do gado, nos sertões brasileiros, etc. Esta parte da Universidade de Kumbum é a que congrega o maior número de estudantes, embora que mais perigosa, por lidar com as coisas do mundo astral. Uma comissão científica enviada pelo governo britânico foi ao referido mosteiro para estudar os métodos ali postos em prática, mas somente dois dos seus membros puderam transpor os umbrais do referido mosteiro. Os demais, para todos os efeitos, foram considerados personas non gratas, isto é, não merecedoras da devida confiança por par­te dos seus principais dirigentes.

Quanto ao presidente da SBE, que esteve no norte da índia no ano 1899, quando, a bem dizer, foi fundado o movimento cultural e espiritual em que está empenhada a Sociedade – e isto, na ilha de Itaparica, Bahia, don­de o mesmo se dirigiu primeiro para Lisboa, e depois para aquela região indiana ‑, em verdade não foi ali para aprender coisa alguma, mas em mis­são especial que lhe incumbia naque­la época, pois que seus poderes con­gênitos eram por demais conhecidos, não só por parte de sua família, como de homens ilustres, como, por exem­plo, o grande Nina Rodrigues, Alfredo Brito ‑ diretor da Faculdade de Me­dicina da Bahia ‑, Souza Leite, da Clínica de Charcot, etc. Razão por­que, melhor do que nenhum outro, apresentou um trabalho a respeito do "Messias de Poços de Caldas", por ser um caso de inúmeros que podem ser curados em horas, mas aqui, se a vontade de outros ‑ os espíritas ‑ qui­sesse auxiliar a referida cura, por se tratar de "pitiatismo", segundo Babinski. ou uma manifestação his­térica que aparece pela sugestão e de­saparece pela persuasão. Nas mesmas condições está a coreia ou "dança de São Guido ou São Vito", pois a bem dizer é uma manifestação de caráter histérico. Vamos dar um exemplo, en­tre muitos, passado com o mesmo pre­sidente da SBE, Professor Henrique J. Souza: Quando jovem, ainda, e re­sidindo em companhia de seus pais, na praça Duque de Caxias – antigo Campo Grande ‑, em Salvador, ca­pital da Bahia, estava ele conversan­do com uma sua prima, na janela, quando viram passar do lado oposto um grupo de pessoas acompanhando uma jovem atacada do referido mal, a caminho da igreja de Santo Antônio da Barra, tido pelo povo como santo milagroso. A jovem ia balançando o corpo de um lado para outro, voltando sobre si mesma, retrocedendo os passos, em resumo, os sintomas conhecidos da referida "doença". Foi quando o hoje presidente da SBE percebeu que sua prima começava ‑ por imitação ou sugestão ‑ a fazer a mesma coisa que a pobre jovem doente estava fazendo. E logo, segurando‑a por baixo dos braços, falou‑lhe em voz um tanto forte: "Deixe‑se de imitar a doença daquela pobre infeliz. Você não tem nem nunca teve semelhante doença". E logo arriscou uma pilhéria delicada: "Eu logo vi que não passava de brincadeira! Você queria, sim, dançar qualquer coisa". E ela, rindo, não mais pensou no caso. Mais um outro interessante fato passado na mesma cidade, mas já tendo o Professor formado família e residindo no Porto dos Tainheiros, em ltapagipe. Uma canoa se dirigia, apressada, em direção à muralha, em cuja frente se achava a referida residência. Um sobrinho seu vinha buscá-lo para socorrer uma de suas sobrinhas, que estava sem sentidos desde manhã cedo, sem que o médico chamado tivesse obtido o menor resultado. Na mesma hora, a canoa voltava para a ilha de Santa Luzia, de propriedade de sua família. Em lá chegando, não pode logo socorrer sua sobrinha porque um sacerdote, que ia todos os domingos dizer missa na capela da família, rezava fervorosamente junto da moça, sem que esta desse o menor sinal de vida, a não ser uma respiração curta, quase apagada. Depois de alguma espera, vendo que o sacerdote não obtinha resultado algum com as suas preces, pediu licença ‑ depois de sua irmã fazer as apresentações ‑ e, soprando os olhos da jovem, ordenou‑lhe que se levantasse. E ela, um tanto admirada, obedeceu à ordem. O sacerdote, este sim, com os olhos esbugalhados, teve apenas estas palavras: "Estou aqui há tanto tempo orando a Deus para que fizesse voltar