O MAHÂBHARÂTA 1

HENRIQUE JOSÉ DE SOUZA

Dhâranâ  113 – 114 – Julho a Dezembro de 1942 – Ano XVII

 

"Aquele tempestuoso estrondo abalou o coração dos filhos de Dhritarâsta estremecendo céu e terra com seus ruídos...

"Ao ver que os filhos de Dhritarâsta estavam em ordem de batalha, indo as flechas cruzar-se nos ares, aquele que levava um mono por símbolo, 2 o filho de Pandú, empunhou seu arco e assim falou a Krishna, como Senhor da Terra...

EXPLICAÇÕES NECESSÁRIAS

Do Bhagavad-Gita – notável conto do poema épico, o MAHÂBHÂRATA – se podem deduzir sete interpretações ou CHAVES distintas, desde a que explica a formação do Universo, até a mais grosseira de todas, que é a SEXUAL. Examinando o poema sob o ponto de vista da Evolução individual, ele nos diz que o rei Dhritarâsta simboliza o corpo humano, no qual, para continuar essa mesma evolução, se encarna o Espírito, estimulado pelo desejo de vida e compelido pela lei cármica. A cegueira congênita do rei dá a entender que o corpo, sem o espirito vivificador, é matéria insensível e, portanto, incapaz de governar. E assim, nas mãos de Pandú está a direção do reino de Hastinapura. Simbolizam os Kuravas o eu-inferior, os elementos passionais ou tenebrosos do indivíduo, o aspecto material de nosso ser, enquanto que os Pândavas, sintetizados em Arjuna, simbolizam o Eu-superior (como prova o direito de ouvir a Krishna), os elementos harmônicos e puramente espirituais do Indivíduo.

O sábio brâmane T. Subba-Rao julga a Arjuna como a Mônada humana, o homem na sua mais elevada realidade, e Krishna deve ser reconhecido como a encarnação da Divindade, o LOGOS feito carne na seleção, justamente, do que é divino e terreno 3 .

A batalha de Kurukshetra simboliza o constante e exigido combate entre as potências que propendem a escravizarnos na matéria (ou Mãe-Terra) e as que nos impelem a espiritual iluminação, equivalente ao "Trono de HASTINAPURA" ou "pura dinastia", "dinastia superior ou divina".

Os Kuravas, ou seja, o eu-inferior personificado em Duryodhana, prevalecem temporalmente na soberania do reino (o reino terreno ou falso, para o Adveniat ad regnum tuum...) 4, ficando, entretanto, afastados ou em desterro os Pândavas, isto é, os elementos espirituais da natureza humana.

1 Antigo trabalho do Presidente da S. T. B.(hoje SBE) - Prof. Henrique J. Souza - oferecido aos membros da serie D, que hoje, com a sua autorização, oferecemos aos dignos e ilustres leitores desta revista. - Nota da Redação.

2 Hoje certos animais são simples "mascotes" de batalhões. Naquele tempo, entretanto, eram o símbolo ou "totem" da própria raça.

Neste caso estava o "Mono", manus, Manu (com a sua representação animai), ou de Manu-Kara (o que vem na cara, à frente, dirigindo, como chefe, guia, etc.), Hanu-Manus ou o famoso e fiel Hanuman (ou Ha-Roman, Roman ou Rama), aliado de Rama, celebre por sua audácia. Rama, como se sabe, foi o Guia (Manu) ) do "ramo" ário, na planície do Eufrates. Os Rajaputanas descendem dos filhos de Rama, como raça solar. O termo sânscrito Ramayâna significa, literalmente, "caminho, itinerário de Rama". Como poema – atribuindo a Valmiki – narra a História e os grandes feitos do filho de Daçaratha Râma. Homero reproduz, com outra linguagem, vários dos seus episódios, inclusive, aquele da "fuga de Helena", os feitos de Ulisses, etc.

Por exigência da Lei (causalidade, portanto, e não casualidade), em nossa obra, JHS fazendo o papel de Ulisses (na revista Tim-Tim por Tim-Tim, embora sem pisar no palco, a não ser em inesquecível "ensaio"), foge de Salvador atrás de uma Helena, que de não ser a troiana, jamais poderia tornar-se "pomo de discórdia", mas, pivô da Obra-Síntese da evolução Humana. Ademais, tal fuga em direção a Portugal, ou à cidade fundada por Ulisses, do qual provem o seu mitológico nome: Ulíssipa.

Já tivemos ocasião de dizer, em mais de um dos nossos artigos, que Portugal tanto vale por Porto-galo, gaulês, etc. para, onde, por sua vez, o Manu Ur-Gardan conduziu um ramo celta, trazido de longínqua região, que foi devastada, mui propositadamente, pelo fogo (Ur), pois, a umidade e as feras de semelhante região (Rua, em sânscrito, corpo, etc. e no celta - RUPE, ROPE), concorriam para aniquilar os seus habitantes. Do Ur (Fogo) e ROPE (corpo, região, lugar, etc.), nasceu o conhecido termo Europa. O mesmo nome do referido Manu completa o sentido de tudo quanto vimos até agora desenvolvendo: Ur, Fogo e Gardan ou Bardem, éden, jardim, paraíso, etc.); aquele que vem do Lugar, da região devastada pelo fogo, ou seja o Manu conduzindo seu povo para o litoral do continente (Dvipa).

3 Verdadeira "separação do bom trigo do joio" em geral tão mal interpretada.

 

AS ORIGENS

A epopéia intitulada Mahâbhârata representa a história de uma raça descendente do rei Bhârata, filho de Dushyana e Sakuntalâ.

A palavra sânscrita mahâ quer dizer "grande" e bhârata equivale a "descendente de Bhârata".

De Mahâbhârata tirou seu nome a Índia, cujo significado é, translaticiamente:

GRANDE ÍNDIA ou História dos grandes descendentes, de Bhârata.

O cenário onde se desenrola a epopéia é o antigo reino dos Kurús de pequena extensão; o tema é a luta de duas famílias aparentadas é rivais: a dos Kuravas e a dos Pândavas, disputando entre si, o domínio da Índia.

O Mahâbharâta é a epopeia mais popular na Índia e goza de valor igual, senão maior do que gozaram, em seu tempo, os poemas homéricos na antiga Grécia.

Com o decorrer do tempo, vários versos foram acrescidos ã primitiva composição, até formar volumoso livro com perto de cem mil versículos, compostos de narrações, lendas, mitos, trechos históricos e ensinamentos filosóficos, que envolvem, episodicamente, o tema principal.

Para melhor compreendermos o argumento em seguida esboçado, mister se faz lembrar que os ários não foram os primeiros povoadores do território hoje conhecido com o nome geográfico de Índia, (outrora Aryavartra) mas invasores chegados em tribos ou clãs pouco numerosos, que acabaram por sobrepujar a população autóctone e sobre ela exercer indiscutível predomínio. Não esquecer que os mesmos hindus se dizem "descendentes dos Rutas", os "Pele vermelha" ou Atlantes.

