As Três Correntes de Vida

HENRIQUE JOSÉ DE SOUZA

 

Dhârâna nº s 26 e 27 – Janeiro a Dezembro de 1965 – Ano XL

 

As três correntes de vida que nutrem o globo terrestre e animam os seres de seus  quatro reinos evidenciam aquilo que se dará no final da evolução do mesmo globo: este e o homem se reintegrarão na sua Origem. Os três Sóis se reunirão em Um, de igual modo que se restabelecerá no homem o perfeito equilíbrio entre corpo, alma e espírito, idênticos à Unidade da qual procedem, por isso que somos (em essência) sua imagem e semelhança. O Homem é uno com Deus, embora trino em sua manifestação.

 

Esta se apresenta como Vontade, Atividade e Sabedoria, as três correntes vitais simbolizadas nas três Nornas ou Parcas mitológicas (Cloto, Láquesis e Átropos); nas três pessoas da Trindade cristã (Pai, Filho e Espírito Santos); na Tríade egípcia (Osíris, Ísis e Hórus); na trimurti hindu (Brahma, Shiva e Vishnu); na trindade caldaíca (Anu, Hea e Bel); no Triângulo hebraico (Kether, Chochmah e Binah); nos três princípios superiores do Homem, Atmã, Budhi e Manas, que segundo a teosofia, deram origem a essas e outras trindades das diversas tradições e que se interpretam ainda como as três forças: centrífuga centrípeta e equilibrante, as quais, em ação conjunta, desdobram-se esotericamente em Vontade na Vontade, na Atividade e na Sabedoria; Atividade na Atividade, e na Vontade; assim como anatomicamente no homem se diria, significando Inteligência, Amor e Emoção; cabeça na cabeça, no peito e no ventre; pito no peito, na cabeça e no ventre; ventre no ventre, na cabeça e no peito.

 

A Volta à Unidade

 

A evolução de cada homem, precisamente por ser ele Mônada, um microcosmo ou pequeno universo, se processa individual e coletivamente por vontade e esforço próprio, exigindo-se de todos e de cada um a sua voluntária contribuição para que o todo volte ao Tudo. Ensina-nos uma das estâncias de Dzyan que deus se divide para consumar o supremo sacrifício. As frações divididas e subdivididas em que se manifesta a Unidade tendem centripetamente ao retorno, a tornarem unas com sua Origem. “Deus se divide em homens e estes se somam em Deus”. Os iogues mais evoluídos, quando em êxtase (o “samadhi”, período de “sushumnâ” ou andrógino em que funcionam ambas as narinas), costumam pronunciar as sagradas palavras – Tat Twan Asi (Eu sou Ela, Eu sou Brahmã).

 

O homem possui dentro de si tudo quanto se contém no Universo, constituindo efetivamente um microcosmo.

 

A Lei da Reciprocidade

 

A Lei da reciprocidade rege o mundo astral ou asterismal, donde a razão de os iluminados pregarem o tema básico da fraternidade entre os homens, que é a mesma de haver a Sociedade Teosófica Brasileira, hoje SBE, adotado por ela – At Niat Niatat, um por todos e todos por um. A Terra, tal como o homem, se acha ligada com outras entidades celestes.

 

Tudo se subordina à lei da reciprocidade, o que já se depreendia dos arcanos de Hermés, o trimegisto, gravados na Tábua de Esmeralda:

 

 É verdade (em princípio), é certo (em teoria), é real (de fato, em aplicação) que aquilo que está em baixo (o mundo físico, material) é como o que está em cima análogo e proporcional ao mundo espiritual ) e o que está em cima é como o que está em baixo (reciprocidade), para a realização das maravilhas da Causa Única. (Lei suprema, em virtude da qual se harmoniza a criação universal na sua Unidade). E do mesmo modo que todas as coisas são feitas de Um só (princípio), por mediação de Um só (agente), assim também todas as coisas nasceram dessa mesma única Coisa, por adaptação (ou conjugação). O Sol (condensador da irradiação positiva, AOD,OD) é seu Pai (elemento produtor ativo); a Lua (espelho da reverberação negativa ou da luz no azul, AOB, OB) é sua Mãe (elemento produtor passivo); o Vento (atmosfera etérica ondulatória) a contém em seu seio (servindo-lhe de veículo); a Terra (considerada como tipo dos centros de condensação material) é sua nutridora (atanor de sua elaboração).

 

 “Eis aí o Pai (elemento produtor) do universo telesmo (perfeição, fim colimado) do mundo inteiro (universo vivo). Seu poder (força de exteriorização criadora, o rio Phishon de Moisés) é inteiro (perfeito, realizado, desenvolvido integralmente), quando metamorfoseado ( transformado) em Terra. (Aretz de Moisés, substância condensada especificada; forma última da exteriorização criadora, matéria sensível).

 

 “Tu separarás a terra (no sentido de mundo moral e inteligível), o sutil do grosseiro, com delicadeza prudência. Ele (o fluído puro, universal, mediador; corpo do Espírito Santo, segundo os gnósticos) se eleva da Terra ao Céu (corrente hemicíclica de retorno, ascendente; refluxo de síntese) e de volta (por movimento a um tempo alternativo e simultâneo) desce do Céu à Terra (corrente hemicíclica de projeção, descida, influxo da análise) e recebe (enche-se, carrega-se, impregna-se, alternativamente) a força (as virtudes, propriedades, influências) das coisas, tanto de cima como de baixo. (Dos mundos físico ou material e hiperfísico ou astral, e ainda, sob outro ponto de vista, das esferas sensível e inteligível).

 

 “Assim (mediante esses princípios) tu terás a glória (a soberania, o império) do Universo inteiro, pois toda obscuridade (desânimo, dúvida, ignorância; o hierograma mosaico Hoshek exprime esotericamente todas as idéias negativas simbolizadas pelo cone sombrio da Terra) se afastará de ti. Aí reside a força de todas as forças ( princípio mútuo de atividade, o potencial de toda manifestação, o suporte de toda ação, a base imanente de toda ordem fenomênica) que vencerá (fixará, reterá) toda coisa sutil (volátil, fluídica) e penetrará (decomporá, dissolverá) toda coisa sólida (densa, coesa, concreta).

 

 “Assim (por esse agente ou por semelhante processo) foi o universo criado. (Transformado de princípio de essência em poder original atuante, realizado na razão do “Fiat Lux”). Daí se originarão maravilhosas adaptações, cuja maneira (de ser, tipo de formação), aqui se acha (indicada, revelada).

 

 “Razão de me chamar EPMH, Hermés (Mercúrio, mito complexo, no presente caso emblema da Má – tese, ciência sintética e analítica experimental) o Trimegisto (três vezes grande, o maior entre todos), possuindo (por lhe Ter sido por Lei doado, outorgado) as três partes da Filosofia ( o total conhecimento dos três mundos: divino ou inteligível; psíquico ou passional e natural ou sensível, donde o termo “Maitri com o sentido de Senhor dos três mundos, vencedor das três Gunas ou tipos de matéria) do Universo inteiro.(Avocando-se por direito divino a majestade de “Rei do Mundo”).

 

 “O que acabo de revelar (meu ensinamento, meu verbo solar ou “Deva-Vani”) está completo (consumado, proferido) sobre o Magistério (a operação, a Grande Obra mágica) do Sol. (Com inúmeros sentidos, dentre eles: a força e o papel das correntes fluídicas universais; a evolução do AOR andrógino ou Luz engendradora; o Magistério dos alquimistas, cujo segredo, por assim dizer, estava a descoberto ou desvendado no presente texto da Tábua Esmeraldina)”.