a vida a esta moça, e o senhor logo chega e a desperta. Pode dizer‑me como fez isso?". "Assim como o reverendo viu", disse o Professor Henrique, acrescentando mais estas palavras: "Faço o mesmo sem necessidade de preces, deixando estas para outros casos". Quanto à irmã do Professor, que o mandou chamar para salvar a filha, foi a mesma que, quando ele era ainda muito jovem, e vendo os "milagres" que o mesmo fazia, colocou na porta de seu quarto um cartaz de papelão com este anúncio mais que jocoso: "Dr. Bota‑mão". Mais outro caso interessantíssimo, por ser muito mais difícil, talvez, do que os dois primeiros: Já agora residia o Professor Henrique J. Souza com sua família à rua Martins Pena n.° 3, no Rio de Janeiro, quando uma vizinha pediu à sua esposa que a mesma intercedesse com o Professor para este ir ver uma filha sua, tida como tuberculosa, ao mesmo tempo que obsedada. Concedido o pedido, o mesmo logo compreendeu que se tratava de um caso de sugestão ‑ igual, dizemos nós, ao de Poços de Caldas ‑, e foi logo dizendo, mesmo que contrariando a sua vontade: "Já sei, um mau espírito a acompanha devido às várias vezes que freqüentou sessões espíritas doutrinárias. Veja como tal obsessor foge diante da minha ordem". Com alguns gestos ordenadores, pós fora o tal espírito, da imaginação da doente. E logo, virando‑se para a mãe da moça: "Queira trazer um copo de leite para sua filha. Ela deseja alimentar‑se, pois, conforme a senhora fez ver, ela não se alimenta há muito tempo". Enquanto a senhora ia buscar o copo de leite, o Professor disse para a doente: "Um copo de leite, por enquanto, porque mais logo a senhorita vai comer uma feijoada completa. Amanhã vai assistir a um belo filme de cinema, aqui mesmo no bairro". Ela esboçou um sorriso, coisa que até então não fazia. A vitória era completa. Voltando a pobre senhora, entregou o copo de leite à sua filha, que o sorveu em poucos goles. E sua alegria era imensa, além do mais, por ver que a mesma sorria. A senhora precisa mandar hoje mesmo sua filha para outra casa, mais alegre, mais iluminada. Este quarto mais parece uma sepultura". De fato, o quarto era pequeno, escuro, tendo uma escada nos fundos. O conselho foi seguido e a jovem. foi residir, por alguns dias, em casa de um tio. Dias depois, uma jovem, passando pela frente da casa do Professor, que se achava à janela, teve este de corresponder a um cumprimento amável. Era a jovem que, como professora, voltava ao colégio para dar aula aos seus alunos. De outra vez, residindo o mesmo em Niterói, assistiu verdadeira sessão espírita na barca em que viajava para a capital: um "obsedado" respondia mal a um bondoso espírita que procurava doutriná‑lo, dizendo mesmo coisas impróprias. Por sua vez, um pastor protestante, com a Bíblia na mão, ordenava ao pobre homem que "em nome de Deus se contivesse". E o "milagre" não se produzia. Foi quando o tal obsedado, distinguindo de longe a figura do Professor Henrique, teve estas enigmáticas palavras: "Eis ali o único homem que me pode conter neste momento". Espírita e pastor, dirigindo‑se para o mesmo, tiveram estas palavras: "Se o senhor possui tais poderes, como não os pós a serviço de Deus para a cura de um doente?". "Como fazer tal coisa", respondeu o Professor, "se os senhores, antes de mim, faziam aquilo que a mim impõem num gesto tão indelicado?'. E eles ficaram silenciosos, como quem medita. "Desculpem, queridos irmãos e amigos', comprou o Professor, atenuando a situação. E dirigindo‑se para o doente mesmo de longe, e enfrentando os olhares dos passageiros da barca ‑ ordenou: `Se assim é, que assim seja, meu amigo. Fique, pois, quieto e curado': E para não ser alvo de elogios, nem olhares indiscretos, encaminhou-se para a proa da barca, que já estava quase em frente ao pontilhão, e foi o primeiro a saltar. Sim, "dai com a direita para que a esquerda não veja". Pelo que se vê, não são idéias novas que desejamos impor ao mundo, pois as mesmas são muito mais velhas do que se possa imaginar. E todas elas, aprendidas nos Colégios Iniciáticos do Egito, da Grécia, de Roma.

