OS JINAS TIBETANOS E SEUS TULKUS

 

Dhârranâ  nº 106 - de Outubro a Dezembro de 1940 – ANO XV

        Redator : Henrique José de Souza

 

Multa paucis... Muitas coisas em poucas palavras

 

Por diversas vezes temos falado dos shamanos ou Jinas (homens régios conquistadores, sábios, imortais, etc.) no decorrer destes apontamentos, porém, até agora, não nos ocupamos da maneira como os mesmos se comunicam com os homens vulgares (ou “mortais”); ou, se o quiserem de se acharem com os mesmos diretamente ligados. Tal maneira de “comunicação” ou “ligação” possui no Tibete o nome de tulku, que, anagramaticamente (por têmura ou permutação de sílabas) nos faz lembrar a latina “cultus” ou a veneração dispensada, pelos “mortais”, a tudo aquilo que desconhecem, pôr isso mesmo reconhecendo como superior, inclusive, as fugazes aparições astrais, ou mesmo físicas daqueles “imortais”, como ainda, as manifestações tangíveis operadas através dos tulkus.

 

Se o tulku é um “Buda vivo”, ou melhor, a mayáica ou ilusória sombra viva projetada por um Buda ou Mestre, o la-ma ou lha-ma é seu discípulo encarnado, na razão das duas raízes “lha”, espírito e “ma”, matéria, mãe natureza ou Mater-Rhea, etc., onde o espírito tomou o seu corpo astral. O neófito ou seja aquele que não alcançou ainda o necessário desenvolvimento psíquico para o grau do “discipulado” é, por sua vez, um trapa ou aluno.

 

A palavra tulku significa literalmente “uma forma criada por processo mágico”. Assim, de acordo com o que ensinam os sábios e místicos tibetanos, devemos considerar os tulkus, uma espécie de fantasmas, emanações ocultas, verdadeiros arlequins (mas nunca um Frankenstein, um monstro humano), fabricados por um mago, para que fiquem às suas ordens ou serviço., digamos, uma espécie de “estátua viva”, onde se reflete a vontade do seu criador ou ”escultor” 27 .

 

De acordo como que acabamos de expor, a Sra. David Neel relata o que lhe disse a respeito o próprio Dalai Lama (o último da série dos 13, segundo as tradições, e que era, por sua vez, um tulku de outro Ser mais elevado, como o era também o Trachi-lama): “Um Bodisattva é o tronco donde pode surgir uma infinidade de formas mágicas. A força por ele engendrada mediante uma perfeita concentração da mente permite-lhe, como Sábio ou Mestre, projetar simultaneamente um “fantasma”, semelhante a si (um duplo seu) a diversos lugares, pouco importa a distância. Não se trata apenas de formas humanas, mas também de quaisquer outras, como por exemplo: a projeção, a distância, de castelos fantásticos e quantas “mayas” (ou ilusões) queiram empregar, não só, na iniciação dos seus discípulos, como também, em torno de Fraternidades secretas ou colégios Iniciáticos, para que, profanos não se aproximem dos mesmos. Assim também, quanto a fenômenos de ordem atmosférica e, finalmente, o do “Elixir da Vida”, ou Licor da Imortalidade, que extingue toda sede (explicando ainda o Dalai Lama que, esta última Expressão era verídica, tanto em sentido literal, como no simbólico). Em resumo, seu poder criador de formas é limitado”.

 

As palavras transcritas, devido à elevada categoria espiritual do Dalai-Lama, merecem de nossa parte, como de outros conhecedores do assunto, todo acatamento possível; o que não acontece com a maioria dos homens, mesmo que, portadores de títulos capazes de os colocar em posição intelectual de destaque. Para esses, o que acabamos de transcrever, “não passa de ”mórbidos delírios de paranóicos e esquizofrênicos”.

 

E isso, porque, tão “ilustres sábios” já vem envolvidos, desde o berço, no tradicional erro religioso dos pretensos “milagres”, que não são mais do que, “fenômenos dentro das leis naturais”, que nenhum modo poderiam ser transgredidos, ou se o próprio termo latino “mirabilia”, coisa prodigiosa, admirável, extraordinária, fosse anti-natural pelo insignificante fato de não ser habitual, corrente, etc., quando se trata de simples jogo, manejo ou manipulação de causas, leis ou poder ainda ocultos para a maioria dos homens, porém, desvendados ou conhecidos por Aqueles que alcançaram um grau superior de evolução e de conhecimentos... Não nos falam bem claro os verdadeiros e admiráveis milagres, que cada técnico provoca na sua especialidade e que os profanos ou desconhecedores dos mesmos não são capazes de os imitar? E isso porque, aquele que ignora a técnica ou “modus operandi” (técnica nascida de um conhecimento superior ou acima do nível ordinário), não esteja em condições de semelhante realização “miraculosa”. Mas, devido ao seu puro, único e originário sentido de admirável , não implica em que seja violador de lei alguma natural!...

 

Tal foi sempre – pese a transviadas incompreensões – o critério teosófico, pois que, a mesma H.P.B. na primeira página da Introdução de sua Ísis sem Véu, diz textualmente:

“Não cremos em magia alguma que exceda o poder, nem a compreensão do homem, nem em milagre algum, divino ou diabólico, que vá de encontro às leis naturais estabelecidas desde eternidades sem conta, admitindo, porém (como é perfeitamente científico admiti-lo...), que a palavra “evolução” fale por si só se no físico nós temos gradualmente elevado desde as camadas mais inferiores de nosso globo, até alcançarmos as alturas em que hoje nos encontramos, lógico é julgar que o homem atual não tenha ainda desenvolvido a plenitude dos seus poderes”. 28 A teoria exposta pela mais alta autoridade do lamaísmo oficial (o Dalai-Lama), é idêntica à que se encontra nas obras búdicas maha-janistas ou do “Grande Caminho”.

 

Dez espécies de criações mágicas se acham ali enumeradas como podendo ser produzidas pelos Bodhisattvas ou Seres do grau imediatamente abaixo ao do Buda. Razão por que tudo quanto foi dito a respeito da maneira pela qual um Buda pode produzir formas mágicas, aplica-se a qualquer outro ser humano, divino ou infernal. Não existe, senão, uma diferença no grau de poder, que é unicamente a da força de concentração da mente, e também, da qualidade ou grau evolutivo da própria mente que procura agir ou criar.

 

 “Os tulkus de personalidades místicas coexistem com o seu criador e até acontece que os dois sendo venerado em separado, nos dão uma prova clara de que os tibetanos não acreditam que a personagem divina ou de qualquer outra categoria, esteja completamente encarnada no tulku. Assim, enquanto o Dalai-Lama, que é o tulku de Tchen-resigs, habita em Lhassa (habitava até o fim do ciclo do oriente, como estamos fartos de provar), Tchen-resigs se encontra em Nankai-Potala, uma ilhotas da costa chinesa... E Eupamed, ou antes, Rimpotché, cujo tulku é o Trachi-lama, reside, por sua vez, no Paraíso Ocidental ou Nub-Dewatchen (Novo Devakan ou céu, nesse caso, expresso por Shamballah, a própria Agarta se o quiserem...), enquanto aquele se acha em seu “Retiro Privado” de Tjigad-jé, como todos o sabem. Exemplos dessa natureza aparecem ainda nas lendas tibetanas relativas ao rei Srong-batan-gampo, o chefe guerreiro Guesar de Ling e outras personagens (inclusive o mesmo Ackdorge, ao qual se denomina também de “Rei do mundo”) que, tendo sido visto em vários lugares da terra, no entanto, vivem no referido País do ocidente... em nosso próprios dias, é voz corrente no Tibete, quando o Trachi-lama teve de fugir de Tjigad-jé, devido às perseguições a que o sujeitou a política dos lamas do mosteiro de Lhassa, etc., deixou em seu lugar um “fantasma ou duplo’, o qual iludiu a quantos conviviam anteriormente com ele. Logo que o grande Lama alcançou o outro lado da fronteira, o fantasma desapareceu... 29

 

26 Devidamente corretos e aumentados, servem de segunda parte ao presente estudo, os capítulos XXXI, XXXII e XXXIV de O TIBET E A TEOSOFIA, última obra do genial Teósofo espanhol Dr. Mário Roso de Luna, em colaboração conosco. Para quem fez a leitura da referida obra publicada por esta revista, por isso mesmo, possuindo o número onde saíram aqueles capítulos, poderá verificar melhor quanto de novo e interessante apresentamos hoje aos nossos leitores, como sempre, na esperança de poder contribuir, com o pouco que sabemos, para a ilustração teosófica de quantos, com sinceridade, aspiram à Luz sublime da Verdade. – O autor.

 

27 Uma grosseira interpretação para o fenômeno tulkuístico, é aquela da repercussão hiper-fisica, que se dá entre o hipnotizador e seu “sujet”: sendo o primeiro tocado por um estranho, o segundo acusa o lugar, justamente em que aquele foi tocado. O mesmo se dá quando, por meio de um alfinete, o sujet, lançando um grito de dor, leva a mão, automaticamente ao lugar onde o operador foi ligeiramente espetado. E isso porque, tal “sujet” não é mais do que um autômato da vontade do operador. Por isso mesmo, seu duplo ou tulku.

 

28 Para o tibetano ilustre , cada fenômeno (Rig) é o “efeito”, Karma ou “descendência” de uma causa a que denominam de gyan, sendo bastante curioso que tal palavra figure nas Mil e Uma Noites parsis, como a raiz do nome de certa princesa maga: Gyan-Jara. Porém, dentro da escala generativa com que sempre os fenômenos derivam de duas causas (que são como “seu pai e sua mãe”), tal como na execução de um trecho musical, por exemplo, onde o “pai” o “espírito produtor”, é o músico e a “mãe”, o instrumento através do qual o mesmo “espírito” – latente – se manifesta de modo ostensivo ou radiante, existe toda uma inacabada “escala ascendente” de causas, verdadeira “árvore genealógica do fenômeno ou efeito em questão, a que os tibetanos denominam de cchugs ou risal (de rishi, antepassado originário ou primitivo, também chamado “Ava” entre os povos mais ocidentais, donde o bem nosso que é o Avô, etc.). A necessária concentração para produzir qualquer fenômeno mágico, produz ondas de psíquica energia, mui superiores, talvez, às nossas novíssimas “ondas hertzianas”, por onde o espírito tomando por intermediária (ou tulku), a alma, mente ou verbo, age sobre seu próprio ou outro qualquer corpo.

 

Daí, certos objetos ou instrumentos usados no mesmo Tibete, sem falar nos talismãs e amuletos de uso constante. Tais objetos podem ser carregados à maneira de um acumulador elétrico, capaz de tornar refletida a referida energia, comunicando, por sua vez, a vitalidade, a intrepidez, perversidade ou qualquer outra vibração psíquica; donde, o eterno uso desses amuletos, pílulas magnetizadas, água benta, encantos, enfim, de toda espécie. Acontece, porém, que em um estado posterior da mais intensa ou consciente carga; o objeto já pode desenvolve aparentemente sua, como as que adquirem em certas cerimônias ritualísticas do janaísmo, os próprios tormas ; “pães de propinação” dos hebreus; “hóstias consagradas”, dos cristãos; por verdadeiros santos “passarinhos de barro ou de madeira”, que o evangelho apócrifo intitulado “A infância de Jesus” conta que ele – com grande admiração dos outros seus companheiros de infância, produzia milagres. Do mesmo modo, o dos ngags-pas ou maleficiadores do próximo (Vide nossa obra “O Verdadeiro Caminho da Iniciação”, onde se fala dos feiticeiros, etc.) . E o dos “duplos” ou fantasma necromantes, empregados pelos feiticeiros (ou magos negros) em toda e qualquer história, para causar mal sem aparente responsabilidade, a uma vítima (quase sempre à distância) que, debaixo da sua sugestão ou ação... vai ter ao suicídio, se tão fraco ou débil lhe faz chegar o fantasma. Mas, em caso contrário, “o choque de retorno” (ou o “feitiço contra o feiticeiro”), do velho adágio popular), se a vítima se torna superior ao seu inimigo. Quando, finalmente, a energia de concentração mental e volitiva chega ao máximo grau requerido pela lei natural que rege o fenômeno, encontramo-nos com a projeção do duplo à distância, embora que, personalidade, equivalente à do tulku. Tanto para a Magia Branca ou do Bom (Shamanismo, etc.) como para a Magia Negra do feiticeiro (Camanismo, etc.), a iniciação adequada não consiste na comunicação de uma doutrina, palavra ou segredo, mas, na transmissão do poder mágico do Mestre, para o discípulo, cujo poder se denomina de Angkur, através de comunicação, cura de almas, ou delegação de poderes, embora que, tal carga (kármica) volva imediatamente carregada de astralidade (ou e forças astrais, que tanto vale), ao próprio transmissor.

