OS SEIS SISTEMAS DA FILOSOFIA HINDU
Dhâranâ nº 5 a 7 – Maio a
Julho de 1926 – Ano II - Redator : Henrique José de Souza
A
filosofia da Índia abraça todos os domínios do pensamento humano; e em cada um,
traça por meio de um raciocínio lógico, apoiado na verdade revelada nos Vedas,
um sistema de libertação da Alma, na cadeia das existências terrestres, origem
da dor.
Libertação,
que também podemos chamar de evolução da alma até um grau tal de perfeição ou
mesmo de continuação da existência, que as encarnações já não lhe sejam mais
necessárias.
A
libertação se obtém:
1º – Com
auxílio do conhecimento (que destrói Avidya, a
ignorância), primeira utilidade de estudar um dos sistemas de filosofia.
2º –
Mediante uma vida de conformidade com a filosofia que se professa, porque a utilidade
da filosofia não é mais do que servir de guia na vida.
Por isso
mesmo, não se alcança na Índia a consideração de filósofo, se
não se ajustam os atos ao sistema que se professa.
O Saber
filosófico hindu, contido na parte dos Vedas, que se chama Upanishads
(ciência suprema), foi coordenado em seis sistemas ou Shad-Darshanani,
isto é, os Seis (shad) pontos de vista.
Os
antigos Sábios da Índia se propuseram em suas meditações:
1º –
Buscar o Uno, a Realidade imutável, base do Universo fenomenal.
2º –
Buscar a Origem última de todos os fenômenos da natureza.
3º –
Compreender o fim da existência terrestre.
4º –
Determinar a relação da Alma humana individual com a Alma Universal, com o Uno,
chamado Brahman.
Assim,
pois, cada um dos Seis Sistemas da filosofia hindu é, por sua vez, uma Ciência
e um Guia para a evolução da alma.
Os Shad-Darshanani são:
1º – O Vaysheshika (particularidades).
2º – O Nyaya.
3º – O Purva Mimansa (primeira
meditação).
4º – O Sankya (nome).
5º – A Yoga de Patanjali (união).
6º – A Uttara Mimansa ou a Vedanta (última meditação).
A
primeira é a ciência da matéria; a segunda, a ciência da Razão; o Purva Mimansa é a ciência da
Ação; e Sankya, a da Evolução; a Yoga
se ocupa da Inteligência; e a última é a Ciência de Deus, da Alma, do abstrato.
Cada
ciência constitui, por sua vez, um estudo do Universo e do homem, desde o ponto
de vista especial. Considerados como Guia da Evolução, cada sistema ensina o aperfeiçoamento
dos princípios constitutivos do homem, correspondentes ao plano e aspectos particular do Universo (visível e invisível) que se estuda.
Este
aperfeiçoamento consiste:
I – No
domínio do corpo ou princípios inferiores.
II – No
desenvolvimento dos princípios superiores.
Ensina:
I – A
dominar os planos ou mundos inferiores.
II – A
adquirir o conhecimento do Eu e dos planos superiores.
Estes
planos do Universo e seus correspondentes princípios no homem,
são:
PLANOS DO
UNIVERSO
5 – ATMI
4 – BUDHI
3 – MANAS
2 –
ASTRAL
1 –
FÍSICO
(O 6º e
7º planos não se fala aqui porque são ainda inatingíveis.
Trata-se do Paranirvana
e Maha-Paranirvana).
PRINCÍPIOS
DO HOMEM
7 – ATMA.
(Espírito)
6 –
BUDDHI (alma espiritual)
5 – MANAS SUPERIOR (alma humana – Manas).
4 – MANAS INFERIOR (alma animal – Kama-Rupa).
3 – ASTRAL ou KAMICO
2 – ETÉRICO 2 – Corpo
etéreo-físico (Vitalidade – Prana ou Jiva). LINGA SHARIRA
1 –
FÍSICO 3 (Rupa).
STHULA SHARIRA
2 LINGA
SHARIRA (vide ‘errata’ na Dhâranâ nº 8 a 12)
3 STHULA
SHARIRA (vide ‘errata’ na Dhâranâ nº 8 a 12)
Cada
sistema corresponde a um destes planos ou princípios, salvo o sistema Sankya, que serve de ligação entre os três planos
inferiores e os três superiores.
1º – O Vaysheshika diz relação ao corpo etéreo.