Ainda no setor das `idéias velhas" que se fazem novas, temos as seguintes ponderações a fazer. A Radiestesia, ciência hoje posta em prática como sendo novidade, no entanto é tão antiga quanto a História da Humanidade. A clavícula de Salomão, o trigrama de Phu‑Hi e o bastão de Moisés já falavam de Radiestesia. Foi com seu bastão, terminado em duas pontas ‑ positivo e negativo ‑, que Moisés, vendo seu povo morrendo de sede, procurou examinar com o mesmo bastão uma rocha que apresentava pequenas vegetações, prova de haver umidade no seu interior. O bastão revelou que ali havia um veio de água. E então, ele ordenou a um grupo de seu povo que quebrasse a pedra. E dela jorrou água em quantidade. Tal fenômeno, como se vê, não foi nenhum milagre, mas boa ciência mágica, isto é, da Magia Teúrgica, que hoje é chamada de ciência oficial, mas muito lhe falta para ser a verdadeira ‑ Exemplos: a Química de hoje é a Alquimia de outrora; a Astronomia, a Astrologia; a Medicina, a Magia Teúrgica, e assim por diante. No Egito já havia uma "máquina de voar que conduzia oitenta pessoas", como rezam certos manuscritos encontrados em alguns túmulos faraônicos, máquina esta movida por uma força chamada vríl ‑ daí viril, virilidade, poder, etc. ‑, que outra não era senão a retirada do próprio "éter sonoro" som, vibração, etc. ‑, com todos os seus derivados, inclusive a energia utilizada nos discos voadores, tão discutidos no momento ‑ e que é um grave erro dizer‑se que os mesmos provenham de Marte. Sim, os discos voadores podem vir do seio da Terra, alcançando certo ponto da mesma, donde alçam vôo e tomam vertiginosa carreira, assombrando os pobres mortais da face da Terra. E isto porque o seio da Terra, ou seu Sanctum Santorum, também possui o nome de Marte, além do mais, pela força ígnea existente nas camadas profundas. "Reino dos Serapis", ou ferreiros, construtores humanos, etc. E, como tal, onde o ferro predomina, que é o metal do referido planeta. Verdade ou não, os seres que viajam nos tais discos voadores dizem que provém do país chamado Clarion, nome que faz lembrar os de "luminosidade", "eterno dia”, etc. A própria Agartha Shamballah, etc. ‑, existente no seio da Terra, também se chama Belovedye, que quer dizer bela aurora, eterno dia. "Os tempos esperados já chegaram". Não do Juízo Final, como querem as religiões não iniciadas nos Grandes Mistérios da Vida, mas o juízo ou julgamento de um fim de ciclo, pois a vida universal é repartida em ciclos: ciclos de elevação e de declínio. Agora mesmo termina o ciclo de Peixes para começar o de Aquário. Daí dizermos que estamos trabalhando para a Era de Aquário. Do mesmo modo, como tal país subterrâneo possua sete cidades, cada uma delas com uma das cores do espectro solar, não será também para admirar que mais adiante cada região do mundo tome uma cor correspondente à de determinada cidade agarthina. Exemplos: na América do Sul, amarelo ­ouro; na América do Norte, azul, e assim por diante, o que também corresponde aos sete estados de consciência, sendo que ao nosso continente, sendo o amarelo, corresponde o mais elevado, ou Atmã, como se diz em boa Teosofia. Daí, o Brasil, como dizemos a cada passo, em referência à nossa Missão, ser "o santuário da iniciação do gênero humano, a caminho da sociedade futura". E, por favor, que outros não anunciem tais coisas como suas, porque, além do mais, não conhecendo a fundo o mistério, prejudicam o bom andamento de nossa Obra. Sim, é favor não o fazerem, por mais vaidosos que sejam. Se nos citarem, por serem dos nossos, mesmo que não pertencendo às nossas fileiras, seremos gratíssimos. E só podem ser auxiliados pelos "deuses", através dos quais fala a própria Divindade. Sim, porque "do Uno‑Trino surgiram os sete auto‑gerados" ‑ deuses, arcanjos, etc. ‑, diz uma das sete estâncias do mais antigo livro do mundo, que é o Dzyan ‑ Dzyn, Djín ou Jina.

Ainda sobre a Radiestesia, temos a contar um fato muito interessante, que é o seguinte: desconfiando da casa onde residíamos em São Paulo, mandamos chamar um radiestesista de fama, a conselho de certo médico que acredita, por sua vez, na referida ciência. O mesmo encontrou, de fato, veios d'água passando por baixo da casa, aconselhando‑nos um aparelho seu para colocar embaixo da cama.