 

29 Quem sabe se em nossa própria Obra, no seu início, os dois principais fundadores da mesma não possuíram tulkus dessas natureza, sob pena de não puderam levar avante tão espinhoso mandato? Outros que não possuem tais poderes ou mesmo, nao se acham envolvidos dos prodigiosos (os poderes que a Lei faculta aos seus Mensageiros em missão no mundo, procuram arranjar “sósias” ou indivíduos para os substituir em oca-siões perigosas. Há quem afirme que “Hitler possui seu sósia”; Mussolini do modo o seu; enquanto que Stalin, apenas 18, como o afirmou certo médico, chamado para o visitar, quando o mesmo se achava passando mal... e “deparou com 18 indivíduos possuidores da mesma fisionomia. Por isso que, todos eles, mais ou menos, adoentados (como o são todos os homens na vida) não pode ele saber quem era de fato o famoso ditador russo...‘’.

Quanto ao fenômeno, por Lei exigido, no início de nossa Obra, era o caso de se perguntar quantos Henriques e Helenas concorreram para construção dos seus potentíssimos alicerces? Que responda, pelos homens vulgares, o reino misterioso da Agarta!...

 

No folclore ocidental existem inúmeros fenômenos dessa natureza, cuja racional explicação se acha na complexa doutrina dos tulkus, desde aquele conto de “Branca de Flor”, por exemplo, que o “ogro” (monstro imaginário que comia gente) responde por ela no momento de sua fuga com o bem amado, ate os casos de bi-corporeidade, como o de Apolônio de Tiana, quando vê a distância a destruição de Jerusalém, ou quando Antonio de Pádua e outros santos da Igreja, etc., se desdobrando como o fazem também os raríssimos “médiuns que o mundo possui”, pouco importa se inconscientemente ou mesmerizados, hipnotizados, etc. já por seres do Astral, já pela própria assistência, ou por uma auto-sugestão muito natural na magia provocada pelo ambiente: a simples mesa em torno da qual se acham “sujets”, pacientes ou passivos (termos esses que, só por si bastam para fazer compreender o estado mórbido em que se colocam tais indivíduos) e aqueles que dirigem semelhante sessões, como outrora a “mesa de Mesmer”, em torno da qual ficavam os doentes ligados uns aos outros pelas baguetas metálicas, quando não, pelas mãos... Sem falar nos inúmeros casos apontados pelo coronel de Rochas e outros mais, em suas múltiplas experiências, quando não, o professor Charcot da Salpetrière, “como o maior fabricante de psicopatas que o mundo conhece”.

 

Porém, as suas criações mágicas dos Bodhisattvas e outros Seres de categoria mais ou menos elevada (Adeptos, santos da Igreja, etc., etc.) não podem ser equiparadas às últimas a que nos referimos, pelos seus desastrosos efeitos, que a bem dizer representam verdadeiros processos de magia proibida (ou negra).

Sim, essas criações mágicas dos Seres Superiores, são de maior amplitude vital, digamos assim, por serem capazes de “receber uma vida real” infundida por seu próprio Criador. Krya-shakti é, em sânscrito, o mágico poder do Pensamento, que permite ao iogui produzir tais ou quais efeitos à distância, valendo-se da própria energia assim desenvolvida pela Yoga ou concentração.

 

 “Os antigos, diz H.P. Blavatsky, afirmavam que qualquer idéia ao manifestar-se externamente pela concentração da atenção e da forca de vontade, podia produzir resultados físicos. E a tal poder volitivo se propôs chamar de Ichcha-shakti... A imaginação juntamente com a força de vontade são com efeito , a chave da Magia.

 

Porém, a todos esses poderes, para não ocasionar vítimas, entre os que os praticam inconscientemente, os lamaístas dão uma iniciação preparatória, além de exigirem a mais pura conduta, a filosofia e a metafísica ensinadas na escola de Gynd (de Jin ou Jina); o ritual, a magia e a astrologia, na escola de Men (ou mentalista); as escrituras sagradas (ou História)e as regaras monásticas, na escola de Do (ou Od, Luz, etc.) e a gramática, aritmética e demais ciências , em lições particulares dadas pelo lama ou mestre ao trapa ou aluno, segundo já explicamos 30 .

 

 “As personalidades anteriormente mencionadas, continua David-Neel, são todas elas tulkus, porém, segundo os lamaístas, semelhante circunstância não obsta para a produção de formas mágicas. Estas provêm , uma das outras e existem denominações especiais para todas elas, desde o primeiro e segundo graus até os sucessivos. Para os ocidentais, tudo isso é difícil de compreender, principalmente, se não o adoçarmos pôr meio de lógicas considerações. Como dizemos tibetanos, “cada homem é potencialmente um tulku; ou como os “espíritas”, salvaguardando as distâncias entre estes, e aqueles que ensinam tais coisas no Tibet, “todo homem é médium”, embora que, para o verdadeiro

 

30 Por que razão, pois, os chamados sábios, ou que cultivaram apenas a “ciência oficial”, se arrogam o direito de criticar ou menosprezar uma CIÊNCIA, que lhes é por completo desconhecida, para não dizer, de que a sua é uma simples faceta? Condenem, sim, aos que pensando praticar semelhante CIÊNCIA, sem possuírem os devidos conhecimentos (referimo-nos aos evocadores de almas ou animistas, mas conhecidos como “espiritistas”), os praticantes da Baixa Magia, etc., etc.), a adulteram ou desfiguram de modo tão grosseiro, que de nenhum modo podem ser confundidos com os verdadeiros TEÓSOFOS.

 

Teósofo, como para todos os orientais cultos, o Adepto, é o contrário do médium (pao, pamo), pois enquanto o primeiro domina, conscientemente, como senhor e soberano, as forças produtoras (justamente por conhecê-las), o outro é um simples joguete inconsciente e vítima sua, como ensinam unanimemente os kha-gynd-karmas (“homens conhecedores das causas operadoras do Karma”). Razão pôr que o Budismo ortodoxo proíbe, desde logo, aquele que há de ser um tulku, todo rito religioso corrente, para que a iluminação espiritual (à parte o pleonasmo), que só pode ser obtida pelo estudo e o esforço da mente, não seja prejudicada. E todos os rituais para curar, produzir benefícios, guiar post-mortem as almas no bardo ou “mundo astral” verdadeiras armas de “dois gumes”, de perigoso manejo...

“Acontece, portanto, que um mesmo “defunto” se multiplique em diversos e simultâneos tulkus, além de oficialmente reconhecidos (Foi assim, talvez, dizemos nós, que o último Dalai-Lama veio profligar os lamas do Tibete a que não mais se servissem de seu nome, para impingirem ao mundo a sua nova encarnação, se eram os primeiros a saber, que aquela foi a última como apontavam as mesmas tradições).

 

Por outro lado, certos lamas passam a ser, por sua vez, tulkus de outras personagens. Assim, não só é , repetimos, o Trachi-lama, o tulku de Eupamed, senão, o de Subhuti, discípulo do Buda, ou o mesmo Rimpotché; como o Dalai-lama, avatara do místico Tchen-resigs e, ao mesmo tempo de Gedundup, discípulo e sucessor do reformador Tsong-kapa. Interessante, ainda, recordar que a seita dos docetas, no cristianismo primitivo, considerava ao próprio Jesus como um tulku. E seus partidários sustentavam que o Jesus crucificado não foi uma personagem natural, mas um fantasma criado pôr entidade espiritual para representar semelhante papel, de cuja opinião compartilham certos budistas a respeito do Buda. Segundo estes, o Buda jamais abandonou seu Paraíso Tuchita, limitando-se a criar um fantasma de si mesmo, que foi o aparecido na Índia, soba figura de Gautama, o Buda histórico”.

 

De todas essas teorias saiu a do “corpo pneumático de Jesus”, dos gnósticos primitvos, copiado por Roustaing para a sua teoria contrária a de Kardec, o qual por sua vez, foi beber toda a doutrina, que apresentou ao mundo como sua, em vários livros orientais, a começar pelo Agruchaga-Parikari.

 

 “Vestes do Buda”, chama H.P.B na sua Doutrina Secreta, a Jeoshua, Sankaracharya e outros mais, o que não deixa de ser uma verdade, na razão tulkuística das escolas tibetanas, o que vem provar nunca se ser o último, muito menos o primeiro.

 

Erram, pois, aqueles que julgam Buda inferior a Jesus (ou Jeoshua), se este, como se viu,

foi “uma veste daquele” 31 .

 

31 Num simples trabalho como este – muito menos em uma anotação – não é possível a transcrição na íntegra, de quanto diz H.P.B., no 6º vol. De sua Doutrina Secreta, a respeito de Ciclos e Avataras, mesmo porque, naquela época não poderia a mesma revelar o que a própria Lei exigia fosse feito mais de meio século depois de seu aparecimento na Terra, por um outro que, como anunciou ela mesma no Prefácio da referida obra, “viria no começo do século XX, etc., para completar tudo quanto não lhe fora permitido dizer”.

Ninguém pode, entretanto, admitir que tais revelações fossem feitas de público, mas a discípulos adiantados, desde que nosso próprio

Colégio de Iniciação, que é a STB, possui 3 séries de aperfeiçoamento, na razão de A, B e C, que tanto valem pelos 3 Vestíbulos ou graus iniciáticos, já que a própria Maçonaria os denomina de Aprendiz, Companheiro e Mestre e a Ciência oficial – que tem pôr origem, o que outrora se aprendia nos mesmos Colégios, adota o método gradativo de ensinamento, sob pena de estabelecer confusão mental nos seus discípulos ou alunos.

Nesse caso, o que trazemos hoje a lume, através de tão insignificante revelação é, ainda um véu diáfano com que se cobre a deusa Ísis, embora que, maior rasgão lhe demos do que os outros, como já foi dito, em épocas passadas.

Comecemos pelo termo JINA, por nós empregado a cada passo nesta revista: Não o escrevemos com G, como quer a grafia moderna, senão, também e sim com J, à antiga pela simples razão de não ser ele um termo ocidental, e sim, oriental ou sânscrito, possuidor de vários sentidos, que os próprios autores ocultista e teósofos o ignoram por completo.

Jina, embora sendo o termo genérico para se distinguir um Ser superior de um simples mortal ou humano, possui – como tudo na vida – sete sentidos.

Falemos primeiro do Homem Superior: O mesmo Buda chamava a si próprio Jina, como prova a revelação que faz ao seu discípulo Ananda: “Ananda, Eu sou um Jina, isto é, Eu não pertenço a este mundo”. Enquanto Jeoshua, com outras palavras: “Meu reino não é deste mundo”.

 

Jina, Super Homem ou “Homem representativo”, o Mahatma, para o qual o Adepto propriamente dito, não é mais do que um tulku na forma serial numérica, que não pode ser revelada de público. Nesse caso, tais Seres são dirigidos de baixo para cima, o que tanto vale dizer, da Agarta para o mundo terreno ou superfície da terra. Razão de se estabelecerem Regras com as quais se dirigem os referidos Seres, justamente, para que Eles não tomem outras diretrizes senão aquelas, de acordo com a missão que cabe a cada um deles. Do mesmo modo, a forma numeral das Linhas em que os mesmos se dividem e que, em sua forma integral, recebia outrora o nome de Shudha-Dharma-Mandalam, e hoje, outro bem diferente... Cada uma dessas Linhas é dirigida por um Ser mais elevado, ainda, ao qual outrora se denominava de Maha-Chohan. Pôr isso mesmo, cada uma delas com seu Raio, e não, um só Adepto para cada raio, na razão de sete apenas, como queriam Besant, Leadbeater e seus fiéis seguidores, mas, uma subdivisão do referido número (sete), dando a forma total, ou antes, potencial (cabalística, etc) da evolução completa da Mônada, na presente Ronda. Quem diz “raio” diz astro ou planeta. Donde os termos: Dhyan-Chohan-Planetário, etc. (Vide capítulo XXVIII de “O Tibete e a Teosofia”, intitulado) A GRANDE LOJA BRANCA E AS HIERARQUIAS na Shuda-Dharma-Mandalam).

