JESUS NAS ÍNDIAS?

 

Noticiam as agências telegráficas que, acaba de ser descoberto no Hindostão (Índia e Paquistão atuais – nota do digitador), um antiquíssimo manuscrito relatando a viagem de Jesus Cristo às Índias. E foi o pintor Nicolau Roehrich, antigo professor da Sociedade de Incitamento às Artes, de Petrogrado, apóstolo do Espiritualismo, que teria feito a sensacional descoberta, num dos mosteiros do Himalaia 21 , onde os grandes sacerdotes hindus, ainda hoje, realizam pesquisas sobre os problemas da alma e o destino dos mundos.

Ali existem manuscritos antiquíssimos, guardados avaramente em esconderijos misteriosos, e foi um deles que revelou a passagem de Cristo na Índia, relatando um velho idioma hindu, as maravilhas das cidades visitadas pelo Messias.

“Estou mais do que persuadido”, diz o Sr. Roehrich, “de que Jesus22 viveu nas Índias e nos mosteiros do Tibete, e conheceu as religiões que precederam a que Ele pregou 23 . A luz, certamente, há de fazer-se algum dia a este respeito, e explicará as estranhas similitudes entre o puro budhismo e o puro cristianismo”24.

Isto afirmava o aludido professor em 1925. Agora, depois de uma nova expedição, tendo captado a confiança de algumas personalidades budhistas25, pôde o Sr. Roehrich penetrar em alguns mosteiros herméticos do Tibete onde descobriu o referido manuscrito, em língua pali (língua sagrada), e relatado a viagem de Jesus, “o melhor e o mais sábio dos homens”, que veio de Bethlem para estudar nos clássicos tibetanos. As últimas linhas do manuscrito referem que Jesus, de volta à Palestina, compareceu perante o tribunal de Poncio Pilatos26.

(Dos jornais)

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No artigo de H. J. S. “A Missão de Dhâranâ”, publicado no número atual desta revista, diz da opinião dos grandes seres, inclusive do Mestre Koot-Humi, sobre o Budhismo do Norte ou a verdadeira filosofia de Gautama e de outros Iluminados que lá foram buscar toda a Sabedoria que espalharam pelo mundo.

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Os mosteiros a que se refere o Sr. Nicolau Roehrich, devem ser os do norte das Índias (Srinagar, Leth, Simla, etc) e os do Oeste do Tibete que, como muitos outros, se acham subordinados ao poder Lamaísta de Lhassa, nas mãos do grande Dalai-Lama, sumo sacerdote da religião amarela (Lamaísmo ou Budhismo) e regente do Tibete. Cousas muito mais interessantes poderia ver o pintor Roehrich se houvesse captado a confiança, como diz ter feito a algumas altas personalidades budhistas, se o guarda fiel dos tesouros tibetanos, o Senhor Taichu-Lama, Tji-gad-jé, lhe houvesse aberto as portas do seu “retiro privado”. Então, o ilustre viajante, com as sublimes “nuances” que sabe emprestar às suas telas, ofereceria ao mundo uma verdadeira obra prima e revolucionária, ao mesmo tempo o mundo científico, com todo o saber oculto de uma imensa biblioteca antiquíssima, que desafia a todas que o mundo profano possui. Na nossa insignificante opinião, quem o informou a respeito de um iniciado qualquer, que o ilustre pintor aceitou como sendo Jesus, entre aqueles sábios ignorados do mundo ocidental, não teve outro intuito, senão, demonstrar-lhe que Jesus, Apolônio de Tyana ou outro qualquer dos grandes Iluminados, nascidos em países diferentes, não poderiam deixar de visitar a cidade sagrada dos deuses, nem ser embalados no seu verdadeiro berço, pela Mãe Sabedoria ali existente.

22

O pretenso Jesus, nunca poderia possuir tal nome, e muito menos o de Cristo. Jesus ou IEOSHUA, vem das iniciações egípcias e quer dizer ‘filho de ÍSIS’ (da Lua, de Diana, de Sofia, da Verdade, etc, etc). E Cristo, outra coisa não quer dizer, senão, o primitivo Chrestos (discípulo posto à prova) e já transformado em Christos, o purificado, o ungido. Em simbologia mística, Christes ou Christos significava realmente que o caminho, a “grande vereda, havia sido percorrida e alcançada, portanto, a meta desejada”. (Veja-se a obra de Mario Roso de Luna – La Esfinge, pág. 127). Todos os discípulos em provas são Chrestos; depois de alcançada a meta desejada, se transformam em CHRISTOS ou BUDHAS, isto é, ILUMINADOS. Vejamos o que diz H. P. B. em “Ísis sem Véu”, tít. II, cap. IV:

Christos, como uma unidade, é somente uma abstração, uma idéia genérica que representa a agregação coletiva das inumeráveis entidades espirituais, que são as emanações diretas da infinita, invisível e incompreensível Causa primitiva – os Espíritos individuais dos homens, erroneamente chamados ‘alma’, os diversos filhos de Deus, dos quais só vislumbram algo a generalidade dos mortais.