Dois ramos da mesma família, ou sejam os já citados Kuravas e Pândavas, se tornaram inimigos, justamente por ambicionarem ambos a hegemonia da Índia e a sucessão do trono de Hastinapura.

A luta travada entre as duas famílias é o tema principal da epopéia que se desenvolve, segundo vamos expor de modo sintético.

 

O ARGUMENTO

O rei Hastinapura teve dois filhos: o mais velho, chamado Dhritarâstra, era cego de nascença; Pandu era o nome do mais moço. Segundo as leis da Índia, da sucessão do trono se excluía todo príncipe cego, surdo, mudo ou com outro qualquer defeito físico, sendo substituído de Hastinapura, coube a Pandú, e não a Dhritarâstra, substituí-lo.

A cegueira não foi, entretanto, motivo para. impedir que Dhritarâstra se casasse e tivesse nada menos de cem filhos, enquanto que o rei Pandú só teve cinco (em, relação com a própria raça ária ou 5ª, na razão de uma das sete chaves interpretativas da referida epopeia).

Morreu Pandú em plena direção do reino e, como não houvesse outro herdeiro direto em idade de substitui-lo, ocupou Dhritarâstra o trono dos Kurús, apesar de sua cegueira e educou com seus cem filhos, os cinco de Pandú (outro símbolo em relação com a mesma raça).

4 Meu reino não é destes mundo, disseram Iluminados, dentre eles o mesmo Jeoshua. E Colombo, numa frase completamente desconhecida da História: "Com Três caravelas, conquistarei um REINO que não é o meu": O REINO DAS AMÉRICAS, pois que a Cabral coube o "codicilo de tão espiritual Testamento": BRASIL.

Logo que os príncipes chegaram à idade requerida, o rei os entregou aos cuidados de um sacerdote guerreiro chamado Drona que os educou na arte militar é em toas as ciências necessárias à sua estirpe.

Terminada a educação, colocou Dhritarâstra a Yudhisthira, filho primogênito de Pandú, trono de seu pai; porém as austeras virtudes de Yudhisthira e o valor e devoção de seus outros quatro irmãos despertaram a inveja aos filhos do rei cego; e, assim, por insinuação de Duryodhana o mais velho, persuadira aos cinco mãos Pândavas para que fossem a Vâranâvata, sob o pretexto de um festim religioso que ali se celebrava.

Havia mandado Duryodhana construir um palácio feito de cânhamo, resina, laca e outras matérias inflamáveis, e nele o astucioso príncipe acomodou seus primos, com o intuito de faze-los morrer pelo fogo.

O bondoso Vidura, primo de Dhritarâsta, sabedor da maquinação tramada por Duryodhana e seu bando, avisou do perigo aos Pãndavas, que puderam fugir sem que ninguém os percebesse.

Ao ver os Kurús o palácio reduzido a cinzas deram um suspiro de satisfação, julgando não haver outros obstáculos no seu caminho e, com isso, os filhos de Dhritarâstra se apoderam do reino.

Os cinco irmãos Pândavas fugiram para o bosque com sua mãe Kunti e, disfarçando-se em estudantes brâhmanes, viveram mendigando por todos aqueles arredores. Não obstante os sofrimentos por que passaram, de muitos perigos puderam afastar-se, saindo vitoriosos graças à fortaleza de ânimo e de mente de que eram dotados.

Assim continuaram as coisas até que lhes chegou ao conhecimento as próximas bodas da princesa de um pais vizinho.

Como era de costume, grande número de príncipes e de nobres ali se reuniu, para que a princesa entre eles escolhesse o que fosse mais de seu agrado. Tal princesa se chamava Draupadi, filha de Drupada o rei dos Panchalas, famosa em todos aqueles arredores por sua peregrina beleza, e elevados dotes morais.

Sempre que sé celebrava um "svayamvara" ou a escolha de um esposo, os pretendentes eram obrigados a realizar um exercício de. habilidade é de destreza.

Naquela ocasião, apresentou-se aos concorrentes um grande alvo em forma de peixe, colocado à grande altura. Por baixo girava uma roda, tendo no centro um buraco; mais abaixo se achava uma bacia cheia d’água, na qual se refletia todo o aparelho.

A prova consistia em fazer com que, tendo por ponto de mira o reflexo do peixe na água, a flecha disparada passasse pelo buraco da roda e fosse dar no olho do peixe que servia de alvo . Quem realizasse tão difícil proeza teria o ambicionado prêmio de casar com a formosa princesa.

Reis e príncipes de vários países da Índia ali estavam reunidos, na esperança de obter a mão da princesa Draupadi é, um após outro, foram demonstrando sua habilidade, sem que nenhum acertasse no alvo.

Então, o filho do rei Drupada levantou-se em pleno concurso e exclamou: – A casta dos Kshatriyas fracassou na prova. Assim, concede-se a pretendentes de outras castas a que nela tomem parte; mesmo que seja um sudra, se acertar no alvo, se casará com Draupadi.

Entre os brâhmanes estavam os cinco irmãos Pândavas, e Arjuna, o terceiro dentre eles, muito destro no manejo do arco, 5 levantou-se com o fim de tomar parte na prova.

Convém notar que os brâhmanes são pessoas pacíficas é até mesmo tímidas. Segundo a lei, não devem tocar em nenhuma arma de guerra, nem brandir a espada, nem sujeitar-se a nenhuma empresa. arriscada, pois que sua vida deve ser de contemplação, "estudo e domínio de sua natureza interna". Assim é que, ao verem os brâhmanes que presenciavam a luta, erguer-se Arjuna para empunhar o arco, ficaram receosos de que a ira dos Kshatriyas fosse recair sobre eles, a ponto de mandá-los matar.

Por isso rogaram a Arjuna desistir de semelhante intento; porém, como o valoroso pândava, segundo já vimos, era um Kshatriya disfarçado em brâhmane, não lhes deu atenção e, empunhando o arco, disparou uma flecha que foi dar certeira no alvo.

A assistência prorrompeu em exclamações de júbilo é a princesa Draupadi cingiu com a tradicional grinalda a fronte de Arjuna.

E logo se ouviu um grande clamor entro os príncipes, pois não podiam admitir que um pobre brâhmane tomasse por esposa a uma princesa kshatrlya, prevalecendo, desse modo, contra uma assembléia de reis e príncipes. Resolveram, por isso, lutar com Arjuna e arrebatar-lhe à viva força, a princesa. Travou-se a luta, mas os cinco irmãos acabaram por vencer a todos os contendores, levando triunfalmente a princesa.

Viviam eles, como se viu, de esmolas como se fossem de fato brâhmanes, o sua mãe as distribuía entre os necessitados. Ao chegarem naquele dia à porta da cabana onde moravam, exclamaram, prazenteiramente, antes de entrar:

– Mãe! Hoje, sim, trazemos uma dádiva verdadeiramente preciosa.