 

Por trás de todos esses existe um outro da categoria mais elevada ainda, ao qual se dava o simbólico nome de Chakravarti, e, na Rosacruz, o de “Divino Rotan”, isto é, “Aquele que faz mover a Roda” ou Pramanta, etc. É a própria Roda no centro da Cruz, a qual pode ser substituída, tanto por uma Taça (a taça eucarística), como pôr um Coração, símbolo do Amor Universal. Nas escrituras orientais existe um outro termo que o define de modo mais sintético: Cri-Vatsa, “aquele que traz o peito chagado” ou coberto de feridas... a sangrar, etc. Do mesmo étimo ou origem, a própria Svastika, como cruz em movimento: theoin, astros, planetas, etc. Não confundir com a Sowastika, que é símbolo involucional ou de movimento em sentido contrário.

Reporte-se o leitor, a outros estudos nossos, nesse sentido, inclusive, em nossa obra O Verdadeiro Caminho da Iniciação, onde se fala, também, no Governo Oculto do Mundo e outros assuntos pouco estudados até a presente data, por serem de ordem secreta ou velada.

Jina, ainda, o TODE como guardião das embocaduras que conduzem aos reinos subterrâneos da Agarta. E os quais possuem um número secreto, de acordo com a evolução da Mônada através de uma Ronda completa, ou sete Raças Mães para uma delas, com as respectivas sete sub-raças, etc. E todos esses grupos de Seres (como Vigilantes Guardiães de Montanhas ou embocaduras) possuindo seu Chefe ou Guia, o termo “Tode” faz lembrar o de Totem, Tabu e outras coisas mais, como prova, pôr exemplo, os da Nilgúria (no sul da Índia) conversarem com os búfalos, “seu animal sagrado”, como se pode verificar nas esplêndida obra de H.P.B. intitulada Aux pays des montagnes bleus (“Montanhas azuis, como significado do mesmo termo Nilghiri, etc.). Por sinal que tais Seres ao lado dos “mulukurumbas, como degenerescência racial de uma evolução passada. Razão de sua reconhecida “jetatura” ou olhas funesto, que mata a qualquer indivíduo em 13 dias, a ponto das autoridades inglesas castigarem aqueles que olharem fixamente para qualquer de seus súditos. Entre uma categoria e outra se acham os Badagas, cuja origem sendo dos mesmos Todes, representam um “traço de união” entre o mundo agartino e o mundo terreno...

Jina, ainda, o próprio povo de Agarta, raramente aparecendo na face da Terra, mas que, na Índia, Tibete, Mongólia, etc., quando o fazem, são recebidos com manifestações de respeito e grande admiração pôr parte daqueles que os sabem distinguir das suas próprias gentes.

Jina, em relação com os elementais, espíritos da Natureza, ou Gênios, como já explicamos em nosso estudo Branca de Neve e os Sete Anões, onde também procurávamos provar a impropriedade do termo “anão”, que nada tem a ver com o referido conto e filme há tempos figurando nos programas d certos cinemas desta capital. E assim por diante.

Quanto ao termo avatara, em torno do qual se estabeleceu enormíssima confusão, a começar pelo de “troca de almas”, representa o mesmo fenômeno tulkuístico, como todos aqueles que acabamos de enunciar, porém, com as seguintes classificações: avataras totais ou cíclicos.

Momentâneos, sim, bem podem ser chamados “troca de almas”, porque, qualquer entendido no assunto poderá fazê-lo. Haja vista, o processo (que passou despercebido à David-Neel e aos mais conspícuos escritores ocultistas e teósofos) empregado, algumas vezes – como agora no Tibete, devido à política dos lamas tibetanos e chineses, para impingirem um novo Dalai-Lama, mesmo sabendo que não podia mais haver outro depois do último, segundo as tradições expressas em livros e manuscritos no mosteiro de Lhassa; do mesmo modo, com as séries dos trachi-lamas, como dos Budas-Vivos da Mongólia, como forma entra para as duas referidas Colunas ou Ministros, na representação, na face da Terra, do Governo Oculto do mundo. Sim, no momento da experiência do reconhecimento de um antigo lama ou Buda, afim de o mesmo ocupar suas antigas funções, etc. um outro mais experimentado, ali presente e que deseja governar através do pequeno tulku (razão de muitos serem assassinados antes de chegarem a adultos), se passa para seu corpo e vai apontando os objetos que pertenceram ao antigo lama, etc. com verdadeiro assombro dos presentes. Nada mais fácil no sentido apenas da escolha, se o lama-operador conhecida o “defunto”, seus hábitos, objetos de uso, etc., etc.

Essa mesma experiência a fizemos no começo de Dhâranâ – desde que a Lei exigia, tanto esta como outras demonstrações palpáveis da procedência de nossa Obra (do Oriente para o Ocidente, etc.), em presença de mais de cem pessoas, inclusive representantes da imprensa fluminense e carioca. Emissão, através de um pequeno vendedor de balas do Cinema Íris, trazido pela primeira vez ao nosso recinto, por um outro, que acabava, por sua vez, de dar ingresso em nossas fileiras. Ficando nosso corpo abandonado na cadeira da Presidência, nós passamos, isto é, nossos princípios superiores se passaram para o pequeno, que falou e fez prodígios, como se fossemos nós mesmos que continuássemos a sessão em nosso próprio coro. Outras vezes, tanto este pequeno, como uma jovem de nome Osíris, falavam páli e outras línguas ocidentais jamais poderia executar. Em tais ocasiões, ao invés de tulkus nossos, digamos assim, passassem a ser de outros postados em longínquas distâncias, como verdadeiros “Auxiliares invisíveis”, na construção espiritual de tão suntuoso Edifício. Mil vezes tivemos que provar que “não se tratava de espíritos, como julgavam certas pessoas presentes, adeptos do espiritismo, melhor dito, do “Animismo”, mas, de Seres possuidores de corpos bem semelhantes aos nossos, embora que, com direito – como já se fez ver – ao título de Jinas...

Avataras parciais, verdadeiros tulkus ou vestes para avataras totais ou cíclicos, que já fizeram seu aparecimento no mundo. Haja vista o que diz H.P.B a respeito de Jeoshua Sankharacharya e outros terem sido vestes de Gautama, o Buda, como “um Ser de outra ronda mais elevada” (já agora, opinião do Adepto, e não Mahatma, como dizem os de Adyar, denominado Djval-Kul, para eles Kut-Humi, quando tal nome pertence à uma das ... Linhas de Pramanta se Ele mesmo é um tulku na face da terra, para o Mahatma ou Homem Representativo, habitante da Agarta, etc. Eram palavras suas: “Não sou ainda um Adepto Perfeito. Encontro-me ainda sob a tutela ou aprendizagem e, digamos iniciação de um Outro Ser mais elevado”... Tais palavras ficaram incompreendidas até hoje, o que somente a teoria do tulkuísmo serviu, através de nossa boca... para serem reveladas).

Finalmente, avataras totais ou cíclicos, os que se manifestam em determinadas épocas de acordo com o fenômeno que envolve o número 432, acrescido de cifras, na razão das idades, etc. O mesmo Krishna tem estas palavras reveladoras (vida Bhagavad Gita), ao afirmar ao seu discípulo Arjuna:

“Todas as vezes, ó filho de Bhárata! Que Dharma (a lei justa) declina, e Adharma (o contrário) se levanta, eu me manifesto para a salvação dos bons e destruição dos maus. Para restabelecimento da Lei, Eu nasço em cada Yuga (idade, ciclo, etc.).  Vide O Verdadeiro Caminho da Iniciação onde se fala nas 4 Idades, etc.

 Inúmeras as pessoas que, por não saberem a razão pela qual os avataras são expressos, nas escrituras orientais, por meio de “animais sagrados”, consideram o precioso símbolo, de “pagão”, quando não o levam para o mais desprezível ridículo. É a eterna manta de querer criticar aquilo que não se conhece!...

Os temos ária, ariano, etc. provêm de ARIES ou Carneiro, cujo ramo racial era conduzido pelo Manu (chamemo-lo assim ) RAM ou RAMA, na planície do Eufrates.

Quando se diz que, “Buda morreu de uma indigestão de carne de porco”, que, tanto vale pelo avatara “javali”, como símbolo da Sabedoria expressa em seu tempo, como o foi no de outros, aquele que o simbolizava. Nesse caso, “Buda morre por ter oferecido em demasia ao mundo, a Sabedoria Divina de que era Ele portador”, isto é, cansado, fatigado pelos esforços, os mesmos obstáculos encontrados durante a sua missão na Terra.

Não se diz que ”Jesus traçou no chão um peixe, quando lhe apresentem a mulher adúltera”? Peixe ou Piscis, como signo de Júpiter tem que ver, além do mais, com as questões sexuais.

Assim, o Mestre ensinava por meio daquele símbolo, aos seus discípulos, que eram os primeiros a querer julgar a pobre mulher... “que a mesma era vítima da queda no sexo, como o maior mistério da própria queda do espírito na matéria, no começo das coisas”. E a prova é que completa a lição dizendo: “Aquele que estiver isento de pecado (isto é, deste pecado), que lhe atire a primeira pedra”...

Quando Moisés “proibia a carne de porco”, o fazia de modo velado, acompanhando, digamos assim, o do mesmo Buda, pois, além do seu sentido filosófico do maior transcendentalismo, possui o cientifico (o higiênico, digamos assim) dos males que resultam do uso de tal “carne”, muito mais, quando dela se abusa, como o fazem os habitantes de todo o triângulo mineiro, onde existe vultoso número de leprosos.

Pelo que deixamos subentendido, os avataras são todos relacionados com os Signos Zodiacais, como estes, por sua vez, o são com os astros ou planetas. Tal revelação só pode ser do conhecimento dos Iniciados. Aqueles que penetraram nas profundezas dos Grandes Mistérios que encobrem a vida do homem e da própria Natureza.

Existem várias maneiras de se expressar os Signos Zodiacais, sendo que, a mais conhecida, mui propositadamente complexa, a fim de evitar que fosse descoberto o seu verdadeiro sentido. Razão por que se compõem de animais e de objetos ou coisas, como por exemplo: Áries e Taurus, seguidos de Geminis (ou Gêmeos); do mesmo modo que, Virgo e Libra ou Balança, depois do Leão e antes de Scórpio, enquanto Aquário depois de Capricórnio e antes de Piscis... Tudo isso porque o seu sentido mais do que excelso. E foi a razão de o grande Iluminado Claude Bernard afirmar que, “chegaria o dia em que o Homem poderia ler, no livro aberto do firmamento, seus destinos passados, presentes e futuros”.

Mas vamos parar aqui para não termos a mesma sorte do Buda, isto é, de “morrermos de uma indigestão de carne de porco “, que tanto vale por ensinamentos esotéricos, que não podiam ser oferecidos em demasia, principalmente aqueles que não estejam ainda em condições de recebe-los... Donde a sábia sentença atribuída a Jeoshua: Margaritas ante porcus (não atireis pérolas aos porcos), que continua sendo ainda um simbolismo “animal”...

Pena que outros também morram “ por não se afinarem consigo mesmo, com a sua missão, com a maneira de se conduzir para com a Lei, que a tudo e a todos rege”. Dentre eles, o grande Amadeu Wolfgang MOZART, por ter musicado o D. JOÃO de Moliére. Muito pio, sendo o maravilhoso compositor, um rosacruz. Byron também sofreu por haver escrito o seu. No entanto, Guerra Junqueiro aniquila, mata moralmente a quantos D. João possam existir neste baixo mundo ou inferior (de in-fera ou inferno), mundo em que vivemos, por meio da sua lira sagrada: a Lira de um dos mais primorosos poetas que o mundo já teve a ventura de possuir. Por isso mesmo, um gênio ou Jina.