2º – O Nyaya, ao plano e corpo mental à razão ou Manas Inferior.
3º – O Purva Mimansa ao mundo moral e ao
princípio Kama-manásico.
4º – A Sankya se refere à evolução dos mundos, a libertação do Purusha ou Ego de seus princípios inferiores.
5º – A Yoga de Patanjali, trata do
desenvolvimento final do intelecto ou Manas Superior, a fim de alcançar a
consciência do Eu no corpo Budhico (corpo de Cristo),
que é o corpo da união da Alma ou Ego com Deus, Atmã
de Brahman.
A Vedanta se refere ao desenvolvimento do Intelecto, Manas Superior e do princípio budhico,
a fim de elevar a consciência do Eu até o plano Átmico
e chegar a sentir a identidade do Atma do homem com o
Atma de Brahman, isto é, a
identidade do Raio com a Luz de onde emana.
OS SEIS SISTEMAS DA FILOSOFIA HINDU
Dhâranâ nº 8 a 12 – Agosto
a Dezembro de 1926 – Ano II
Redator : Henrique José de Souza
A “Vayshesika”, ou seja, o Sistema das Particularidades do “Rishi” Kanada.
A Vaysheshika considera que o Universo provém de uma combinação
de átomos e moléculas. O Universo fenomenal se divide em 7 Padarthas
ou categorias que compreendem tudo quanto é suscetível de conhecimento:
1º – Dravya ou substância
2º – Guna ou qualidade (atributo)
3º – Karma ou ação
4º – Samanya ou gênero (o que suscetível de constituir um
gênero)
5º – Vishesha ou particularidade (aquilo que constitui a espécie, o indivíduo,
a unidade)
6º – Samavaya ou coerência (não separatividade,
interdependência)
7º – Abhava ou não existência (negação)
Cada uma
destas categorias compreende várias divisões. Assim, a primeira, Dravya, se agrupa em 9 substâncias:
1 – Terra
2 – Água
3 – Luz ou Fogo
4 – Ar
5 – Éter-Akasha
6 – Tempo
7 – Espaço-Dish
8 – Eu-Atman
9 – Razão-Manas
Porém
estas substâncias não podem existir sem qualidades e estas são 17:
1 – Cor
2– Gosto
3 –
Olfato
4 – Tato
5 –
Número
6 – Extensão ou quantidade
7 –
Individualidade
8 –
Conjunção
9 –
Disjunção
10 –
Anterioridade
11 –
Posterioridade
12 –
Pensamento
13 –
Prazer
14 – Dor
15 –
Desejo
16 –
Aversão
17 – Vontade (Esforço)
As
substâncias se acondicionam por 5 modos de movimento ou ação, a saber:
1 –
Movimento para cima
2 – Movimento para baixo
3 – Movimento de deslocamento
4 –
Contração
5 –
Expansão
Todos os
objetos de conhecimento (ciência) são, pois, uma substância, uma qualidade ou
um movimento. Segundo Kanada, as quatro primeiras
substâncias, que são nossos quatro elementos – Terra, Água, Fogo e Ar – são não
eternas enquanto são agregações (de átomos). Porém, estes agregados o são
de átomos mínimos, invisíveis ou impalpáveis, chamados anús
(átomos primordiais), os quais são eternos. Estes átomos existem em forma de
matéria orgânica ou inorgânica, ou como instrumentos de percepções sensoriais.
Kanada define o átomo (anú)
como partícula de matéria indivisível e sem dimensões perceptíveis.
O
primeiro composto de átomos é de dois anús. Chama-se-lhe Dyanu ou molécula, e
é igualmente invisível. O composto ou agregado das três moléculas ou átomos duplos
forma um Trasarenon, o qual tem já dimensões
visíveis. Estes compostos de átomos são destrutíveis, tanto quanto os átomos
primordiais são indestrutíveis por natureza. Os ditos anús
não se devem à Criação de Deus; são coeternos com
Ele. No entanto, o poder que os combina procede de Deus, quem unicamente
governa o mundo fenomenal.
Segundo a
Vaysheshika:
O Éter-Akasha, o tempo, o espaço e o Eu-Atman
e o Manas são substâncias eternas da Natureza. O Manas
é considerado como sendo infinitamente pequeno, como um anú.
É distinto do Eu ou Atman, que é grande e, embora Manas e Atman sejam eternos, são
sem dúvida, inumeráveis.