E Kunti sem preocupar-se com o que pudesse ser, respondeu do lado de dentro:

– Desfrutai-a, pois, em comum como bons irmãos, filhos meus.

Porém, ao dar de frente com Draupadi, exclamou admirada:

– Oh! que disse eu ? Em uma mulher essa dádiva de hoje?

A sentença, porém; tinha sido dado e dela não era possível recuar, visto lhe não ser permitido, como mãe, ter duas palavras.

Assim, Draupadi foi a esposa comum dos cinco Pândavas. 6

O irmão de Draupadí, continua a narração, ficou pensativo depois da partida da irmã e se pôs a meditar sobre o acontecido: – "Quem são esses jovens? Que devo julgar daquele que tomou minha irmã por esposa? Não se apresentaram com carros, nem cavalos, nem arreios nem cousa alguma que lhes denuncie a elevada estirpe. Andam a pé!..."

E, para atender à sua curiosidade, tomou a deliberação de segui-los à distância, até chegar à cabana, em cujas proximidades sé escondeu e de onda ouviu o que diziam os membros de tão misteriosa família, muito se alegrando ao descobrir que sé tratava de kshatriyas e não de brâmanes.

5 Não esquecer que "arco e flecha" representam o signo zodiacal de Sagitário. Do mesmo modo que, Piscis (o Peixe do referido "alvo ou meta"), pertencem ao planeta Júpiter (Jove, Jeove ou Jehovah.. . ). Piscis é o signo, por excelência, revelador do Sexo. E a prova é que Jeoshua o traça no chão, quando lhe apresentam a "mulher adúltera", dizendo:

"Aquele que estiver isento desse podado (e não do pecado, como dizem as religiões), que lhe atire a primeira pedra", Nesse caso, o ritual apontado no texto, ou seja, o da posse de uma princesa, de uma mulher, enfim, é por demais revelador, embora que A outros tivesse passado desapercebido.

6 Sabido é que todo povo passa, em seu desenvolvimento, por sucessivos graus de civilização; por isso mesmo, na citação (da epopéia) que acabamos de fazer, vemos cinco irmãos que teem a mesma esposa. E, embora o sublime postulado da maternidade, a descrição quis apenas oferecer um ligeiro vislumbre do antiquíssimo estado social, em que era legítima a poliandria, como acontece ainda hoje em certos lugares do mundo, inclusive no Tibete, entre os badagas dos montes Nilguiris, etc. No caso em questão, a exigência ainda era mais justificável, por se tratar de cinco irmãos da mesma família para uma esposa comum, embora tudo isso simbolize 6 reis governando a 5a raça (5 ramos da mesma raça, etc.).

Desvendando o mistério o irmão de Draupadi tratou logo de levar a notícia a seu pai, o rei Drupada, que muito se regozijou em saber tal coisa. E, para maior tranquilidade de ânimo, consultou Vyasa a respeito da legitimidade do matrimônio de uma mulher com cinco irmãos. O sábio respondeu que não havia nenhum inconveniente, por se tratar de semelhantes príncipes (esta resposta de Vyasa concorda perfeitamente com o verdadeiro sentido da chave, conforme a expressamos). E. assim, Draupadi tornou-se a esposa dos cinco Pândavas, que viveram em paz o Prosperidade, cada vez mais poderosos.

Embora Duryodhana e suas gentes tramassem novas maquinações entre seus parentes, nada conseguiram. E, com isso, os anciãos do reino aconselharam ao rei Dhritarâstaa e fazer a paz com os Pândavas.

Aceitou o rei o conselho, convidando aos Pândavas que viessem para a corte, dando-lhes a direção material do reino. Com isso muito se regozijou o povo (isto é, a humanidade vulgar em relação com os seus dirigentes quando merecem o seu respeito, amizade, etc.) A parte mais elevada ou relacionada com o espírito ficou sob a direção do rei, ou seja, o mesmo Dhritarâsta, que era "cego", apenas, "para o mundo".

Os cinco irmãos construíram, então, para sua residência, uma formosa cidade, a que chamaram Indraprastha e estenderam o seu domínio por toda a comarca.

Ao ver-se assim tão poderoso, quis o Pândava mais velho, Yudhisthira, fazer-se imperador de todos os reis da antiga Índia. E, com efeito, resolveu celebrar um Yajna-Rajasuya ou "sacrifício imperial", com a presença de todos os reis menores a quem vencera, os quais deveriam pagar o tributo e prestar juramento de fidelidade, além do auxílio pessoal às cerimônias do sacrifício.

Sri Krishna, parente e amigo dos Pândavas, aprovou a ideia. Acontecia, porém, obstar esse projeto um rei vizinho, chamado Jarasandha, que ia celebrar um sacrifício com cem reis menores, já tendo, para isso, oitenta e seis em seu poder.

Sri Krishna aconselhou um ataque contra Jarasandha, a quem convidaram para singular combate e, aceito o repto, foi vencido por Bhina, no prazo de quatorze dias. Os pequenos reis cativos logo recobraram a liberdade, isto é, ficaram livres do domínio obscuro que os mantinha afastados ou sem função diretiva.

Então, os quatro irmãos menores saíram à frente, cada um, do seu exército, em várias direções (as várias direções do Globo) e subjugaram a todos os reis que encontraram.

Ao regressar da conquistadora expedição, depuseram os despojos da luta aos pés do irmão maior (as experiências que devem sempre ir ter ao maior de todos os reis que dirigem o mundo, espiritualmente falando, o Planetário...) para resgatar as despesas feitas com o sacrifício que foi celebrado com incomparável magnificência, e prestaram homenagem a Yudhisthira os pequenos reis libertados do mesmo modo que os vencidos pelos quatro irmãos (as 4 primeiras raças, inclusive a Atlante). Também assistiram, na qualidade de convivas, o rei Dhritarâstra e seus filhos, participando das cerimônias.

Ao terminar o sacrifício, foi realizada a coroação de Yudhisthira. (Yu ou Io tanto vaLe, e dhisthira, diminutivo de Dhrita, Dhritarâstra, etc. na razão de, descendente daquele e um dos 4 reis divinos ou Maharajaha), como imperador e papa (a narração preferiu o termo "principal"), ou "senhor" dos Dois Poderes : o temporal e o espiritual.

Duryodhana partiu cheio de inveja contra Yudhisthira, cujo esplendoroso poderio não era capaz de suportar. E como soubesse que, por meio da força, era impossível destroná-lo, urdiu uma trama com o fim de perdê-lo (o Senhor das Trevas o próprio Mal na sua eterna luta contra o Senhor da Luz, o Bem, etc.).

O rei Yudhisthira possuía uma grande atração pelos jogos de azar. Aproveitando-se dessa pretensa fraqueza imposta aos mais elevados Seres, pela necessidade de possuírem algo que os prenda ao mundo, Duryodhana ("o sem devoção") contratou um jogador profissional de nome Sakuni (Sakara ou "espírito malfazejo"), para convidar Yudhisthira a uma partida, de dados.