Sim, D. João é a expressão mais grosseira do termo AMOR (Mor, Mors ou Morte, embora que, anagramaticamente, ROMA e RAMO, para definir um passado histórico.... da própria evolução humana). Nesse caso, não AMOR, propriamente dito, mas paixão, que é coisa bem diversa, como estamos fartos de o provar em nossos humildes trabalhos.

Paira ainda no espírito do carioca e no de quantos residem nesta privilegiada capital, o horrível desastre que se deu nos céus da Guanabara, entre um avião argentino e outro da VASP, que se dirigia para São Paulo. Pois bem, entre aquelas pobres vítimas de tão tremendo desastre, figurava eminente teosofista, por sinal que, amigo do grande Roso de Luna, quando este pertencendo ainda ao número dos mortais, o mesmo que criticava acerbamente quantos ousam confundir as com as do Espírito com as da matéria, como prova seu preciosíssimo estudo, Quando se morrem, publicado em um dos primeiros números desta revista. A pessoa a que nos referimos dirigia-se para a capital paulistana, onde ia realizar uma confer6encia intitulada: A Vida amorosa de D. João. Mais uma vez, a matéria sobrepujando o Espírito, digamos, representado pela Teosofia, que foi desprezada pelo trágico D. João de todas as épocas, fazia cair tão perigoso Karma, sobre aquele que se desviara dos sãos princípios que regem a Evolução dos seres..

Não e apenas o que se faz (os atos), que ocasiona sofrimentos; o mesmo acontece com o que se diz ou escreve, na razão de “palavras, atos e pensamentos”, bons ou maus. Razão do precioso símbolo do Anjo (melhor dito, Arcanjo) Miguel sustentando uma Balança, em cujas conchas se pesam esses mesmos atos, palavras e até pensamentos, que se não podem ocultar da consciência Universal, que em nós mesmo vibra de modo parcial...

“O que o homem pensa, cria”, dizem os livros sagrados do Oriente.

Pobres escritores de livros malsãos! Por tudo isso e muito mais ainda, a exigência de termos escrito o nosso: O VERDADEIRO CAMINHO DA INICIAÇÃO.   “Quanto mais pesado fizeres o mundo, mais o mundo pesará sobre ti”. Sem comentários...

 

Em resumo, o tulku é a projeção, emanação ou sombra transitória, neste mundo, de entidades de categoria imediatamente superior. Como tudo em a Natureza é tulku de algo deífico, que se encontra sempre por cima: o homem, do Jina; o animal, do homem; a planta, do animal e apedra ou mineral, da planta...

O assunto, como se vê, merece maior atenção, como é aquela que lhe vamos dispensar nas humildes linhas que se seguem, às quais damos o título de:

 

REENCARNAÇÃO, METEMPSICOSE e HIPÓSTASE ou TULKUISMO

 

Para o cético positivismo que, à guisa de verdadeira ciência usamos aqui no Ocidente, nossa vida física ou corrente, onde tudo se acaba, reduz a zero todos os humanos esforços... Assim, não é dele de que nos vamos ocupar, nem das interesseiras religiões ocidentais, no seu aniquilamento estéril, ou melhor, que prefere simplificar todos aqueles esforços, numa anti-científica e filosófica teoria de premiar (com o céu), retardar a evolução post-mortem (com o purgatório) e castigar com as penas eternas (o inferno), o que a própria Divindade criou, ou antes, projetou de si mesma como uma infinidade imensa de tulkus (seus) através de várias etapas evolucionais ou categorias...

 

Contrariamente, as religiões orientais, como mais próximas da Verdade (Sanatana- Dharma, Gupta-Vidya, Brahma Vidya,teosofia ou Sabedoria Iniciática das Idades), pois que desta saíram, como pobres ramos desfolhados e carcomidos, aqueles que ousam renegar o próprio sangue que lhe corre nas veias, são todas elas unânimes em afirmar “uma vida futura”. E se elevarmos um pouco o véu de seu ainda grosseiro exoterismo, a de outras vidas passadas, pois que a atual é uma simples encarnação, segundo a frase de Kardec de que “o berço temo seu ontem e o túmulo, seu amanhã”, com direito a mais amplo critério, que é o início de uma mui lógica e científica concepção.

 

Porém, nós outros os Teósofos, não nos contentando com as vagas linhas de evolução esboçadas, mui superficialmente, em semelhantes doutrinas, procuramos desenvolver a análise e a crítica filosóficas, que desde logo se apresentam diante de nós como a doutrina pitagórica da Metempsicose:

Com efeito, se “nada se perde nem se cria na Natureza”, mas se “tudo se transforma” um perpétuo futuro (porvenir ou por-vir), lógico é pensar em que as passionais atividades de nossa Mente criam “torvelinhos astrais”, os quais tendem logo a encarnar-se, o que tanto vale pela “encarnação de nossas próprias idéias”. Razão de sermos protegidos ou perseguidos, invisivelmente, de acordo com as nossas próprias tendências ou skhandas, como se diz no Oriente. “Quem semeia ventos, colhe tempestades”. “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

 

Assim, enquanto o Ego humano segure sua idêntica evolução de mundo a mundo, as “vidas” que lhe estão subordinadas, como outros tantos “tulkus” ou projeções mentais, lutam, por sua vez, a fim de escaparem da coordenadora e suprema ação de sua Vontade ou Consciência, o que acaba pôr se dar com a morte física, seguindo sua própria evolução, mui distinta e inferior à nossa, isto é, à do seu Criador. Tais micróbios (micróbios) ou “pequenas vidas”, como diria Paracelso, constituem o “núcleo psíquico” ou “alma animadora” (à parte o pleonasmo) de outras tantas entidades astrais, as plantas e até as pedras (todos dotados de almas) são uma Metempsicose ou manifestação. Quem sabe se não é a razão de todos os animais, especialmente os mamíferos, possuírem como característica, algumas das passionais do homem? Exemplo: a timidez da lebre; a astúcia da raposa; a pachorra do elefante; a ferocidade do leão; a melancólica soturnidade do morcego ou a comodidade egoísta do gato, etc. etc.? São demasiadamente humanos os referidos animais superiores, para que a sua psiques não esteja ligada com a nossa, quer nos termos evolucionais e de progresso específico, como nos ensina a biologia ocidental, quer nos involucionais ou regressivos, que parecem proceder do modo de pensar do Oriente! “Não lhe batas! Dizia certa vez Pitágoras, a um dos seus discípulos – ao vê-lo bater em um cão, em cujo uivo reconhecia ele a voz de um velho amigo já falecido”.

 

O “magnetismo animal”, tão em voga entre os homens da Revolução Francesa, consulentes da “cuvette de Mesmer” e assistentes das reuniões espíritas dos que julgavam copiar Cagliostro,é denominado Gina ou Jina entre os chineses. E isso, pôr uma razão de pura metempsicose: a de toda força psíquica capaz de produzir fenômenos superiores aos de cada indivíduo, provir do “Jina ou Ser superior”, que ao mesmo preside e de quem não é, senão uma projeção, derivação ou tulku.

 

Claro é que existem tulkus por antonomásia, e estes são homens, por qualquer conceito, distintos, isto é, pela excelsa honra de serem cobiçados, temporária ou permanentemente por um Ser superior ou Jina. Assim, um discípulo ou “pupilo”, para aquele a quem pode denominar de Mestre; do mesmo modo que este para um Mahatma ou “Homem representativo”, que o maneja, em tal mente, do Lugar onde se encontra, na maioria dos casos, da Agarta, como denominamos os reinos subterrâneos... Não é o próprio Ishivara um tulku de outro mais elevado e todos esses, reunidos (em número velado ou secreto) Tulku maior daquele ou d’Aquilo a que denominamos de Causa Primária?

 

Embora que o budismo original negue a existência de uma alma permanente, que transmigra e considera mesmo a semelhante teoria “como o mais pernicioso dos erros”, diz David-Neel, a grande maioria dos budistas caiu na velha crença dos hindus, quanto ao Jiva ou “Ego, que é, periodicamente, obrigado a abandonar seu corpo já gasto, para um outro novo, tal como o fazemos com uma veste bastante usada, trocando-a por outra”.

 

Quando o tulku é considerado como a encarnação de um deus ou de alguma personalidade mística, que com ele coexiste... a teoria do Ego mudando sua veste carnal, não pode servir para explicar a natureza do fenômeno... Porém, a opinião da maioria do povo tibetano não chega a tanto, pois, na prática, todos os tulkus, mesmo os de Seres super humanos, são considerados como a reencarnação de seu antecessor.

 

O antecessor de uma linha de tulkus (linha ou série, desde que possui um número certo...)é chamado Ku-kong-ma e embora que isso não seja condição essencial, pertence à ordem religiosa. Entre as exceções desta regra, podem ser citadas as do Pai e da Mãe do reformador Tsong-Kapa, desde que ambos possuem seus cargos no mosteiro de Kum-Bum. Ao lama considerado como a encarnação do Pai de Tsong-kapa se denomina de Aghia-tsang, pois é o proprietário nominal do mosteiro. Quando eu vivia em Kum-bum era ele um jovem de uns dez anos. A mãe do reformador encarna-se num outro pequeno que é o lama Tchangsha-Tsang. Em casos semelhantes, os tulkus de laicos, com raras exceções, estão incorporados ao clero.

 

Existem também religiosos tulkus de santas ou de deusas. Particularidade notável sobre o caso, o das mesmas, embora vivendo em ermidas, serem abadessas de mosteiros de homens, e não, de mulheres, o qeu não os obriga, senão, a ocupar o trono abacial nos ofícios solenes. Fora disso, vivem elas em seus palácios particulares, com seus servos laicos e religiosos. A administração efetiva de todos os mosteiros, seja qual for o seu nominal senhor, é confiada a funcionários eleitos pelos monges.

 

À parte os funcionários efetivos exercendo autoridade nos mosteiros, cujos bens temporais administram, o clero tibetano possui uma aristocracia eclesiástica, cujos membros são denominados lamas-tulkus, a quem os estrangeiros, mui impropriamente, denominam de “budas-vivos”.

 

A natureza dos tulkus jamais foi corretamente definida pelos escritores ocidentais. E pode-se mesmo afirmar que nunca puderam saber o verdadeiro significado do referido termo.

 

Embora que a existência de avataras de deidades e de outras proeminentes personagens já fosse, desde tempos remotos, admitida no Tibete, a aristocracia dos tulkus não se desenvolveu na sua forma atual, até o ano 1650. Em tal época, o quinto grande lama da seita dos gelugpas ou “manto amarelo” (chamada dos Lob-zangogyatso), acabava de ser reconhecido soberano do Tibete, por um príncipe mongol, do mesmo modo que pelo Imperador da China. Não lhe bastavam essas honrarias, pois que, o ambicioso lama, arranjou para si, dignidade mais elevada, fazendo-as passar uma encarnação ou tulku de Tchen-rezigs, alta personagem do Panteon maha-janista. E ao mestre que o havia instruído e lhe testemunhava paternal afeição, o de grande lama do mosteiro de Trachi-lumpo, declarava que, “tal mestre era o tulku de eupamed, um Buda místico de quem Tchen-rezigs, fora filho espiritual”. O exemplo dado pelo “lama-rei” aumentou consideravelmente a criação dos tulkus e logo, todos os mosteiros, por pouco importantes que fossem, fizeram questão da alta honra em possuir à sua frente a encarnação de alguma excelsa personagem. Não se julgue tão pouco, que aqueles dois ilustres troncos das linhas dos tulkus, como crêem os estrangeiros sejam de duas linhas avatáricas do Buda histórico...