Alguns deles permanecem para sempre convertidos em Espíritos planetários, e outros, a mais escassa minoria, se unem durante a vida a alguns homens. Assim, esses tais SERES, semelhantes a Deus, como Gautama, o Budha; Jesus, o Cristo; Tissoo, Krishna e outros poucos estiveram permanentemente unidos com os seus ESPÍRITOS, passando assim à condição de deuses na Terra. Outros, tais como Moisés, Pitágoras, Apolônio de Tyana, Plotino, Confúcio, Platão, Jâmblico e alguns santos cristãos, por haverem estado assim unidos a intervalos, tomaram na história, a categoria de semideuses e dirigentes da Humanidade. Uma vez separados dos seus tabernáculos terrestres, livres desde então, suas almas, e ligadas para sempre com os seus espíritos, volvem a unir-se a toda hoste luminosa, à qual estão ligados pela mais perfeita solidariedade de pensamento e ação, sendo chamados “os ungidos”. Daí a significação dos gnósticos, que dizem que “CHRISTOS” sofreu espiritualmente pela Humanidade, implicando isto em que o Seu Divino Espírito foi o que principalmente sofreu”.

A dificuldade para ser demonstrada a existência de Jesus, desde o mais antigo e valioso historiador conhecido, o judeu Flavio Josepho

(anos de 37 a 95 da Era cristã), que nada, absolutamente nada, fala sobre a vida do mesmo Jesus, até os mais modernos historiadores, cujos documentos apresentados carecem de outras documentações; desaparece, por exemplo, ante a vida de um Apolônio de Tyana, muito propositadamente esquecida pelo Catolicismo despeitado, da lista de seus “celestiais eleitos”, pela grande semelhança que existe entre a vida dos dois (Jesus e Apolônio). No entanto, são os seus próprios santos (os celestiais eleitos) como S. Jerônimo, S. Justino, o mártir, etc, etc, que falando do mesmo, dizem, portanto, da realidade da sua existência. Muitos, também, foram os sacerdotes católicos que falaram de Apolônio de Tyana, “embora que, molhando, como de costume”, a pena na negra tinta do ódio teológico, da intolerância e do prejuízo” (palavras de H. P. B.)

Falando de Apolônio de Tyana, H. P. B. (5º Vol. da Doutrina Secreta, pág. 189) diz: “Centenas de volumes foram escritos acerca deste homem portentoso. Os historiadores discutiram gravemente a sua personalidade, e não faltaram presunçosos críticos, incapazes de chegar a uma conclusão sobre este sábio, que houvesse negado a sua existência”.

O próprio Marquez de Mirville (não esquecer o leitor que ele escreveu com a aprovação de Roma... quantos livros saíram da sua pena), quando no curso das suas fenomenais alegações com que quis descobrir o inimigo de Deus (?), como produtor dos fenômenos espiritistas, dedica todo um capítulo da sua obra “Memórias de Satan”, ao grande Adepto de Tyana.

23

Nem Jesus, nem outro qualquer, poderia pregar religião tal como a interpretam os seus sacerdotes, adulterando o verdadeiro sentido do vocábulo – unir o homem a Deus (Yoga também implica na mesma cousa), e criando seitas, que afastam cada vez mais o homem da sua própria divindade adormecida dentro de si mesmo. Todos os grandes Seres que baixaram ao mundo em missão especial, ensinaram a única Verdade (RELIGIÃO-SABEDORIA), embora com palavras diferentes, de acordo com a evolução de cada época, ou seja, a maneira pela qual o homem se deve conduzir na Terra, a fim de alcançar a perfeição absoluta ou a sua união com Deus, por meio da Sabedoria da mente e a Doutrina do coração.

24

O leitor interessado deve reportar-se ao nosso artigo publicado no número anterior desta revista: “A Missão dos 7 Raios de Luz” onde se fala em Budhismo com um D (Iluminação, Sabedoria, etc.) e Buddhismo com dois D, em relação com o Buddhismo sectário, etc.

25

O Sr. Roehrich de volta a Moscou, onde foi fazer, agora, as pazes com as autoridades do Soviet, acaba de chegar da Mongólia, entrando em contato com a Academia de Ciências, com o fim de propor nova expedição. Enquanto esperava, pintou um quadro mostrando um cavaleiro vermelho, que levava a liberdade – simbolizada por uma estrela vermelha – ao povo mongol. Este trabalho foi oferecido pessoalmente pelo pintor ao governo de Urga... É provável que os budhas vivos e os seus poderosos “LAMAS” se tenham transformado em “velhos deuses dementes”, para não compreenderem o manejo oculto do Soviet, através da “budhistica” personalidade do ilustre pintor Sr. Roehrich. Temos certeza absoluta que o grande pintor não lançará, jamais, as suas vistas para os lados do Tibete, onde uma dádiva tão VERMELHA como o quadro oferecido ao governo de Urga, é retribuída com outra dádiva, não menos “vermelha” e valiosa... que se chama de ferro em brasa.

26

Por aí se colige os resto... Jesus, ir buscar a Sabedoria entre os sábios tibetanos, a fim de... logo chegasse à Palestina, sem demonstrar o que vinha fazer no mundo, morrer estupidamente crucificado, depois de ter comparecido perante o tribunal de Poncio Pilatos... Santa ingenuidade!... Pobre povo mongol, se a tua liberdade vier desta forma, continuarás escravizado, tal como tens vindo até hoje, nas mãos da China... Valha-te a memória do barão Ungern ou de muitos Ossendowskis, Touchegun-Lama e todos os teus valorosos Kalmuks. (Notas da redação)

 

Data : Dhâranâ nºs 13 a 17 Janeiro a Maio – Abril de 1927 – Ano III