Na antiga Índia, se um kshatriya ou guerreiro era convidado à peleja, ao combate, seja em que terreno fosse, devia ser aceito o repto, sob pena de ver sua honra menosprezada.

Era Yudhisthira a "encarnação de todas as virtudes", mas como rei, como chefe dos Kshatriyas não lhe era permitido deixar de aceitar o repto de Sakuni que, propositadamente, havia trazido uns dados falsos. O rei, assim, foi perdendo uma partida após outra, e ansiando peia desforra, foi apostando quanto possuía, inclusive o reino, seus Irmãos e a formosa Draupadi.

Assim, ficaram os cinco Pândavas em poder dos Kuranas, que os maltrataram sem piedade, infligindo a Draupadi os mais "desumanos sofrimentos". 7

Finalmente, com a intervenção do cego rei Dhritarâstra, obtiveram a liberdade, concedendo-lhes permissão para voltarem ao seu reino; porem, antes que fosse cumprido o decreto, Duryodhana, ao ver o perigo, obrigou a seu pai a confiar semelhante decisão à corte, por meio de uma partida de dados, entre os Pândavas e os Kuravas, de modo que a fação que perdesse ficaria desterrada durante doze anos (a passagem do sol pelos doze signos zodiacais, por isso mesmo, um ciclo completo, pouco importa a questão tempo), findos os quais, seriam obrigados a viver incógnitos em uma região afastada do reino. E, se quebrassem a jura, sujeitar-se-iam á mais doze anos de desterro, após o que recobrariam o reino.

Como era de supor, mais uma vez falsos eram os dados de Sakuni, perdendo Yudhisthira á partida final. E com isso, os cinco Pândavas foram obrigados a deixar o reino, retirando-se para os bosques e montanhas, onde ficaram durante doze anos e onde realizaram muitas ações virtuosas, é valorosas, indo de quando em vez a lugares sagrados, afastados do mundo.

Muitos yoguis foram vê-los, narrando-lhes interessantes passagens da velha história da Índia, algumas das quais em seguida transcritas:

 

HISTÓRIA DE SAVITRI

Houve, em outros tempos, um rei chamado Asvapati, pai de uma jovem, a quem, por bela e generosa, deram o nome de Savitri, que, depois, passou a ser mantram sublime do povo hindu. Quando Savitri chegou à idade de quinze anos, seu pai fez-lhe ver que era chegada a hora de escolher marido, segundo sua livre vontade: pois, na antiga Índia, não se conhecia – como aconteceu depois – o que nos estados monárquicos se denomina de "razão de Estado". Por isso as princesas de sangue real eram senhoras absolutas de seus amorosos sentimentos. Savitri aceitou o conselho de seu pai e, partindo no coche real acompanhada de régia escolta é respeitáveis anciães, que dela cuidavam, pôs-se a visitar todas as cortes vizinhas e outras mui distantes do reino de seu pai, sem encontrar príncipe que fosse de seu agrado.

Por acaso, nessas longas jornadas de reino em reino, de cidade em cidade, de vila em vila, aldeia em aldeia, a comitiva parou bem em frente de uma ermida, oculta em misterioso bosque dos muitos que existiam na velha Índia é para onde os animais se dirigiam, fazendo deles o seu habitat, por saberem que ali não eram perseguidos pelos homens; até os peixes dos lagos vinham receber à boca, as migalhas de pão que lhes davam os poucos seres humanos que sé afoitavam a chegar aos referidos lugares.

Durante milênios, em tal região jamais alguém pensou em fazer caçadas, em maltratar os animais. E esses se fizeram amigos daqueles que a procuravam, quase todos sábios e veneráveis Seres, que faziam também dali sua santa Morada, fugindo do mundo civilizado.

7 As desgraças não atingiram apenas os reis, mas à própria raça, então decadente.

Aconteceu que um rei chamado Dyumatsena, já velho é cego, vencido e destronado por seus inimigos, se refugiou no bosque vedado, com a rainha sua esposa e filhos, cujo primogênito se chamava Satyavân ("esplendor da Verdade") é ali passavam a vida em rigorosa penitência.

Era costume, na antiga Índia, que todo rei ou príncipe, por mais poderoso que fosse, ao passar péla ermida de um santo e sábio Homem, afastado do mundo, ai parasse pára lhe prestar homenagem, pois que á tanto chegava o respeito e a veneração em que os reis tinham os yoguis e rishis.

O mais poderoso monarca da velha Índia se sentia feliz e digno por possuir a descendência de um yogui ou rishi (tal como no velho Egito os próprios faraós...), que vivesse nas selvas, alimentando-se de frutos e raízes e coberto de andrajos.

Assim é que, quando passavam por uma ermida, desciam do cavalo, indo a pé durante algum tempo até alcançar a morada do santo e sábio homem, que a ocupava por tão longos anos. Se iam de carro ou armados, a mesma coisa faziam: desciam e depunham as armas em região afastada. da ermida, para esta sé encaminhando, como se fossem, por sua vez, peregrinos do mundo.

Fiel à tradição, ao deparar Savitri com a misteriosa ermida, nela deu entrada e ao ver Satyavân, o filho mais velho do destronado rei ermitão, por ele imediatamente se apaixonou. Havia rejeitado Savitri a todos os príncipes das cortes por onde passara, e apenas o filho do rei destronado, Dyumatsena, lhe havia roubado o coração.

Regressando a comitiva à corte, o rei Asvapati perguntou a sua filha:

– Diz-me, Savitri, querida filha, encontraste alguém digno de ser teu esposo?

– Sim, meu pai, respondeu Savitri um tanto ruborizada.

– Como se chama o príncipe?

– Já não sé trata de príncipe, meu pai, embora filho do rei Dyumatsena, que perdeu seu reino. Não tem patrimônio e vive como um sannyasin (ermitão) no bosque, colhendo ervas e raízes para se alimentar e manter seus velhos pais, com quem habita em uma cabana.

Ao ouvir tal coisa da boca de sua filha o rei Asvapati consultou o sábio Nárada, que se achava presente, e que declarou ser aquela escolha o mais funesto presságio feito pela princesa. Pediu, então, o rei a Nárada que explicasse os motivos dessa sua declaração, ao que respondeu o sábio.

– De hoje a um ano morrerá o jovem Satyavân.

Aterrorizado o pai, ao ouvir tão terrível presságio, fez ver à filha:  Pensa, Savitri, que o jovem a quem escolheste para esposo vai morrer dentro de um ano, deixando-te viúva. Desiste da escolha que fizeste, minha filha, e não te cases com um jovem destinado a uma vida tão curta.

Porém Savitri respondeu:

– Não importa, meu pai. Não me peças para casar com outro, nem me obrigues a sacrificar a castidade da minha mente, porque, em meu pensamento e em meu ânimo, só a este valente e virtuoso Satyavân eu amo e quero por esposo. Uma donzela escolhe apenas uma vez e jamais se torna perjura à sua fidelidade.