 

Segundo a crença popular, um tulku é , de fato, a reencarnação de um santo ou de um sábio não mais pertencente a este mundo: deus, demônio, fada, etc. (pelo que se vê, uma adulteração de velhas tradições como aconteceu com as próprias religiões, em relação à Sabedoria primitiva). Como se deve prever, grande é o número de tulkus da primeira categoria; a segunda não conta, senão, com alguns raros avataras de personalidades místicas, tais como o Dalai-lama, Trachi-lama, a famosa Dorgi-Phagmo, “encarnação da deusa porca” (mais outra adulteração do simbolismo animal e das próprias tradições primitivas do Tibet), aspecto sombrio, feminino, da série tulkuistica dos Nirmanakayas negros, que envolve, também, o culto shivaita hindu (outra adulteração do verdadeiro sentido da Trimurti) e quantos outros cultos, mais ou menos idênticos, inclusive o das evocações dos mortos, pouco importa o nome que se lhes dêem, possam manter a maldade e a ignorância entre os homens.

 

No Zend-Avesta, tais seres são representados pelo Angra-Maniús, como formas sombrias dos Amesha-Spenta, enquanto estes os mesmos Dhyanis-Chohans (Arcanjos da Igreja) das tradições trans-himalaias, que tanto valem, ainda, pelos Nirmanakayas brancos, à parte a confusão estabelecida entre os mais conspícuos representantes do Ocultismo e da Teosofia no mundo.  32

 

Quanto à famosa “deusa-porca ou Dordgi-Phagmo” é seguida de uma categoria inferior de certos deuses (pseu-autóctones), como Peckar, por exemplo, cujos tulkus exercem as funções de oráculos, alguns deles oficiais...

 

Os tulkus de deuses, de demônios e fadas, aparecem, sobretudo, como heróis de lendas, embora que alguns, como homens e mulheres, gozem atualmente desse “privilégio” em suas cidades e a sua maior parte como ngags-pa, magos ou feiticeiros, fora do clero regular. Em um ou outro lugar encontra-se, enfim, um tulku laico, tal como o rei de Ling, considerado como a encarnação do filho adotivo do famoso herói Guesar de Ling. As mulheres são a encarnação de Kan-dhomas ou fadas podendo ser, indiferentemente, religiosas ou mulheres casadas, acontecendo porém que esta última classe de tulkus não se tenha colocado ao lado das outras duas na aristocracia eclesiástica, e até, de supor que possua a sua origem fora do Lamaísmo, em antiqüíssima religião do Tibete”.

 

A respeito desses últimos dados julgamos haver algo a retificar: embora que a doutrina dos tulkus se fizesse pública em 1650, como diz a autora é ela essencial e característica da Sabedoria Antiga, porque, representa um progresso, um passo a mais na revelação do mistério da vida... que os representados pelas doutrinas da Reencarnação e Metempsicose. A referida doutrina tornou-se assim, semi-esotérica graças à grande reforma de Tsong-kapa, pois, até chega a esse reformador foi ela de ordem “secreta”, pela dificuldade talvez de sua exata compreensão “orgânica” ou “serial”, pôr parte das mentalidades não desenvolvidas. E, mesmo assim, sujeitou-se a graves abusos, como a própria autora insinua... embora que possuindo inúmeros e desconcertantes fatos, como aqueles que vamos descrever com o título:

 

32 A mesma H. P. Blavatsky, na sua Doutrina Secreta, embora veladamente, fala nos referidos seres do seguinte modo: “A Humanidade civilizada, por mais cuidadosamente amparada que esteja por seus Vigilantes Guardiães (os Nirmanakayas Brancos)”, no entanto sofre a ação maléfica dos Nirmanakayas negros, encarnados e desencarnados, etc.

Não vale apenas indicar quais sejamos seus “tulkus encarnados”, digamos assim, porque o leitor inteligente saberá descobri-los por si mesmo, em tudo quanto esteja fora da Lei, que tanto vale, pelos que descambaram para o Mal. Que respondam os “instigadores das guerras...” e de outras coisas mais.

 

 

AS CRIANÇAS TULKUS TIBETANAS E SEU PRODÍGIOS

 

O argumento que, naturalmente, se apresenta contrário às reencarnações, é o de não nos recordarmos de nossas vidas anteriores embora que nada de bom tivéssemos que recordar de todas elas, sem o que, não estaríamos no mundo a sofrer tão amarguradamente...

 

Ademais, se tivéssemos recordação de nossas vidas anteriores, como se processar a marcha lenta da evolução, através dos vários ciclos de consciência por que é repartida a vida Universal? O mesmo globo em que vivemos acompanhando pari-passu a referida evolução, como prova não estar ainda de todo formado. Haja vista, os cataclismos ou movimentos sísmicos, que não são mais do que processos de reconstrução, de restabelecimento das células gastas ou arruinadas no organismo a Terra. Por isso que, se processando de dentro para fora, como as próprias moléstias que afligem o homem. Não sofre dos mesmos males, senão de outros mais graves, o Sol que tomamos como fonte de Vida de nosso Sistema? Os próprios astrônomos já pensam do mesmo modo, quando se referem às “manchas solares” à parte o fragilíssimo juízo que fazem de quanto se manifesta na abóbada celeste.

 

Se a evolução da Mônada fosse levada a efeito de modo consciente, todo seu valor espiritual desapareceria! Sim, porque a Consciência Integral sé se alcança no final dessa mesma evolução, a menos que se trate de indivíduos que se distanciaram dos demais seres humanos, procurando aniquilar em seu redor a matéria grosseira que envolve o Espírito ou Ego, que dá a consciência plena das coisas, justamente pôr nos tornar Uno com a Consciência Universal! Donde se dizer que “Maia é a ilusão dos sentidos”, ou melhor, essa mesma matéria que serve de espesso Véu à Verdade, na sua prístina integridade.

 

Do mesmo modo que, “todo sofrimento humano provém de Avidya (contrário à Vidya, conhecimento, Sabedoria, etc.) ou a ignorância dos meios que se deve por em prática a fim de adquirir a Superação o que tanto vale, por sua própria redenção. Donde o “Fazei por ti, que Eu te ajudarei” atribuído a Jeoshua. E não que se pague a outro que o faça por nós, o que não passa de infantilidade, para não dizer exploração... Donde afirmamos a cada passo que, “somente os impúberes-psíquicos” (ou almas jovens, etc.)se apoiam nas falsa muletas religiosas, ao invés de escolherem o Caminho (difícil, embora) da Iniciação. Nesse caso, “lei do menor esforço”, o que é mui comum na maioria dos homens, embora que sujeitos a novas etapas de vidas ou sofrimentos, até o Grande Dia em que – por acúmulo de experiências (o “caindo e levantando” do Caminho do Gólgota ) venham a ser atraídos para o verdadeiro Caminho que é o da INICIAÇÃO.

 

No entanto, inúmeros são os casos no oriente e, sobretudo, no Tibete, de “recordação da vida ou vidas passadas”, algumas delas presenciadas pela mesma Sra. David-Neel, especialmente, nas categorias mais elevadas dos lamas daquela região considerada como “telhado do mundo”

 

Os jubilghams lamaístas ou “Budas encarnados” em crianças, representam algo muito acima de nossa maneira ocidental de raciocinar, como se poderá verificar através das palavras da autora de Místicos e Magos doTibete:

“Não obstante, as teorias mais menos sutis que correm entre os intelectuais tibetanos a respeito dos tulkus, são esses considerados” como efetivas reencarnações de seus antecessores”, como provam as mesmas cerimônias oficiais do seu reconhecimento.

Acontece, freqüentemente, que um lama-tulku prediga em seu leito de morte a região onde vai renascer, acrescentando muitas vezes os detalhes acerca de seus futuros pais, local onde vai residir, etc. Mais ou menos, dois anos depois de seu falecimento é quando os seus empregados começam as buscas sobre a sua nova encarnação. Se o falecido lama fez predições concretas sobre o caso, seus antigos auxiliares procuram seguir tais indicações. Com efeito, logo consultam um lama astrólogo e clarividente, que indica, em termos quase sempre obscuros, o país onde se encontra a criança e os sinais do seu reconhecimento. Se se trata de um tulku de elevada categoria, é consultado um dos oráculos do Estado, coisa obrigatória quando se trata da reencarnação do Dalai-lama ou do Trachi-lama.

 

Algumas vezes, a criança corresponde à descrição feita pelo adivinho. Em outras, passa-se anos sem que se possa encontrar nenhuma naquelas condições, o que ocasiona grande tristeza entre os fiéis laicos do lama e seus próprios monges. Quando uma criança corresponde, pouco ou mais ou menos, às condições descritas, é novamente consultado o lama-adivinho e se este se pronuncia a favor do candidato, submete-se tal criança à prova de apresentação de determinado número de objetos pessoais do falecido lama, de permeio a outros análogos, para que a criança designe os seus, ou melhor, demonstre reconhecer aqueles que lhe pertenceram na encarnação anterior. Quando são vários os candidatos, numerosos discussões e intrigas ocorrem entre a s suas famílias e partidários...

 

A respeito das crianças-tulkus, numerosas histórias correm de um lado a outro do Tibet, provando sua identidade pôr incidentes da vida passada. Poderia narrar, às dezenas, várias deles, onde, além do mais, encontraríamos no Tibete a sua mescla habitual de superstições, intrigas, fatos desconcertantes, até cômicos... Valham, entre eles, estas duas amostras:

Ilustração: foto

Legenda:

“Criança-tulku” tibetana, cuja expressão fisionômica evidencia que atrás de tão débil compleição, oculta-se um outro Ser de categoria mais elevada. Note-se a tradicional saudação feita com o artelho do pé direito entre dois do esquerdo... (Esta fotografia dos arquivos da S.T..B. já foi publicada nos – nº s: 95 e 98 de “Dhâranâ”).

 

 “Ao lado do palácio do lama-tulku Pegyar, onde me encontrava alojada, no mosteiro de Kum-bum, erguia-se a residência de outro tulku chamado Agnai-tsang (“a chama ardente”, dizemos nós). Sete anos haviam transcorrido da morte deste último e sua “encarnação” não tinha sido ainda descoberta, o que pouco afligia ao intendente da casa, cujos bens prosperavam muito mais do que os do falecido... Aconteceu, porém, que no decorrer de um sua viagem comercial, quando dava entrada em uma granja para beber e repousar, e a dona da mesma lhe preparava o chá, ao retirar do bolso uma tabaqueira de jaspe, uma criança que brincava com outras, no alpendre, logo do mesmo se aproxima e, colocando a mão sobre o referido objeto, lhe diz em tom de repreensão:

“Por que te utilizas da minha tabaqueira?”

 

O intendente ficou completamente transtornado, como se fosse ferido pôr um raio, pois que, em verdade, a tabaqueira não lhe pertencia, e sim, ao seu falecido amo Agnai-Tsang. Pasmo, trêmulo e a olhar o pequeno, mais assombrado ficou quando este, fixando-o severamente lhe diz:

“Devolva imediatamente aquilo que me pertence”.

 

Invadido pelo remorso, aterrorizado e confuso, o supersticioso administrador atirou-se de joelhos aos pés do mestre encarnado. Alguns dias mais tarde, a criança era levada com grande pompa à sua antiga residência, trazendo ricas vestes de seda amarela e cavalgando negro cavalo, cuja brida era sustida pelo intendente que ia a pé.. Quando o cortejo chegou ao palácio, o jovem observou: “Por que havemos de tomar à esquerda se, para chegar ao pátio, a porta fica à direita?” A observação era exata. Por qualquer motivo, a porta que outrora se encontrava daquele lado, fora entaipada depois da morte do lama, e outra aberta em seu lugar, do lado contrário. Os monges ficaram pasmos diante dessa nova prova de autenticidade de sue lama, o qual foi, em seguida, conduzido ao seu apartamento privado, sendo-lhe servido imediatamente o chá. A criança, sentada em uma alta pilha de ricas almofadas, reparou no precioso vaso de jaspe, repousando sobre uma bandeja encarnada, cujo vaso possuía uma tampa ornada de turquesas:

Dai-me o outro aparelho de porcelana, ordenou o pequeno, descrevendo, com todos os seus enfeites, outro que viera da China.