O Eu ou Atman é distinto dos sentidos e possui nove qualidades:
Sabedoria, Vontade, Desejo, Felicidade, etc, etc.
O fim da
filosofia Vaysheshika (cujo nome é derivado da 5ª
Substância Vayesha) é alcançar a perfeição e a
absoluta liberdade da alma com o auxílio do exato conhecimento das causas do
Universo fenomenal.
II
A Nyaya ou Sistema de Lógica do Rishi
Gautama
A Nyaya é, por sua vez, um sistema de lógica e de filosofia.
Seu fim, como o dos demais sistemas, é chegar ao verdadeiro conhecimento da
Natureza, da Alma, de Deus, e alcançar a libertação final. Está baseado na
teoria atômica de Kanada e começa pela enumeração das
dezesseis
Padarthas ou matérias de discussão:
1 – Pramana (meios de conhecimento, Provas)
2 – Prameya (objetos de conhecimento)
3 – Lansaya (dúvida)
4 – Prayojana (motivo, objeto)
5 – Dristanta (exemplo)
6 – Siddhania (verdade estabelecida)
7 – Avayava (Silogismo)
8 – Tarka (raciocínio)
9 – Nirnaya (conclusão)
10 – Vada (argumentação)
11 – Jalpa (sofisma)
12 – Vitanda (disputa)
13 – Hetvabhasa (perfídia, mentira, etc)
14 – Chhala (argúcia)
15 – Jati (falsa analogia)
16 – Nigrahasthana (incapacidade para discutir)
Segundo
Gautama, os meios de conhecimento ou Pramanas, são 4:
1 –
Percepção sensória
2 –
Inferência
3 –
Analogia
4 –
Testemunho
Os
objetos de conhecimento ou Prameya,
são 12:
1 – Eu ou
Atman (Alma)
2 – Corpo
3 –
Órgãos dos sentidos
4 – Percepção objetiva
5 –
Inteligência; Budhi (compreensão)
6 – Razão (Manas)
7 – Vontade (atividade)
8 –
Faltas
9 –
Estado post-mortem
10 –
Recompensa
11 –
Sofrimento
12 – Emancipação final (beatitude)
Estes
dois Padarthas constituem fundamentalmente a
filosofia Nyaya, pois os restantes fazem somente
referência à parte lógica que expõe.
À vista
disto, o objeto principal da filosofia de Gautama foi estabelecer os métodos
exatos para o conhecimento e formar o perfeito silogismo. Isto consta na Índia
de cinco partes:
1 –
Proposição
2 – Razão
3 –
Exemplo
4 – Aplicação da razão
5 –
Conclusão
Suprimindo
duas destas partes, teremos o silogismo aristotélico perfeito. Estas duas
escolas de filosofia (Vaysheshika e Nyaya) se completam de um modo perfeito. Atualmente têm
numerosos discípulos em muitas partes da Índia, principalmente em Bengala, e
entre os Jainos.
III - OS SEIS SISTEMAS DE FILOSOFIA HINDU
Dhâranâ nºs 13 a 17 Janeiro a Maio – Abril de 1927 – Ano III
A Purva Mimansa é o sistema dos
princípios diretores do Rishi Jaimini.
A palavra Mimansa quer dizer investigação, e Purva, tanto vale como anterior ou procedente.
Este
sistema examina as diversas instruções que se encontram na parte dos Vedas concernentes
ao ritual (Karma-Kanda). Diz-se que o principal dever
do homem é seguir estas práticas tão estritamente quanto possível, porque elas
são a revelação direta proveniente do Ser Supremo. Segundo Jaimini,
as palavras dos Vedas são eternas, assim como a relação que as une e o sentido;
pelo que os Vedas não são de origem humana.
Este
sistema explica as fontes do conhecimento por autoridade, a relação entre a palavra
e o pensamento, e como este mundo não é, senão a manifestação do Verbo (a palavra).
Vemos um objeto (por exemplo, uma vaca) porque nos Vedas existe a palavra que o
designa (Gau em sânscrito). Se a palavra não
existisse, o objeto material não teria realidade. Meditando sobre a relação que
existe entre a palavra e o pensamento, chegasse à conclusão que expõe.
O Sol
existe porque a palavra Sol está nos Vedas; em outros termos, o Sol não é mais
do que uma parte da manifestação deste Verbo ou Logos, desta forma de pensamento
eterna que existe no espírito cósmico.