Ao vê-la assim tão resolvida de mente e espírito, resignou-se o pai à sua vontade, permitindo união com o príncipe Satyavân, deixando a princesa imediatamente o palácio de seu pai, para viver na, choupana do bosque, com o eleito de seu coração, e auxiliar o sustento de seus velhos pais. Embora Savitri soubesse quando ia morrer seu marido, conservou rigorosamente o segredo em seu coração. Todos os dias Satyavân internava-se no bosque para colher frutos e flores e fabricar farinha. E com essa carga volvia, ele à choupana onde sua esposa preparava a comida.

Assim se passaram os dias até chegar aos três, antes da data fatal, quando resolveu Savitri – sem dar ciência a ninguém – jejuar e orar durante aqueles três dias, ocultando também a todos as suas lágrimas e dores.

Amanheceu o dia fatal e, não querendo Savitri perder de vista um só instante a seu esposo, solicitou e obteve dos pais permissão para acompanhá-lo, quando fosse à cotidiana colheita de ervas, raízes e frutos silvestres, no interior do bosque. Haviam chegado ao meio, quando, com voz enfraquecida, Satyavân fez ver à sua esposa:

– Amada Savitri, sinto a cabeça aturdida, desvanecem-se, cada vez mais, os meus sentidos e me sobrevem grande desejo de dormir. Deixa-me repousar em teu colo.

Trêmula, e assustada, respondeu Savitri:

– Vem, meu querido senhor, e reclina a cabeça em meus braços. Satyavân assim o fez, mas dentro em pouco exalou o último suspiro. Abraçada ao cadáver do esposo, desfeita em lágrimas, permaneceu assim Savitri, naquela solidão, sentada na grama, até que chegaram os emissários da Morte para conduzir a alma de Satyavân.

Porém, nenhum deles pode aproximar-se donde estava o cadáver de Satyavân reclinado no colo da jovem esposa, pois disso os impedia um circulo de fogo que rodeava  o grupo fantástico formado por um ser vivo e outro morto...

E, assim, os emissários da Morte volveram ao rei Yama, o deus dos mortos, e lhe deram a razão de não terem trazido a alma de Satyavân.

Yama, o deus e juiz dos mortos, ocupava tão divina posição por ser o primeiro homem que na terra havia morrido, que por isso era ele quem julgava se um mortal merecia prêmio, ou castigo.

Assim, foi ele mesmo quem veio ao bosque e, como fosse um deusa pôde atravessar sem perigo algum o circulo de fogo e aproximar-se donde estava Savitri a quem disse:

– Filha minha, entrega esse cada ver, pois já deves saber que a morte é o destino de todo mortal e eu fui o primeiro deles que deixou o mundo! Desde então, tudo quanto vive tem de morrer. A morte é o destino do homem.

A vida, o daquele que se tornou imortal.

Savitri deixou a cadáver do esposo e Yama retirando a sua alma, seguiu com ela pelo bosque afora... Não havia dado, porem, muitos passos, quando, ouvindo gemer as folhas secas sobre os pés de alguém, olhou para trás e viu Savitri, a quem foi obrigado a dizer:

Savitri, filha minha, por que me segues? Este é o destino de todos os mortais.

Savitri respondeu

– Não te sigo, meu pai, mas destino também é o da mulher ir até onde a conduz o seu amor. E a eterna lei não separa o esposo amante da esposa fiel...

Então replicou o deus da Morte:

– Pede-me tudo quanto quiseres, menos a vida de teu esposo.

Ao que Savitri respondeu:

– Se desejas oferecer-me um dom qualquer, ó rei da morte, peço-te que devolvas a vista a meu sogro, para que ele seja feliz.

– Cumpra-se teu piedoso desejo, filha admirável!

E o rei da Morte seguiu o seu caminho, conduzindo a alma de Satyavân.

De novo ouviu passos atrás de si e, ao volver, viu que era ainda Savitri que o seguia. Então lhe disse:

– E todavia me segues ...

– Sim, meu pai, não posso fazer outra coisa, pois, embora procure retroceder, a minha mente acompanha meu esposo é o corpo o segue. Levas a alma de Satyavân e, como seja ela minha, também meu corpo a acompanha.

Yama respondeu

Concordo, filha amorosa. Volve, porém, ao teu lar, porque vivo algum pode acompanhar a Yama.

E o rei da morte prosseguiu no seu caminho...

Porém Savitri teimou em segui-lo. E Yama, mais uma vez volvendo os passos, mantém com ela um novo diálogo:

– Nobre Savitri, não me sigas com a tua dor sem esperança.

– Não tenho outro remédio senão o de ir aonde conduzires o meu bem amado.

– Supõe, então, que teu esposo foi um malvado e eu o conduzo ao inferno. Irias aonde fosse o teu esposo ?

– Feliz me sentiria em ir aonde ele fosse, tanto na vida, como na morte; tanto no céu, como no inferno. (Orfeu vai ao Inferno em busca de Eurídice...).

– Abençoadas sejam as tuas palavras, minha filha! Muito me alegraste com elas.

Pede-me outra dádiva, contanto que não seja a vida de teu esposo.

– Pois que mo permites, faz com que não se quebre a régia estirpe de meu sogro é que seu reino seja herdado pelos filhos de Satyavân.

O rei da Morte sorriu e disse:

– Minha, filha, cumprir-se-á o teu desejo. Aqui tens a alma de teu esposo. Volverá à vida e, assim, poderá ser o pai de teus filhos que, com o tempo, serão reis.

Volta, ao teu lar. O amor triunfou perante a morte. Jamais uma mulher amou como tu e a prova é que, mesmo eu, o deus da Morte, nada posso diante do poder de tão perseverante e verdadeiro amor.

NO DESTERRO

A inveja de Duryodhana pelos Pândavas continuou mesmo no desterro, onde os deixamos, embora que se desfizessem sempre, quantas maquinações de morte travaram contra eles os Kuravas.

Um dia, estavam os cinco irmãos em pleno bosque, mortos de sede, quando Yudhisthira pediu a Nákula que fosse buscar água, onde a encontrasse. Nákula obedeceu a seu irmão mais velho, indo encontrar, muito adiante, um lago donde colheu o precioso liquido; porém, no momento em que ele mesmo ia sorvê-lo, ouviu uma voz que lhe dizia:

– Detém-te, ó criatura! Responde primeiro às minhas perguntas e depois beberás.

Porem, como Nákula tivesse muita sede, não fez caso da advertência é, fazendo uso da água, logo caiu morto no chão.

Ao ver que Nákula não voltava, mandou Yudhisthira a outro dos irmãos, chamado Sahadeva, que fosse em busca do primeiro e trouxesse água.

Caminhou Sahadeva durante muito tempo, ate que encontrou o lago é, na sua margem, o cadáver de Nákula, cujo achado lhe fez derramar muitas lágrimas. A sede, porem, era tanta, que não pôde resistir ao desejo de fazer uso da água do lago, quando, por sua vez, ouviu uma voz que dizia:

– Detém-te, ó tritura! Responde primeiro às minhas perguntas e depois beberás.