 

O administrador e os monges esforçavam-se, em vão, por convencer ao jovem lama de que jamais aquela peça havia existido no palácio. Naquele momento, valendo-me das boas relações que tinha com o administrador, entrei na estância, pôr já conhecer a história da tabaqueira e desejosa de observar, por mim mesma, o meu estranho vizinho, a quem ofereci, segundo o costume, uma mantilha de seda e outros presentes. O jovem os recebeu com um sorriso de gratidão, continuando, porém, preocupado com o assunto em questão:

Procurai melhor e o encontrareis, assegurava ele, em tom de convicção do que dizia.

 

De repente, como se um relâmpago fulgurasse em sua mente, deu vários informe acerca de uma grande arca pintada com determinada cor e colocada em outro lugar, num apartamento onde eram guardados os objetos raramente usados. Os monges tinham-me informado a respeito do que acontecia, o que me fez permanecer na câmara do tulku, ansiosa por saber como acabaria tudo aquilo. Meio hora mais tarde, a rica peça, com seu prato inferior e tampa, era trazida em uma caixa que se encontrava no fundo da arca descrita pelo pequeno:

Eu ignorava, por completo, a existência de semelhante objeto, assegurou-me, mais tarde, o intendente. O próprio lama meu antecessor, foi, com certeza quem o guardou no cofre, onde não havia nenhum outro objeto de valor, além de não te sido aberto durante todo aquele tempo”.  Ilustração: foto    Legenda:

 

Este é o pequeno lama-tulku que, recordando-se da sua encarnação anterior e apresentando provas insofismáveis sobre a sua personalidade, toma posse de tudo quanto lhe pertencia. A fotografia foi tirada, justamente, no dia em que voltou para os seus domínios.

 

Fui ainda testemunha da descoberta de um tulku em circunstâncias tão fantásticas quanto ao precedente. O acontecimento ocorreu em uma e que na aldeia não longe de Ansi, no Gobi. Inúmeros caminhos que vão da Mongólia ao Tibete atravessam nesta comarca infindável, que se estende de Pequim a Rússia, ligando todo um continente. Ao aproximar-me do albergue tive o desgosto de ver chegar ao por do sol, uma caravana mongol, cujos componentes pareciam excitadíssimos, como se algo extraordinários acabasse de acontecer. Entretanto, pela sua habitual cortesia, acrescida de nossos hábitos religiosos lamaístas, cederam-me à minha gente, um pequeno apartamento e lugar na quadra para os nossos animais.

 

Enquanto eu e meu filho adotivo Yongden nos entretínhamos a contemplar os camelos enfileirados no pátio, a porta de uma das câmaras se abriu e um jovem de alta estatura e fisionomia agradável, porém pobremente vestido, detendo-se no umbral, procurou saber se éramos tibetanos, ao que respondemos afirmativamente. Então, um lama idoso, cujo aspecto nos fez adivinhar que era o chefe da caravana, mostrou-se por trás do jovem e começou a falar em tibetano.

 

Como sói acontecer em encontros desse gênero, encetamos, uma conversa relativa ao país donde vínhamos e para onde tencionávamos voltar. O lama, por sua parte ir a Lhassa, por Sutchu, servindo-se do caminho apropriado ao inverno; porém, que semelhante viagem se tornara desnecessária, e já agora pensavam em volver à Mongólia. OS empregados ocupados no pátio demonstravam o seu assentimento com um movimento de cabeça. Eu perguntava a eu mesma, que teria acontecido para aquela gente mudar tão repentinamente de direção? Mas, não quis seguir o lama que se retirava para sua habitação e, muito menos, de o interrogar a respeito. Mais tarde, entretanto, quando se achavam informados, por nossos empregados, de quem éramos, os mongóis nos convidaram a tomar chá com eles e nos relataram a sua história:

“O guapo mancebo havia nascido na longínqua província de Ngari, ao S. O. do Tibete. Parecia um tanto visionário, tal como o julgariam os ocidentais; porém, não devemos esquecer que estávamos em pleno coração da Ásia.. Logo na sua primeira juventude, Mighyur, que tal era seu nome, tornar-se obcecado com a estranha idéia de que “ela não era o que parecia ser”. Sentia-se estrangeiro em sua aldeia , do mesmo modo que no seio da família... Contemplava em seus sonhos, paisagens que não existiam em Ngari, arenosas soledades, tendas redondas de pele de animais, e um pequeno mosteiro a cavaleiro de uma colina. Mesmo acordado, continuavam as visões, sobrepondo-se aos reais objetos que o cercavam, envolvendo-o em perpétua “miragem”...

 

Não contava ele ainda com quatorze anos, quando fugiu de sua casa, não podendo resistir ao íntimo desejo de alcançar a realidade de suas visões. Depois disso, tinha vivido como um vagabundo, ora trabalhando, ora mendigando, errante e sem poder dominar as suas aspirações, nem fixar-se em parte alguma. Dirigia-se, ultimamente, de Aric, ao norte do herbáceo deserto tibetano. Caminhando em sentido contrário e sem objetivo algum aparente, acabava de chegar, por sua vez, algumas horas antes, a referida caravana. Apercebendo ele os camelos postados no pátio, transpôs a soleira da porta e sem saber da razão, encontrou-se de frente com o velho lama... E então, com a rapidez do próprio raio, tudo se aclarou na sua mente a respeito do passado: viu ao mesmo ancião como um jovem discípulo seu. E a si mesmo, como um lama idoso, viajando ambos nesse mesmo caminho, de regresso de longa peregrinação aos santos lugares no Tibete e voltando com o mesmo ao mosteiro situado sobre a colina. Tudo isso foi relatando o jovem ao chefe da caravana, com minuciosos detalhes sobre a sua vida em longínquo mosteiro e mil outras particularidades. E como essa viagem dos mongóis não visasse outra coisa, senão, rogar ao Dalai-lama que lhes indicasse o meio de descobrir o tulku senhor de seu mosteiro, que estava vago há mais de vinte anos, não obstante os esforços que se empregavam para ser descoberta semelhante encarnação. Aquelas supersticiosas gentes não estavam longe de crer, que, por motivo de sua onisciência, o Dalai-lama pudesse adivinhar a sua intenção... e a imensa misericórdia daquele havia provocado o encontro da piedosa caravana com seu lama encarnado. O vagabundo de Ngari havia sofrido imediatamente a prova habitual, retirando de um saco, sem engano, nem excitações, diversos objetos pertencentes ao falecido lama, previamente misturados com outros idênticos. Nenhuma dúvida, pois, existia para os mongóis, a respeito da autenticidade de eu encontrado tulku, e na manhã seguinte pude contemplar como se afasta a caravana, ao passo lento de seus enormes camelos, desaparecendo no horizonte, na imensa solidão do deserto de Gobi... Com ela caminhava para seus novos destinos, o jovem tulku...”.

 

Embora que o cético, em vista deste e de outros surpreendentes casos de tulkuismo, não se atreva a sorris, pelo menos, poderá formular a seguinte pergunta?“ Por que semelhantes casos não tem lugar no Ocidente?” observação esta que não deixa de  possuir uma boa oportunidade para se dizer que, tais casos se apresentam no ocidente, mas , nem todos são trazidos à luz do dia, ou antes, ao conhecimento do mundo... 33

 

33 Inúmeros são os caso dessa natureza no ocidente. O próprio Cel. de Rochas relata diversos, do mesmo modo que os livros ocultistas. Os próprios jornais já enchem as suas páginas, quando sobram para tanto... de casos idênticos. E para não irmos muito longe, tivemos uma filha – que sabíamos ser uma outra já falecida – que disse certa ocasião à sua mãe: “Eu não morri uma vez e você não me cobriu com uma colcha cor de rosa? ” Inútil dizer quão feliz sentiu a mãe de tão privilegiada criança, em ter a certeza do que lhe afirmava o esposo, depois que perdeu a primeira filha, por sinal que ambas de nome Alina, justamente, pela certeza que possuía o pai de ser a mesma... Outras vezes, punha-se a desmagnetizar (passes em sentido contrário) os alimentos que a mãe lhe punha em seu prato, pois da primeira vez que teve tal proceder, procurando-se saber do motivo por que procedia assim, ela responde: “Para afastar as más vibrações da cozinheira”. O fato é relatado, entre outros, em nosso livro (O Verdadeiro Caminho da Iniciação). De um outro sabemos, que, com dois anos apenas de idade, já marcava compasso, até, acompanhando o ruído dos veículos que passavam na rua, ou quando a mãe a ninava no colo, seguindo o ritmo da cadeira de balanço. Sem falar em certa vez que fomos ao harmonium para ver até onde chegava a consciência artística do pequeno (residente ainda em São Lourenço, por sinal que filho de um casal amigo). Além de ao acompanhar o ritmo da música, quando viu que a mesma ia terminar, foi diminuindo o compasso executado por ambos os braços, deixando-os cair para baixo, justamente, quando demos como fido o improviso musical, o que se torna mais importante por não ser uma música conhecida ....

Por sua vez , na Índia, uma criança de nome Tun-Tyne, filho de Rangoon, que aos cinco anos fazia pasmar os mais doutos sacerdotes brâmanes e budistas, discutindo os mais complicados problema filosóficos, conhecidos e desconhecidos, principalmente concernentes ao Budismo. De fato, esse pequeno prodígio jamais freqüentara escolas primárias, quanto mais, Universidades, como fizeram com Joe Krishnamurti, a fim de que o mesmo pudesse “ser Messias ou Instrutor dos anjos e das religiões”. “Jeoshua, aos 13 nos, discutia com os doutores, no templo”.

É da mesma Índia, o seguinte telegrama: Madras, 20 – Acaba-se de descobrir um prodígio matemático de onze anos. Foi trazido a Madras, por seu pai, procedente de Madura capital religiosa da Índia do Sul, onde assombrou a todo mundo, por seu estranho conhecimento das matemáticas superiores. Raiparayanan, que assim se chama tal pequeno, foi examinado pelo diretor europeu da Instrução pública, que o qualificou de “Gênio”.

E como esses, dezenas de outros que nem sempre chegam ao conhecimento do mundo. Não encontramos, de momento, melhor palavra para expressar a de “tulku” em ação, como a hipóstase grega: “colocado sob ou em subordinação a este ou aquele” (caso, pessoa, etc.). Semelhante palavra além do mais, não abre novos horizontes históricos filosóficos acerca do que poderíamos chamar de “tulkuísmo” no Ocidente, já que a religião crista considera a Jesus “como a Hipóstase da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade” (Pai, Filho e Espírito Santo) ou a Terceira, na de Pai, Mãe e Filho, dos ófitas, gnósticos e outros pseudo “hereges”. Além de que, Jesus, na sua vida terrena se fôramos seguir os Evangelhos, agia, algumas vezes, por si, como “Filho do Homem” (verdadeiro significado do termo “Jeoshua Ben Pandira”, como seu verdadeiro nome), nesse caso, tulku, e em outras como Deus (jina, etc.) . E tão adequada é para nós a palavra Hipóstase, como substituta de tulku, que ao ser Jesus, para o cristianismo, “uma Hipóstase da Divindade”, não distantes se acham os tibetanos, segundo vimos, de aceitar como tulku, todo aquele que se acha sob a égide, controle, direção, etc. de uma Entidade superior. Entidade que (como a de Sócrates, o seu "Daimon", sem o sentido errôneo que lhe dá a Igreja) teve de o abandonar na cruz, a julgar por ou as próprias palavras Elli, Elli (ou Elias, Elias! a entidade solar, hipostática, dirigente, etc.) por que me abandonastes? o que, além do mais, vem provar que tal “hipóstase”, Yoga, união etc. entre o Jina e o Tulku nem sempre é permanente (na razão dos avataras momentâneos ocasionais a que nos referimos em outra anotação deste estudo).

A diferença entre a Hipóstase de Jesus para o cristianismo, e o fenômeno do tulkuismo para o tibetano, se acha a favor da interpretação que preenche, com múltiplos graus intermediários (tulkus números 1, 2, 3, etc.) a imensa distância, ou melhor, a abstrata “não distância” entre a Divindade e o homem...