A Purva Mimansa pode também
chamar-se a filosofia do trabalho. Descreve a verdadeira natureza do dever na
atividade diária (sacrifício, dever e devoção). Graças a ela podemos
compreender qual é a ação ou o trabalho que há para verificar e qual a melhor
maneira de realizá-lo, a fim de produzir determinados resultados. Se, por exemplo,
queremos ir ao céu depois da morte, deveremos fazer determinadas cousas; estas
hão de dar um resultado atualmente imperceptível para nós, porém que terá sua
realização ou sua manifestação no fato que seguirá a nossa ida ao céu.
Como,
pois, se produzem esses fatos? Qual é a Lei? E se realizarmos aqueles mesmos
atos, qual será o resultado a faze-los
de uma maneira diferente à prescrita?
Todos
esses pontos se discutem na Purva Mimansa.
Sem dúvida, este ensino poderá ser tachado como sendo um simples esforço
imaginativo, uma pura especulação, porém os que crêem na eficácia da oração, na
lei de ação e reação, de causa e efeito, não podem tachá-la como tal, porque,
indubitavelmente os seus princípios são certos.
Com
efeito, não podemos negar que cada pensamento que forjamos, o
mesmo que cada movimento físico que realizamos, deva produzir algum resultado
em alguma parte, embora que nós não o percebamos, porque nada se perde
nem deixa de originar efeitos.
Quais são
estes resultados? De que maneira eles nos afetam? Aquilo que a nós não é dado
perceber, pode ser visto por quem dedica a sua vida somente a este resultado.
Este sistema é, por assim dizer, uma filosofia das leis naturais. Sendo, antes
de tudo, uma filosofia ortodoxa, se dirige principalmente aos Estudantes dos
Vedas e aos sacerdotes Brahmanistas.
IV - A SANKHYA OU SISTEMA DO NÚMERO DO RISHI
KAPILA
Kapila, que viveu uns setecentos anos antes de
Cristo, é chamado na Índia, o pai da evolução.
Este
filósofo rechaça a teoria atômica, fazendo remontar a origem dos átomos até uma
Energia Cósmica eterna que denomina Prakriti (em
latim Procreatrix) ou Energia Criadora. Afirmou que o
universo fenomenal (visível e sensível que cai dentro do raio de ação de nossos
sentidos) evoluiu por completo, de uma só energia cósmica que é eterna.
Kapila define os átomos como centros de força
(correspondentes nos Íons e Elétrons da ciência moderna), e é o primeiro a
explicar a Criação como o resultado das forças de atração e repulsão que
literalmente significa amor e ódio entre os átomos (conforme disse Empédocles).
A
filosofia Sankhya 14 explica
de preferência, de uma maneira sistemática, lógica e científica, o processo da
evolução cósmica deste Prakriti primordial (a Força
Matéria) ou Energia Eterna.
14
A palavra Sankhya quer dizer número. A filosofia do número é o nome
dado à filosofia de Pitágoras que está relacionada com a Evolução do Universo
visível e invisível.
Kapila reconhece que a alma no homem forma sua
verdadeira natureza, sendo distinta da matéria e imortal.
As
conclusões da filosofia Sankhya, são as seguintes:
1ª) Alguma cousa não pode derivar -se do nada.
2ª) O efeito reside na causa, isto é, o efeito é a causa reproduzida.
3ª) Destruição quer dizer retorno de um efeito ao seu estado causal.
4ª) As leis da Natureza sã o uniformes e regulares em tudo.
5ª) A construção do Cosmos é o resultado da evolução da Energia
Cósmica.
Kapila chegou a algumas destas conclusões mediante
a observação e a experimentação, empregando um sistema rigorosamente lógico.
Sem negar a Deus, nega a existência de um Criador; sua filosofia não é atéia,
posto que admita a existência da Alma individual “Purusha”,
como uma entidade imortal e eterna.
Algumas
escolas Buddhistas, assim como o Jainismo
(seita agnóstica derivada do Brahmanismo), estão
baseadas na filosofia Sankhya.
Ao mesmo
tempo certos ensinos e princípios desta escola desempenha
um papel importante na forma popular do culto dos símbolos do moderno Brahmanismo.