Como o primeiro, não deu ouvido àquelas misteriosas palavras tendo a mesma sorte do irmão.

Arjuna e Bhina foram, um após outro, ao lago e sofreram a mesma sorte. Então, Yudhisthira resolveu ir ele mesmo ver o que tinha sucedido aos seus irmãos. O quadro horrível que presenciou abalou-o profundamente, pondo-se a lamentar a triste sorte de que todos tinham sido vítimas.

Logo a mesma voz se fez ouvir:

– Não procedas temerariamente, ó criatura! Sou um yaksha que, como as grulas, me alimento de peixes pequenos. Por minha causa, caíram teus irmãos sob a jurisdição do senhor dos espíritos desencarnados. Se tu, ó príncipe, não responderes às minhas perguntas, serás o quinto cadáver. Se me responderes, ó filho de Kunti, poderás beber e levar quanta água quiseres.

– Responderei às tuas perguntas, segundo meu entender. Podes perguntar.

E então, o yaksha perguntou:

– Qual a coisa mais admirável deste mundo?

– Aquela que a cada momento presenciamos, ou seja, como morre tanta gente em nosso redor é aqueles que ficam jamais se lembram que também terão o mesmo destino... Esta é, a meu ver, a coisa mais surpreendente: – que diante da morte, ninguém pensa em que há de morrer um dia:

O yaksha tornou a perguntar:

– Como se chega a conhecer o segredo da religião?

– Nada sé alcança com argumentos, porque muitas são as doutrinas, diversas as Escrituras e os trechos se contradizem... Não há dois sábios que pensem do mesmo modo. Tem-se a impressão que o segredo da religião sé acha sepultado em profundas cavernas. Assim, o Caminho que se deve seguir e, o palmilhado pelos excelsos Seres.

Então, disse o yaksha:

Estou satisfeito. Eu sou Dharma, o deus da Justiça, na figura de grula (grula ou grou é uma ave da ordem dos gralhos). Vim para te expor à prova. Teus irmãos não morreram. Tudo e obra apenas da minha magia. Mesmo que consideres a abstenção de toda injúria superior ao prazer e ao proveito, viverão os teus irmãos, ó fortaleza dos Bhâratas!

E, a essas palavras, ressuscitaram os quatro irmãos.

Em suas respostas demonstrou Yudhisthira que era mais filósofo do que rei e yogui.

E como sé aproxima-se o décimo terceiro ano de desterro, durante o qual, segundo as exigidas condições, tinham que viver incógnitos em uma cidade, sob pena de sofrerem outros doze anos de desterro, o yaksha lhes aconselhou a que se dirigissem para o reino de Virat onde viveriam disfarçados da melhor maneira que pudessem.

Obedientes à voz do yaksha (como se viu, de Dharma, a lei justa....), ao terminarem os doze anos de desterro, foram os cinco Pândavas ao reino de Virat convenientemente disfarçados, entrando para o serviço doméstico do palácio real.

Assim Yudhisthira foi o brâhmane da corte, hábil no manejo dos dados; Bhina, cozinheiro, Arjuna, disfarçado em eunuco, foi nomeado professor de música e de dança da princesa Uttarâ, alojado nos apartamentos particulares do rei; a Nákula se confiou a função de chefe das cavalariças ; a Sahadeva o de boiadeiro (ou pastor), e Draupadi, disfarçada de camareira, foi admitida no serviço pessoal da rainha.

Desse modo permaneceram os Pândavas um ano incógnitos na cidade de Vivat, sem que as pesquisas de Duryodhana lograssem descobri-los.

A BATALHA

Ao expirar o ano suplementar do desterro, sem que ninguém tivesse descoberto onde se achavam os Pândavas, enviou Yudhisthira um mensageiro a Dhritarâstra, intimando-o a que, diante da realização do que fora combinado, lhe devolvesse a metade do reino.

Porem Duryodhana declarou que, a não ser pelas armas, não cederia "o menor pedaço de terra capaz de se equilibrar na ponta de uma agulha".

Dhritarâstra procurou advogar a causa da Paz, mas foi em vão. O mesmo aconteceu a Krishna a fim de evitar a morte de heróis do mesmo sangue; os próprios anciãos – conselheiros da corte – procuravam intervir a favor da paz, por meio de uma divisão do reino em duas partes.

Diante do fracasso de tantas e tão proveitosas tentativas, ambos os grupos se prepararam para a guerra. E todos os reinos nela tomaram parte, de acordo com os costumes adotados pelos kshatriyas (ou "guerreiros", heróis, etc.)

Duryodhana e Yudhisthira se colocaram à frente, cada qual do seu grupo, ou, melhor dito, do ramo, que lhe pertencia.

Apressou-se Yudhisthira a enviar mensageiros aos reis vizinhos solicitando a sua aliança, pois, como homens de honra, deveriam aceitar a primeira solicitação de auxílio que recebessem. Duryodhana, por sua vez, fizera o mesmo. E, assim, foi que muitos reis sé aliaram com os Pândavas, e outros tantos; com os Kuravas, de sorte que cada grupo possuía parentes, amigos, mestres, discípulos, pais, irmãos, ou filhos, no grupo oposto.

Segundo o estranho código militar vigente naqueles tempos, só se pelejava durante o dia, (ou, como se disséssemos, de sol a sol) e, ao entardecer, eram suspensas as hostilidades (como uma espécie de armistício noturno... ), durante o qual ambos os grupos confraternizavam entre si, indo uns às tendas dos outros, até que, ao amanhecer, cada qual se reintegrava em seu campo para continuar a luta.

Além disso, um cavaleiro não podia ferir a um peão, como não era lícito envenenar as flechas, nem combater e vencer a um inimigo comprovadamente inferior em número, nem procurar vantagens de quem infringisse qualquer dessas regras, que formavam a parte principal da educação militar dos kshatriyas. 8

Prescrevia, ainda, o código, que nunca deveriam os kshatriyas dedicar-se a uma guerra de conquista nem apoderar-se de nenhuns pais estrangeiro, pois que, vencida a guerra, eram enviados a seu país os prisioneiros, com todas as honras e garantias a que tinham direito.

Naquele tempo a arte militar não se limitava ao hábil manejo do arco, mas também, e principalmente, a uma disciplina mágica e mental do que se poderia chamar de "balística", da qual faziam parte os mantrans sagrados e a concentração e exercícios mentais de magia divina, que deram o poder para lutar contra milhares de inimigos é desbaratá-los. 9

Embora os ocidentais se julguem os descobridores da pólvora, já a conheciam e empregavam-na os antigos chineses e hindus na guerra, por meio de canhões de ferro ou de bronze. E todos chegavam mesmo a julgar que os chineses colocavam, por arte mágica, um demônio dentro de um tubo de ferro e, ao aplicar fogo no seu extremo, o demônio saía com tão ruidoso estrondo, que matava a vultoso número de inimigos...