Aceitamos o conselho, porem, com as nossas dúvidas bem fundamentadas. O tal método, não dando o resultado esperado, chamamos novamente o radiestesista, com o qual conversamos longamente a respeito, inclusive o que já foi dito anteriormente sobre essa ciência ser muito mais antiga do que se pensa, citando a clavícula de Salomão, o bastão de Moisés, etc., o que perturbou seriamente o famoso radiestesista. E então lhe demos uma verdadeira revelação, que, pela primeira vez também chega ao conhecimento público. Trata‑se dos colchões de mola, com as espirais em vertical, estas sim, atraindo para aqueles que dormem sobre os mesmos as irradiações nefastas do seio da terra, isto é, das suas primeiras camadas: veios d'água, formigueiros, cupim, etc.. E o convidamos a examinar o nosso colchão com o seu maravilhoso pêndulo, descoberta sua que, diga‑se de passagem, é muito melhor do que os comumente usados. Nosso homem ficou apavorado, dizendo: "Jamais poderia pensar tal cousa. Quando chegar em casa vou verificar se o mesmo não acontece com o colchão onde durmo, que também é de molas". Agora, um conselho aos fabricantes de semelhantes colchões: as espirais devem ser em horizontal e não em vertical, porém, de preferência como estrado, evitando sempre o metal, principalmente em forma espiralada, as espirais em horizontal, como estrado da cama, da maneira por nós apontada, e a cama com a cabeça para o norte, ao invés das captações mefíticas do seio da terra, nas suas primeiras camadas, as pessoas dormirão melhor, alcançando melhor saúde, porque receberão as correntes eletromagnéticas procedentes do Pólo Norte para o Pólo Sul, o que se pode chamar de boa ou científica Magia, aquela que aconselhamos ao mundo inteiro. E de graça, pois de graça tendo recebido, não podemos fazer como os "vendilhões do templo", que tudo vendem, inclusive o Reino do Céu. Como disse o Cristo, "Dai de graça o que de graça recebestes". Vejamos mais um conselho gratuito. E dos que evitam seríssimas perturbações na vida humana: evite morar próximo a cemitérios. Isto porque as influências astrais que dos mesmos emanam podem provocar perturbações sérias, principalmente de caráter anímico ou nervoso, inclusive obsessões, perseguições astrais, etc., como também moléstias graves, como o câncer. São Paulo é uma cidade repleta de cemitérios em promiscuidade com as residências familiares. É um dos seus maiores perigos, além do seu próprio clima, que varia tantas vezes por dia, sem falar nas alergias provocadas pelas fábricas, cada uma delas mais séria, principalmente as de produtos químicos. O grande radiestesista abade Mesmer, tendo sido chamado para examinar com seu pêndulo a causa de todo um quarteirão de casas ser atingido pelo câncer, acabou descobrindo que todas elas, principalmente a última delas, estavam ao longo do cemitério Père‑Lachaise, o mais antigo de Paris ‑ no mínimo, quatrocentos anos. Outro exemplo: quando residimos na cidade do Rio de Janeiro, ao verificarmos que estávamos .a uns dois mil metros do cemitério São João Batista, na travessa Santa Terezinha, embora uma ótima residência, dali nos mudamos a toda pressa. E amigos que residiram em frente ao portão do mesmo cemitério tiveram casos de câncer em algumas pessoas de sua família. Quando lhes falamos a respeito, logo se lembraram do fato.

(N. do autor)

 

(*) Este artigo, originalmente publicado em Dhâranâ em dois capítulos, nos números de setembro/outubro de 1954 e novembro de 1954/fevereiro de 1955, passa por ser o manifesto de lançamento da fase eubiótica da Obra". Daí a oportunidade de republicá‑lo nestes momentos de definição dos rumos da lnstituição para o século 21 Porém, existe um artigo intitulado A Eubiose; em Dhâranâ número 136, de 1948, que resumidamente adianta o tema,«e indícios de que ele já vinha sendo discutido antes.

Sérgio Órion de Souza, sócio efetivo da SBE, introduziu alterações no texto original de LPD que consistiam, sobretudo, em atualizar a gramática, acrescentar subtítulos e suprimir certas observações restritas à época e ao local em que foi escrito. Com isso, ganhou‑se em espaço e entendimento do texto, mas sem perdas no conteúdo. Aos pesquisadores resta, porém, o texto original, sempre disponível nos arquivos da SBE (Nota da Redação, fevereiro de 1999).