 

Acontece que o jovem da narração acima, qual “Patinho feio” da fábula de Andersen, nasce em um meio que não é o seu, “por não ser pato”, mas, “cisne”... E que sem saber da razão oculta ou interna de seus padecimentos, lança-se a tão ingrata aventura, acabando por sabê-lo, isto é, por se ter encontrado com outros “cisnes”... ou seja, o lama das gentes mongóis, que vinha, não menos inconscientemente, ao seu encontro (na razão da mesma evolução da Mônada), caso esse que se apresenta a cada passo na vida de todos nós, quando, em busca de alguém ou de alguma coisa que nos é cara, acabamos por nos defrontar com elas, principalmente, se em nossa procura, numa recíproca mental de desejos ou de vontades... capaz de realizar tamanho fenômeno, andam as mesmas. O que deixa de ser “milagre”, conforme já o provamos em outro capítulo. Sem falar no fulgor instantâneo da chispa reveladora da vocação que, em boa lógica eqüivale a nos sentirmos tulkus. Nesse caso, o “Juro ser Beethoven ou nada”, de Wagner, ao ouvir pela primeira vez a Quinta Sinfonia”; o “Eu também sou pintor”, do grande renascentista; o profundo e instantâneo movimento de compreensão e emoção do jovem Pascal, quando se defrontou, qual verdadeiro tulku, com a geometria de Euclides, e que, sem o auxílio de nenhum método que lhe ensinasse, chegou, pode-se dizer, a redescobrí-la sobre as famosas lusas. E que, para o castigar, por sua “perigosa vocação”, o prendera seu ignorante pai; ou enfim, “a divina loucura” com a qual, aquela outra criança chamada João Sebastião Bach, sentiu-se arrastada e compenetrada com os velhos mestres do canto firma eclesiástico, de quem vinha, assim, a ser um real tulku. E isso, até o ponto de chegar a copiar as páginas dos livros corais à luz pobre e simples da lua, porque seu pai o proibia de tal coisa, o que acabou pôr ocasionar, mais tarde, a sua  cegueira. Mas, que mistério é esse dos pais de semelhantes “eleitos”... e que parecem estar colocados pelo Destino no seu caminho para os fustigar com a dor e o fogo dos seus incompreensíveis castigos e resistências às inatas (tendências ou skandas) qualidades que, semelhantes às do “ouro adormecido no Reno”, jazem ainda latentes no futuro tulku?

 

Para finalizar: que o leitor se dê ao bondoso afã de colher nas biografias de todos os gênios (outra categoria de Jinas) da História, o que de semelhante ou mais trágico acabou de ler nas anteriores linhas. Do mesmo modo que, sem nenhum favor de nossa parte, em todos eles evidenciaram-se as características orientais dos tulkus.

 

MAIS SOBRE A DOUTRINA DOS TULKUS

 

Afim de dar a devida amplitude filosófica à fecunda teoria dos tulkus, impõem-se certas sintéticas considerações que, para isso, nada há de melhor do que a Numeração, por ser, de fato, a Alma do Cosmos.

 

Prescindindo da base adotada (binária, ternária, setenária, decimal, duodecimal, etc.), a grande descoberta da Numeração se baseia na consideração serial e categoremática das unidades das diversas ordens. Toda cifra de cada ordem é o tulku da superior, e toda unidade superior, o Jina, gênio ou shamano das inferiores. Seja-nos, pois, permitida semelhante introdução de palavras novas, por não encontrarmos outras adequadas em nossa deficientíssima linguagem corrente.

Assim, cada cifra numérica possui dois valores: o seu ou “absoluto”, e o “relativo” ou alheio à ordem a que pertence (decimal, centesimal, milesimal, etc.). O que, traduzido para a linguagem concreta, eqüivale a dizer que,, cada ser (que não é, senão, um número na grande síntese cósmica) possui dois valores e duas modalidades psíquicas: sua própria, a de missão, a do “eu sou quem sou” (Ego sum Qui sum) da que é reflexiva, o “cogito, ergo sum”, dos filósofos, e a qual corresponde como parte integrante de um superior conjunto (família, povo, nação, e até, como o artista de tal o qual instrumento, no conjunto de tal ou qual orquestra) acontecendo, assim, freqüentemente ocaso de um indivíduo forte, valioso, meritíssimo, porém, mal colocado ou fora da ordem a que corresponde: um 9,permita-se a comparação, que vale em si mais do que um, porém, Valendo menos do que este Um, ao qual se pos no lugar das dezenas ou se tornou um Sim, porque, a Numeração, que não é, senão, o símbolo do Anima-mundi platônico, é também à maneira de uma árvore o “Árvore das árvores”, cada folha se acha retida em um outro ramo, do qual imediatamente depende. Tal ramo e seus congêneres se acham, pôr sua vez, em um ramo maior. E assim, sucessiva e numericamente, até chegar ao tronco, cujo poder mágico de tamanhas considerações, é o que dá o seu poder de ação a todo o exército, pois que, neste último, o general ou quem o dirige, é uma unidade superior (dezena) como outras tantas inferiores unidades para todos os soldados de seu pelotão. Os oficiais são, pois, a unidade superior aos sargentos; a seguir, estes para os cabos... e assim por diante, constituindo debaixo de um só comando (o General em chefe) um vasto organismo chamado exército ou Milícia (do termo latino equivalente ao nosso MIL), cuja característica, de mágica eficácia para a ação, é o que vê multiplicados em suas mãos executoras, nas de quantos soldados submissamente o integram. E reduzida, em troca, a Mente e a Vontade do referido Exército à única mente e vontade do General em Chefe, cuja personalidade se vê assim agigantada, enumerada e como que divinizada, até o ponto de muitos deles, na História, depois de vencerem o inimigo, “com a força bruta ou numérica dos demais”, reclamarem para si sós, honras divinas.

 

E como o número se aplique à vida, surge poderosa ou tímida a Magia: assim é que, o poder avassalador da Companhia de Jesus (hoje, como se sabe, transformada em

 

Sociedade mercantil ou comercial) poder que, felizmente se vai definhando em um presente mais culto do que o passado (desde que tudo evolui na vida),possui em sua organização uma “milícia de sentimento religioso completamente falsificado”, porque, a Verdade resplandece pôr si mesma, sem necessidade de “esmagadoras milícias”, que, além do mais, agem através da Mentira... O Poder da Carbonária maçônica provinha da mesma “organização numérica”.

 

Outra organização numeral ou em milícia é, sem dúvida alguma, a dos céus; as bacias dos rios, verbi-gratia, unificando-se em séries numerais, mais ou menos alteradas ou “obliteradas”, representadas pôr continentes: estes, com os mares que os cercam e a atmosfera que os envolve, constituindo a grande Síntese ou Todo do planeta Terra, o qual, pôr sua vez, entra como simples indivíduo insulado na grande família dos demais astros obscuros, que em torno do Sol tão musical ou concertantemente, giram. E mais do que provável é , que esse nosso Sol forme “família” ou ordem numeral de grau superior com outros sóis vizinhos... como todos eles dependam numericamente”, do grande conglomerado galáctico, irmão gêmeo dos demais conglomerados e nebulosas, que adornam o cerúleo manto do Firmamento...

 

Pois bem, os conceitos abstratos de Jina e Tulku ou de superior e inferior motor e movido (motorneiro e motor etc.) se dão em todos esses exemplos citados e em quantos outros possamos buscar, porque, a bem dizer, qualquer ato executado pelo inferior (soldado, monge, carbonário, filho, etc.,) pertence a uma dessas duas classes: o próprio e, por conseguinte, imputável a si mesmo (responsabilidade, Karam, auto-determinismo) ou mandato (ordem direta ) ou sugerido (ordem indireta)e imputável somente ao superior que o ordene ou sugira. Razão por que os Códigos penais e os Juízes encarregados de os aplicar na vida jurídica, procuram, muito bem, separar uns de outros atos para a aplicação ou não da responsabilidade, expondo, por um lado, que são delitos as ações ou omissões voluntárias, castigadas por Lei (supondo-se voluntária toda ação, enquanto não exista outra em contrário), e por outro lado, estabelecendo os casos de irresponsabilidade por submissão forçada a um poder superior (caso dos mentecaptos ou “mens-captos”, que, a ) bem dizer, não são mais do que pobres tulkus do Mal); os alienados ou aqueles que possuem – como todos os tulkus – outro amo ou senhor, por isso que, não responsável seu ego; os perturbados, enfim, pela ação tulkuística de um perturbador ou obsedado, isto é, retirado por este de seu verdadeiro e natural lócus (loka, em sânscrito) ou lugar 34 .

 

34 Já temos feito vários estudos, onde procuramos demonstrar que, no tupi figuram inúmeros (termos originárias de idiomas antigos, principalmente, do sânscrito. O próprio termo “oca” do qual se suprimiu o “I” do loka sânscrito, quer dizer casa, abrigo, refúgio, etc. por isso mesmo, "lugar" apropriado para se habitar, viver, repousar, etc.

Ayuruoca é o nome de uma cidade e município do Estado de Minas Gerais de que tomam nome o Rio e Serra da mesma região, por sinal que tal rio é o mas elevado do Brasil, nascendo num dos picos culminantes do Itatiaia, ou seja, a 2.290 metros acima do nível do mar. Quanto à serra, faz parte da Mantiqueira. De seus rochedos, despenha-se a mole de água, que forma a majestosa cascata denominada cachoeira dos banhos.

O significado do termo tupi “ayiuru-oca”, é: “casa que fala”, embocadura, o lugar que ruge, etc.

Pois bem, em sânscrito existe um termo bem semelhante, ou seja: Ayur ou Ajurloka, cujo significado para o nosso idioma, é: Região da

Vida, etc. Nesse caso, tanto os termos como os seus significados são idênticos em ambas as línguas. E assim por diante.

 

Notifiquemos ainda, que entre os numerosos casos, mais ou menos tulkus, que poderíamos citar em relação ao Ocidente, figura por exemplo, os do tulkuísmo patológico da mediunidade, da hipnose e os das “duplas personalidades”, já admitidas pela ciência médica, onde a ação do jina sobre seu tulku é sempre temporal; ora no espaço, pois que o Jina deixa sempre o seu tulku em uma maior ou menor liberdade de ação (qual o chefe ao soldado, fora dos atos, propriamente ditos, militares), assim repetimos: aquela união não ser permanente, embora que possa durar séculos de encarnações (com vistas ao ensinamento ocultista de H.P.B. quando diz: “toda ação ou direção dos Poderes Superiores sobre o homem, forçosamente há de ser temporal, porque, se não o fosse deixaria a este irresponsável e sem progresso”). E até, o mesmo caso de tulkuísmo ou hipóstase, regido se acha pelo Karma de cada um, à semelhança do soldado, do monge, etc., que uma vez, ao menos, no início de sua carreira, foi livre de aceitar ou não aquele seu papel de tulku, o qual tão pouco é eterno, porquanto, no último período , ou pior das hipóteses, tem a morte por limite.

 

E já que do Ocultismo falamos, devemos também acrescentar que a profundíssima teoria dos tulkus, aclara mais de um conceito ocultista, que os estudantes de Teosofia o pudessem ter, por mais obscuro que lhes parecesse.

 

Para não citar, senão, um caso, façamos lembrar uma outra passagem dos ensinamentos de H.P.B., ou seja, em seu opúsculo Os Primeiros Passos no Caminho do Ocultismo, onde se nos ensina como procede o Mestre iniciador ou Guru, com o grupo ou “manípulo” de seus cinco discípulos eleitos, como símbolo das respectivas cores sagradas (ou Tatvas, como forças sutis da Natureza, etc. embora que hoje o número seja maior, na razão esotérica do ciclo, etc. ...) E aos quais é dever seu harmonizar entre si, “como as cinco cordas da lira clássica” , senão, os cinco dedos de cada mão (com os quais é tangida a mesma “lira” ...), prova evidente de que a referida passagem se relaciona com o infindável assunto de que nos ocupamos neste momento.