Tinham os antigos hindus uma organização e tática militar especiais. Havia tropas de infantaria, a que denominavam de pada, e de cavalaria, por sua vez chamadas turaga, assim como um grande contingente de ginetes montados em elefantes, cuja carga sobre os inimigos, era muito temida. Finalmente, todo exército possuía uma divisão de carros armados, onde iam os generais ou o que hoje denominamos de "estado-maior".

Ambas as fações procuravam obter a aliança é concurso de Krishna, que não podia tomar parte na contenda, oferecendo-se, apenas, para conduzir o carro de Arjuna (o Eu, a consciência imortal conduzindo, guiando a alma e o corpo, ou mesmo, o Mestre guiando ao discípulo... ) e servir de amistoso conselheiro aos Pândavas, enquanto cedia a Duryodhana todos os guerreiros que estavam às suas ordens (sim, a parte mais grosseira da luta como se dá com o Eu superior e o eu-inferior, ou os 4 princípios da natureza, sobrepujados péla Tríade superior). A batalha foi travada na vasta planície de Kurukshetra e nela perderam a vida Bhishina, Drona, Karna, Duryodhana com todos os seus irmãos e milhares de guerreiros de ambas as partes.

Dezoito dias durou a batalha (arcano 18 ou Lua, pois que a batalha era entre lunares e solares ou os vestígios da cadela anterior com o atual), que terminou, como se viu, com a morte de Duryodhana, ficando o campo nas mãos dos Pândavas.

 

A RESTAURAÇÃO E A ABDICAÇÃO

A vitória de Kurukshetra colocou Yudhisthira no trono de seu pai. O sábio e venerável guerreiro Bhisma, que caiu gravemente ferido no décimo dia da batalha, deu, em seu leito de morte, valiosas instruções a Yudhisthira, a respeito dos deveres do rei, das quatro castas, das quatro etapas da vida humana, das leis do matrimônio, da concessão de favores, etc., baseando tudo isso nos ensinamentos dos antigos sábios (ou antes, no código do manu). Explicou também as filosofias sankhya e a yoga, revelando inúmeras tradições referentes aos deuses, aos reis, aos santos e aos homens. 10

Tais ensinamentos ocupam cerca da quarta parte da epopéia e representam um verdadeiro arsenal das leis, costumes e códigos morais da antiga Índia. No entanto, a coroação de Yudhisthira foi realizada. No seu coração pesava gravemente o sangue derramado por tantos amigos, mestres e parentes, por isso, atendendo ao conselho de Vyasa, celebrou o sacrifício de Ashvamedha.

Depois da batalha, viveu Dhritarâstra durante quinze anos no palácio real, honrado e obedecido por seus sobrinhos, os cinco Pândavas. Porém, terminado aquele tempo, encontrando-se bastante velho e doente, retirou-se ele, com a sua abnegada esposa Kunti, a mãe dos Pândavas, para terminar os dias no mais absoluto ascetismo.

9 Principalmente a do domínio dos Tattwas ou "forças sutis" da natureza, como o prova as frases tão conhecidas do Bhagavad-Gita:

"sopra as divinas conchas" referindo-se às narinas, e "colocar o inimigo do lado oposto à força da natureza em função".

10 Eis aí 4 castas ou categorias, na razão de: deuses propriamente ditos, deuses-reis ou dhyanis, Adeptos ou Sábios, iluminados, etc. e homens vulgares. Com outras palavras: Asuras, Agnisvattas, Bharishads e Jivas...).

Transcorridos trinta e cinco anos (os 35 Tirttânkaras, etc.) da restauração de Yudhisthira no trono, chegou. aos seus ouvidos a notícia de "Krishna ter abandonado a sua mortal envoltura". 11

Sim, Krishna, o sábio, seu amigo, seu profeta, seu conselheiro... desaparecera do mundo.

Arjuna apressou-se em ir a Devârahâ, donde voltou com a confirmação da notícia de que realmente Krishna e os Yadayas haviam morrido.

O rei e seus irmãos muito sofreram com a notícia e, por sua vez, declararam a todos que a sua hora também estava próxima. Em conseqüência, abdicou Yodhisthira a coroa em favor, de Parikshit, primogênita de Arjuna. E a conselho dos sábios, realizou a chamada viagem Mahâprasthana, que era uma modalidade de ascetismo ou sannyasa.

Era costume, na antiga Índia – como exigência da lei em vigor – quando um homem chegasse à decrepitude, renunciar a todas as coisas do mundo e realizar tal viagem a pé em direção ao Himalaia, em completo jejum e pensando sempre em Deus, ate que, morresse de inanição. 12

Os reis seguiam os mesmos costumes que os demais homens e, assim, recebeu Yudhisthira o espiritual aviso de que já estava em caminho do ceu (ou Nirvana).

Do mesmo modo, os demais irmãos e sua mulher Draupadi tomaram vestes apropriadas para o ato e deram início a marcha.

No caminho, notaram que um cão os seguia. Continuaram a marcha para os Himalaias, cujos cumes se achavam cobertos de neve. E viram se projetando para os céus, o Monte Merú, justamente quando a rainha Draupadi caiu desfalecida para não mais se levantar...

Yudhisthira ia abrindo caminho não se apercebeu do acidente, peio que o advertiu seu irmão Bhina, dizendo:

Olhai, senhor, que a rainha acaba de morrer.

Yudhisthira prorrompeu em copioso pranto, não desviando a vista da meta a atingir.

– Sim, disse apenas, vamos encontrar a Krishna, e tempo não há para olhar para trás. Sigamos sempre.

Depois de alguns instantes, Bhima rompeu o silêncio com estas palavras:

Olhai, senhor, que nosso irmão Sahadeva acaba de morrer.

O rei continuou seu pranto e disse:

– Sigamos adiante.

Um após outro, foram caindo mortos na neve, os quatro irmãos. Porém, embora só, continuou impávido a sua marcha o rei Yudhisthira: E o cão o seguia, na sua fidelidade.

O rei e o cão marcharam por muito tempo, afastando neve e gelo, de encosta em encosta, de cume em cume, até que alcançaram o Monte Merú, de cuja fralda olhou o rei as celestes harmonias. E os deuses derramaram sobre ele copiosa chuva de flores, enquanto as estrelas o miravam sorrindo.

11 Diga-se antes, sua veste. Krishna, como poucos outros não se sujeitava ao fenômeno bem conhecido que se dá entre os "Budhas de Compaixão" ou Nirmanakâyas, se se tratava de um avatara... As vestes de Gautama, o Budha, serviram para outros seres, dentre eles, Sankaracharya, Jeoshua, etc. A mesma H. P. B. o diz na sua "Doutrina Secreta". E, quanto à conhecida frase de Krishna". E meu espírito pairará sobre a Terra", comprova essa nossa afirmação de hoje... Não falemos nos mistérios de Shamballah...