V – A RÂJA-YOGA (união real ou régia ciência) ou
Sistema do Rishi Patanjali, relacionado com o mental
Patanjali aceita a teoria
da Evolução tal como a criou Kapila, e sustenta que o
Universo fenomenal é o resultado da evolução de Prakriti
ou substância original.
Como Kapila, admite Patanjali a existência de inumeráveis Purushas
ou almas individuais, cada uma das quais é de natureza eterna, infinita e
imortal. Porém, dele difere em aceitar a existência de um Purusha
Cósmico (Deus pessoal), sem forma, infinito, onisciente, que não é tocado pela
aflição, méritos, atividades ou desejos.
Patanjali parte da
Psicologia de Samkya e explica minuciosamente o papel
de chitta ou substância mental (aqui deve-se entender por “substância mental” a substância do
Plano Cósmico da Inteligência ou Manas).
Tanto Kapila como Patanjali sustentaram que chitta
é um produto da insensível Prakriti e é distinta de Purusha, o verdadeiro Espírito ou Eu espiritual, que, na
realidade, é a única fonte de consciência e da inteligência.
O Sistema de Patanjali se
ocupa da psicologia superior do espírito humano, e divide chitta
em cinco classes de vritis (estados de alteração de chitta):
1 – O conhecimento perfeito; 2
– O não discernimento; 3 – A ilusão;
4 – O sono; 5 – A memória;
Todos esses vritis, assim
como outras funções mentais, são minuciosamente descritos por Patanjali, o qual, depois de analisar as modificações de chitta, expõe o método pelo qual se pode chegar a um domínio
absoluto de Manas (a Inteligência) e de Budhi (a alma
espiritual).
O objetivo final do Sistema de Patanjali,
separando Purusha de Prakriti
(o Espírito da Matéria) é dar um método de libertação. Patanjali
ensina a ciência da concentração mental e da meditação, assim como a ciência da
respiração, e o caminho mais seguro para alcançar a clariaudiência,
além de outros poderes que se encontram latentes no homem.
A Râja-Yoga é uma
verdadeira psicologia de ordem muito elevada, uma verdadeira filosofia psicológica,
enquanto que a psicologia moderna não é mais do que uma psicologia fisiológica.
Todo e qualquer processo de livrar o Ego das
ilusões do mundo terreno, com o fim de uni-lo à Consciência Universal, é uma Yoga. Patanjali, nos “oito
passos” da ioga que tem o seu nome, ou Râja-Yoga,
ensina não apenas os métodos de desenvolvimento interior, mas também a maneira
do homem se conduzir na vida para atingir esse alvo, que é a Suprema
Realização, União ou Eucaristia.
Este Sistema consta de oito passos, a saber: Yama, Ni-yama, Asanâ, Prana-yama, Pratyahâra, Dhârana, Dhyâna e Samâdhi. Os dois
primeiros passos são restrições ou interdições de ordem moral; os cinco passos
seguintes dizem respeito ao desenvolvimento interior do discípulo e ao domínio de seus veículos (domínio do físico, domínio das emoções,
domínio do mental) para poder alcançar o oitavo passo, que é o Samâdhi, o êxtase, a União Suprema.
VI – A UTTARA-MIMANSA ou VEDANTA, ou
seja,
o sistema dos
Princípios diretores do Rishi Vyâsa
[1]
De todos os sistemas filosóficos hindus, este foi o que levou as
conclusões do espírito humano à sua maior altura. A realidade última do
universo, segundo a Vedanta, é a substância uma,
absoluta, que está mais além do sujeito e do objeto, que a origem da
inteligência e do conhecimento, do Eu-consciência e
da felicidade, que é UNO e não múltiplo. Chama-se BRAHMÃ, em sânscrito. Esta
realidade é o mesmo que o BEM de Palatão, que a COISA
EM SI ou essência da coisa de Kant, que a VONTADE de Schoppenhauer,
a SUBSTÂNCIA de Spinoza, a SUPER-ALMA de Emerson, o
DESCONHECIDO de Herbert-Spencer, a ESSÊNCIA DIVINA DO PAI CELESTE dos cristãos,
ALLAH dos maometanos. Constitui a verdadeira natureza de Budha
e de Cristo (palavras estas que significam a mesma coisa, isto é, ungido,
iluminado). Penetra o Universo. É uma e universal. É indivisível. Tal é a
REALIDADE DO UNIVERSO segundo a Vedanta.