 

A mestra H.P.B. – se devemos crer no que dela muito nos relatam Olcott e outros biógrafo – a partir da mortal enfermidade que precedeu a sua viagem e iniciação na mística tibetana, para logo nos oferecer os seus incomparáveis livros, falou de si como terceira pessoa e, portanto, tulku, em frases bem claras, como aquela de “este corpo ilusório”, velho e apodrecido”; quando não, “essa velha mulher de 40,60,100 anos, que importa”, etc., muito mais reveladores, ainda, de seu caráter tulkuístico. E cujos protetores Jinas ou Mestres, segundo parece, não se preocuparam em abandona-la às suas próprias forças, nos últimos anos de sua dolorosa vida, como ao próprio Jeoshua, quando se sentindo abandonado por seu Pai, exclama: Elli, Elli! Lama sabacktani!

Toda essa doutrina que vimos desenvolvendo, graças às obras dessas duas mulheres, traça desde logo verdadeira “Filosofia Universal”, coroadora e enobrecedora da “Anatomia cósmica”, valha a frase já em voga no Ocidente, com o gigantesco avanço da Ciência, sobretudo, da ciência astronômica, fisiológica à base de verdadeira “Chave sexual” (chave que sabemos ser a mais inferior do cósmico mistério...), porque, a atividade dominadora e como que “fecundadora” do Jina sobre seus tulkus, é algo assim como a do “varão” (despida do sexo animal ou do uso da Magia Negra), cuja etimologia, bem se pode afirmar, é a de vir “varão” e “vis” força, ou mesmo do VRIL sânscrito, com o mesmo sentido enquanto que, a atitude passiva ou semi-passiva de cada tulku é, de certo modo, receptiva, subordinada, absorvente, algo portanto, feminino. Razão, ainda, porque as doutrinas teosóficas, como as mais puras dos ascetas tibetanos, repelem toda mediunidade “como entrega passiva e cega a poderes desconhecidos, bons, maus e perversos; preferindo o tulkuísmo ou hipóstase aqui estudado, por não ser uma entrega às cegas ou passiva, e sim, à mística, científica, artística e filial ligação ou união, sem prejuízo algum para o submetido ou tulku e seu Deus ou Androgino.

 

A VIBRAÇÃO DO LOGO ATRAVÉS DOS JINAS E SEUS TULKUS

 

Se cada homem e, até, cada coisa existente no Cosmos, é um tulku ou hipóstase de uma entidade superior a que se acha subordinado por lei serial de “numeração abstrata”; do mesmo modo, se cada naldjorpa ou naldjorna possui um Guru ou Mestre em série indefinida, o grandioso panorama do Universo, “como organismo vivo. Não é mais do que simbólica Árvore, cujas raízes – como a “Árvore norsa” dos escandinavos primitivos e quantas outras estão apontadas nas diversas teogonias – se acham dentro do Seio insondável da divindade abstrata, inefável e incognoscível: enquanto seus ramos,  crescem e se dividem, sem cessar, envolvendo assim tudo quanto se acha dentro do “infinitamente grande” até alcançar o “infinitamente pequeno”.

 

E ao longo de tais raízes, troncos e ramos, uma só Força Inteligente: a do Logos ou Verbo, fazendo circular, centrífuga e centripetamente a magna Vibração da Vida, Vibração em que, cada ilusória “realidade vital”, não é, senão, o tulku, tatva ou “invólucro mágico” de uma parte, grande ou pequena, daquela Vibração, como tônica orgânica ou vital dentro de outro organismo superior, ao qual se subordina como a parte do todo”.

 

Este, e não outro, o ensinamento universal da Mística, de acordo com a verdadeira etimologia da palavra, ou seja, a do “Mistério”, Germe, ponto de partida de posteriores porvires”. Assim, quantos simbolismos traduzem algo dessas relação de “Causa e efeito”, de “dirigente e dirigido”, de “mestre e discípulo”, de “pai e filho”, etc., deixam transparecer aquela grande verdade de que nós vimos até agora ocupando.

 

Notáveis são, com efeito, as estâncias do antiquíssimo Poema de Dzyan, que serviu de tema a H.P.B. para a sua maravilhosa obra “A Doutrina Secreta”, que cantam o místico laço existente em cada ser, na razão de chama e chispa; em cada astro, entre seu Lha ou “Espírito” e seu Vaham ou “Veículo” que é a massa material e astral do mesmo astro, os Homens solares ou “imortais” (Dhyanis, Chohans, Kohans, andro-jinas, Hermes-afroditas ou hermafroditas, kyritas, etc.) e os homens mortais ou terrenos, com aquelas finalizadoras palavras da mais excelsa veneração, que canta: “Tu és meu Vaham (veículo) até o grande Dia (Nirvana) em que Tu em mime eu em Ti, seremos a mesma coisa”. Cujo sentido, se prescinde do falso conceito de um Deus pessoal e de poder “criador”, para o de “Emanador” ou Projetor, já está apontado nas palavras de S.Agostinho: “creasti nos, domine, ad te; et inquietum est cor nostrum donec requiescat in Te (“para Ti e de Ti emanamos, Senhor, razão pela qual, nosso coração se acha eternamente inquieto e sequioso até que em Ti repouse”)”.

 

Para focalizar melhor, embora que sempre imperfeitamente – por não o permitir a humana linguagem – essas místicas e inexplicáveis sublimidades, o próprio simplismo de verdadeiras “coordenadas mentais”, como diria um matemático, o que se acha contido naquela parábola de “As seis direções”, atribuída ao Buda, e que pode ser encontrada em nossa obra “pelo Reino encantando da Maia”, queda mesma e de outras faz modestos comentários. Com efeito, se o homem saindo de seu cego e absurdo egocentrismo de “um simples ponto sem dimensão espiritual no místico Espaço infinito” meditar acerca das seis direções, nas quais, sendo ele um simples e efêmero ponto, formará ele mesmo a “tríplice cruz” de tais linhas, ou sejam as dos pontos cardeais (Norte, Sul, este, oeste, Zenit e Nadir), será do lado Norte, na linha Norte-Sul das gerações físicas aos seus sucessivos ascendentes (avas, jinas ou rishis), e do lado do Sul da referida linha meridiana aos respectivos descendentes, seus nepas, tulkus materiais, etc. Verá ainda, na linha de Este a Oeste e do lado do Este, aos seus espirituais progenitores, seus Gurus ou Mestres, e do lado oeste, à sua descendência espiritual e mental , seus chelas, discípulos, por sua vez, tulkus seus... já que, ensinando a outros, é que o homem pode chegar a Mestre. Do mesmo modo que aperceberá misticamente na 3ª linha ou a do Zenit para o Nadir (a vertical), passando igualmente às outras por seu próprio e pessoal ponto, seu ideal, sua Missão, sua razão de ser na vida e o Farol final de todas as suas dolorosas “rondas”, encarnações ou “peregrinações” pelo mundo da Ilusão; e se olhando ou contemplando para baixo, o Nadir, seu negro, seu mísero ou cármico passado, lastro esse que o impede de subir, de erguer seu vôo triunfal para o prodigioso farol do Eterno descanso nirvânico. Mas, onde acabará despojando-se, feliz, no dia em que, sem egoísmos cegos, encontrar em seu próprio ponto, ao Universo inteiro, e a Este, o seu geométrico ponto. Verá, finalmente, ao ter alcançado a semelhante Superação de sua própria Consciência ou Ponto, esse Nada-Todo incognoscível, mas, de que um modo ou outro, constituía própria Divindade, que não é , senão, ele mesmo O famoso diálogo entre Khrisna e Arjuna ou o Mestre e seu discípulo ou tulku, de do Bhagavad-Gita, é outro caso típico na literatura mística oriental, da doutrina que estamos desenvolvendo desde que representa o “Espírito de Verdade” que transmite ao sedento de Luz, essa mesma Luz ou “Vibração-Sabedoria”, que mantém a harmonia do mundo. E semelhante Vibração ou telepatia por veneração, própria de tão sacrossanto laço, acima da superior paternidade física ou da consangüinidade, seja ela qual for, faz seguir em plena liberdade ao discípulo ou tulku, a linha reta, por antonomásia a que se não desvia, quer para um lado, quer para outro, na esperança de colher as “flores” da Vereda, à guisa dos diversos Heróis de As Mil e Uma Noites. Pois que, mesmo depois de morto, sua energia segue, digamos, conscientemente, firmando para si próprio, o novo corpo que lhe vai servir na próxima encarnação. Semelhante, ainda, a psíquico cometa, cujo periélio se achasse junto ao Sol da Verdade e o afélio, alcançando as longínquas e mesquinhas solidões da terra, por isso que, vivendo alternadamente sobre a sua grosseira superfície, naquela simbólica Villa Gaya, onde a tradição aponta como “o lugar onde o Buda alcançou, finalmente, a Iluminação... Ademais, seu próprio nome Gan ou Gogaya, etc. (Gau ou Gotama)”, o diz, como “futuro Pastor ou condutor de Gado”. Cada de um nós, além disso, é o Jina dirigente de seus próprios pensamentos, que vem a constituir, tomando vida própria nos três sucessivos mundos físico, astral e mental, outros tantos inumeráveis tulkus produtores do Bem ou do Mal , que em verdade, são aqueles que formam o caráter de cada indivíduo.

 

Razão pôr que o Ocultismo e a Ética superior, dão mais importância ao Pensamento, do que à Palavra ou à Ação, por lhe serem derivadas. Vivemos a cada instante criando os nossos próprios destinos, à guisa daquela mui sábia sentença, que diz: “semeia um pensamento e colherás um feito; semeia um feito e terás um hábito; semeia um hábito e formarás um caráter; semeia um caráter e colherás um Destino”.

 

Comparável, ainda, a uma ocultística eucaristia (de Eu e Karistos ou prodígio, senão, “Eu crístico, que a bem dizer é a superação final) pela qual o homem, sentindo-se tulku de Superior Poder, ou melhor dito, de uma série infinita de celestiais e gradativos poderes, eleva, garbosa e reveradamente, acima de sua cabeça, a Taça do sacrifício de sua própria Vida. Enquanto tais poderes descendo sobre tão prodigiosa Taça, a consagram do mesmo modo que, na filosofia pagã descia a sagrada inspiração das musas em ígneas chamas diante do poeta ou músico, para que lhe viessem as sublimes criações, que de certo modo era ele o próprio criador; do mesmo modo que, no sacrifício bramânico, na mais perfeita hipóstase, “sacerdote, altar e vítima”, formavam uma só e mesma coisa...

 

Como ainda, as três inicias judaicas JHS, estampadas na mesma “Taça eucarística”, de múltiplos sentidos, inclusive do termo JEHOVAH, digamos de quem JEOSHUA – como tantos outros que lhe ficam mais ou menos próximos, são tulkus. Representando, ainda, essas três excelsas iniciais – já que não podemos divulgar as outras... a própria Mônada ou Consciência Universal, por isso que, de Tríplice Forma ou Manifestação, na razão de Pai, Filho e espírito Santo, como Três Pessoas distintas e Uma só Verdadeira.. Finalmente, a doutrina do tulkuísmo é por demais transcendente para ser desenvolvida, principalmente de público. Procuramos, no entanto, compará-la com a dos fenômenos aceitos pelas próprias religiões do Ocidente, senão, ainda, com os da vida comum dos indivíduos afim de que, tanto quanto possível, a referida doutrina se tornasse compreensível, mesmo aqueles que não possuam uma cultura teosófica e ocultista das mais profundas.

 

Por isso mesmo, não há como repetir a frase latina que serve de cabeçalho ao presente estudo: Multa paucis, isto é, muitas coisas em poucas palavras.

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"Tudo que morre cai na vida. Nenhum corpo, nenhum ato, nenhum, pensamento pode cair fora do Universo, do tempo, do espaço... onde a vida existe sempre. A dificuldade está apenas em saber morrer, para poder VIVER no verdadeiro palco cênico da REALIDADE".

         – H. J. Souza.

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"Toda a ciência é, sobretudo uma coordenação de fatos presos a sistemas de relações. A realidade exterior é tão fugitiva, tão volúvel, que ela só se nos define e só se nos fixa quando a ligamos pelos laços indissolúveis das leis em que ela se, formula." - Euclides da Cunha.