12 Semelhante suicídio, mesmo no fim da vida. é contrário à sábia lei de Carma, até é hoje defendida na Índia, o que prova que a tradução dos livros sagrados, não é de todo perfeita. O termo "inanição" deve ser tomado como o de uma passagem consciente para os planos superiores, o que não pode ser feito, senão em abstinência total de quanto se refere ao mundo terreno. Um simples estado de Dhâranâ, o 6º, entre os oito, exige "uma perfeita e intensa abstenção e abstração mental do mundo exterior, etc.", enquanto "Dharma – o 7º, abre as suas portas de ouro" para o 8º ou último" que em vida é Samâdhi e, post-mortem, Nirvana...

Foi então que desceu dos céus, envolvido em chamas, o CARRO DOS DEUSES.

E Indra dirigiu-se a Yudhisthira:

– Sobe a este carro, ó tu, o mais excelso dos mortais! A ti, apenas concedida é a graça de entrar no céu em corpo, alma e espírito.

Yudhisthira respondeu:

– Não desejo entrar no céu sem os meus irmãos e nossa esposa.

– No céu já estão teus irmãos e tua esposa.

Então, Yudhisthira fez sinal ao cão para que subisse no CARRO, porem Indra exclamou assombrado:

– Como! um cão? Afugenta-o. Os cães não entram no céu. Grande rei, que pretendes fazer? Tornaste-te louco? Tu, o mais virtuoso da raça humana, tu, a quem se concedeu o excepcional privilégio de entrar em corpo, alma e espírito no céu!

Respondeu Yudhisthira:

– Foi este cão meu companheiro através do gelo e da neve. Quando a rainha e meus irmãos morreram, não me abandonou. Como poderei eu abandoná-lo agora?

Então Indra respondeu:

– Não ha lugar no céu para homens acompanhados de cães. Tens que abandoná-lo. Não cometerás desse modo nenhuma injustiça.

– Prefiro não entrar no céu sem o cão, respondeu Yudhisthira. Nunca abandonarei a quem em mim se refugiou e comigo esteve, enquanto me sobrou a vida. Jamais me afastarei da retidão, nem mesmo para alcançar as delícias celestes.

– Pois então, apresento uma condição para o animal entrar no céu. Tu foste o mais virtuoso dos mortais e ele foi um devorador de carne de outros animais. Ele está repleto de pecados por ter destruído outras vidas. Renuncia tu ao céu e que entre o cão.

– Aceito. Que entre ele só, e fique eu na terra.

Repentinamente a cena tomou outro aspecto. Ao ouvir as nobres palavras de Yudhisthira, o cão se metamorfoseou no deus Yama, o Senhor de Dharma, da Justiça e da Morte, que havia tomado aquela ilusória aparência e assim falou a Yudhisthira:

– Ó rei! jamais houve homem algum tão abnegado como tu, que ao próprio céu quiseste renunciar e anular tuas próprias virtudes em beneficio do um cão 13

condenando-te ao inferno, carregando com os seus pecados. Foste bem nascido, ó rei dos réis! Tens compaixão de todas as criaturas, ó insigne exemplo dos Bhâratas! Desde já, tuas são as regiões imperecíveis da verdadeira Felicidade. Tu as ganhaste... Teu é o céu.

Yudhisthira, Indra, Yama e outros deuses que haviam se aproximado para presenciar a cena, se elevam ao céu no DIVINO CARRO (A Mercabah, o "carro de fogo" de Elias). Ali passa Yudhisthira pelas provas iniciáticas: banha-se no Ganges (no Oceano sem limites, sem praias, as águas de Akshara) do Svarga e recebe um corpo celestial.

Encontra a Draupadi e a seus irmãos e gozam de sempiterna felicidade. Assim termina o MAHÂBHARÂTA.

13 Em nossa Obra também houve um misterioso e fiel cão de nome "Pachá", do qual se lembram com respeitosa saudade, os mais antigos membros dessa mesma Obra.

 

CONCLUSÃO

Nova batalha se trava no mundo, entre solares e lunares. Mundo ou Kurukshetra tanto vale!

O Oriente fundiu-se no ocidente nessa misteriosa e exigida permuta de todos os ciclos. Ora é um, ora é outro que governa! E o Senhor das Eternidades, o "Espírito Misericordioso da Montanha" – chame-se Monte Merú ou outro Nome qualquer – se passou para o outro lado!

Chen-razi! Chen-razi! repete o Oriente inteiro, de joelhos diante do altar do TEMPLO erguido no Ocidente!

Sim, o Oriente esta ameaçado de ser destruído peias próprias forças do Mal. A Índia adquire a sua liberdade, sabem os deuses por que preço na sua hora mais trágica, O Japão ameaça invadi-la. Muito antes, era o veneno sutil que desejava destronar o Espírito de Verdade entronizado em uma série espiritual de Budas-vivos: os Budas-vivos da Mongólia...

Que resta do Oriente, senão o precioso Marco espiritual de Srinagar, como a sétima, mas em verdade, primeira Trombeta da "Visão de Ezequiel". Na outra extremidade – tal como no antigo Egito, o Sol... Sim, Sol e Lua nas extremidades – além dos outros cinco "planetas", ocultando uma Oitava coisa: o APTA, o Presépio de Belém, (como outrora na Atlântida) hoje armado no Ocidente: Hélios e Selene, Castor e PoIlux, o nome que lhe quiserem dar, mas, em verdade os tradicionais GÊMEOS ESPIRITUAIS, como eterno "padrão" do Andrógino Divino, o Pai-Mãe das santas escrituras...

Rishis, Arhats, Réis divinos, Cho-hans, a fronte curvam diante de Dharma, a Lei justa, seguindo a rota traçada pela estrela de Belém! Desta vez, Belém está no Brasil, zimbório geográfico de suntuoso Edifício, conhecido peio nome de "Missão dos Sete Raios de Luz!" Os tempos esperados já chegaram! "Karma vai abrir uma nova página na História!". Eu o disse um dia, faz 12 anos justos. Hoje prefiro repetir as palavras do "Rei do Mundo".

"E, então, enviarei um povo agora desconhecido que, com mão firme, arrancará as más ervas da loucura e do vício e CONDUZIRÁ aqueles que ficarem fiéis ao ESPÍRITO DE VERDADE, na batalha contra o Mal. Eles fundarão uma nova vida sobre a Terra, purificada pela morte das nações"...

Sim, batalha horrível se trava, não apenas numa simples região do mundo, como foi aquela de outrora, mas no mundo por inteiro!

De um lado, Duryiodhana: Herr Hitler !

De outro, Yudhisthira: "o esperado Rei, que deveria vir do Oriente", segundo sibilas e profetas, e apontado por Nostradamus, nas suas misteriosas profecias.

 

Mas uma vez, a luta se trava entre Kuravas e Pândavas!

Sim, para que a PAZ volte a reinar sobre a Terra!

OM MANI PADME HUM! OM TAT SAT!