Este sistema reconhece a identidade da realidade objetiva do Universo,
com a realidade subjetiva do Ego (ou Alma Superior, do homem).
Elevando o Eu, ou seja, a verdadeira natureza do Ego, para o divino, a Vedanta o une com a Divindade, que é absolutamente pura,
perfeita, imortal, imutável e uma. Não houve senão UM no começo e não haverá
mais que UM no fim, ao qual se chama Atmã.
A Vedanta
une o céu e a terra, Deus e homem, Atmã e Brahma.
Aceita as conclusões (corretas) da ciência moderna, ao mesmo
tempo que nos diz haver várias expressões, assim como várias
manifestações da mesma Verdade Una. Afirma que o objeto da
filosofia não é simplesmente justificar as conjunções de sucesso que constituem
a ordem do universo, nem apenas anotar os fenômenos que este oferece à nossa
investigação, mas conduzir o espírito humano do conhecimento terreno ao que
está mais acima do cognoscível. Devemos, pois, conhecer as leis do cognoscível,
porém, ao mesmo tempo, aspirar chegar mais adiante, penetrando no domínio do
Infinito.
A filosofia Vedanta guia o homem por sobre os
objetos de percepção e dirige as almas para o SER ETERNO
ABSOLUTO, onde se encontra a solução de todos os problemas e respostas a
todas as perguntas. Procura determinar a relação existente entre a alma e Deus,
com o auxílio dos mais rigorosos processos lógicos e tomando por ponta de
partida a mais ampla generalização dos ramos da ciência.
A Vedanta responde às três grandes funções de
uma filosofia:
Fazer a síntese das ciências concretas;
Achar a origem dos conhecimentos. A ciência nos conduz até certo ponto
que não podemos ultrapassar, porém, a filosofia (ou melhor, Teosofia) começa
onde a ciência termina;
Elevar nosso espírito até o Absoluto (de onde emanamos), resolver o
problema da vida e da morte, explicar a origem do Universo, da existência
individual, o objeto da evolução e auxiliar-nos a sair do domínio da ignorância
e do egoísmo.
Aí a Vedanta nos diz que a Substância Última
do Universo é UNA E TRINA, podendo-se distinguir três qualidades ou atributos:
SAT ou existência absoluta (o Ser ou o Verbo); CHIT ou inteligência absoluta e
ANANDA ou felicidade absoluta.
A Vedanta ensina que aquilo que constitui a
substância última de nossa alma deve possuir: Inteligência, Eu-Consciência
e Felicidade Suprema. Deste modo, o sistema filosófico examinado fica colocado
nas mesmas bases de uma religião universal monista,
repousando sobre a identidade da natureza ou da substância entre o Atmã divino (Deus) e o Atmã
humano (Alma), donde a afirmação de que a alma e Deus são da mesma natureza.
A Vedanta monista (Advaita) não admite a teoria de Samkya,
da pluralidade de Purushas ou almas individuais,
eternas e infinitas por sua natureza. Ao contrário, estabelece que o Infinito há de ser um e não múltiplo. Deste Um é donde surge a
multiplicidade, sendo as almas individuais outras tantas imagens ou reflexos do
Absoluto Brahma. Deste deriva o Universo fenomenal
que, no final da evolução, volta à Unidade donde partiu.
A Vedanta é o sistema mais espalhado na Índia
moderna. No século oitavo, quando começou a decadência do Budismo, a Vedanta ressurgiu graças ao trabalho de seu comentador SHRI
SANKARACHARYA, um dos maiores filósofos do mundo. [2]
[1] Vedanta
vem a ser o Fim, o Objeto dos Vedas. Uttara significa
posterior e Mimansa significa investigação, meditação.
[2] A TEOSOFIA, tal como foi apresentada ao mundo por Blavatsky, e a EUBIOSE, como Ciência Iniciática das Idades no presente momento por que passa a evolução da humanidade, podem ser consideradas, respectivamente como o 7º. e 8º. Sistemas Filosóficos, não mais da Filosofia Hindu, mas, obedecendo a transferência do Eixo Espiritual do planeta de Oriente para Ocidente, fizeram sua aparição na América do Norte e na América do Sul. Como 8º. Sistema, a EUBIOSE representa a Suprema Síntese dos 7 anteriores, englobando não só a imensa Sabedoria Oriental, mas também o Conhecimento Hermético. (Nota do compilador)