A INICIAÇÃO À LUZ DO APOCALIPSE
As Sete Igrejas e os Sete Estados de Consciência
A.C. FERREIRA
As tradições hebraica e
cristã se baseiam no Sepher Zohar (o livro do Esplendor), no Sepher Ietzirah (o livro da Criação) ,
no Sepher Bereshit e no Novo Testamento,
atingindo este o ápice no 4º Evangelho
de João , nas cartas de Paulo de Tarso e no “Apocalipse”.
O Cristianismo possuía
sete graus iniciáticos dos quais somente três eram do conhecimento profano. Os
três graus inferiores constituíam respectivamente os “ouvintes”, “companheiros”
e “fiéis” e os quatro superiores formavam os sacerdotes iniciados.
O Clero obedecia a estes
sete princípios que se relacionam com as cartas às sete igrejas do Apocalipse.
O cristão comum no máximo atingia o terceiro grau. Daí para frente, se afastava
do povo, tornando-se um dos condutores, chamados sacerdotes, bispos ou
vigilantes.
O Apocalipse é uma síntese
da Doutrina e da previsão dos tempos, sendo pois a chave hermética para a
interpretação dos fatos acontecidos no passado e no presente, com a antevisão
do futuro.
As cartas às sete igrejas
da Ásia (sete Templos iniciáticos), objetivavam avisá-los de que as cerimônias
que aí se praticavam eram para a formação de adeptos perfeitos, santos e sábios.
Essas mensagens estão estreitamente relacionadas com os dizeres das Epístolas
de Paulo quando falam no Cristo interno, na semeadura no corpo corruptível, para
a colheita no corpo incorruptível. Isto é, vencer a morte no sentido da
consciência imortal,continuidade de consciência. Daí a sua exclamação: “Ó
morte! Onde está a sua vitória?” – para dizer que o iniciado venceu a própria
morte.
O Apocalipse ensina que
para esta iniciação precisamos:
1. Dos frutos da Árvore da
Vida para perceber etapas já vividas e poder colher a experiência do passado
conscientemente no presente; sentir a eternidade percebendo os primeiros vislumbres
da vida interior, princípio luminoso que foi chamado por Paulo de “Cristo
Interno”. A grande visão ainda custará a aparecer; até lá vitórias e derrotas.
Pressentindo esta glória e vencendo esta etapa, então ele verá face a face o
Ser Divino que nele habita. “Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às
igrejas: Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da Árvore da Vida, que está no meio
do paraíso de Deus” (Apoc.11-7).
A primeira Igreja, Éfeso. A tradição hindu diz que no primeiro grau, “Pratma-kálpika” (o que está no primeiro
período) a luz espiritual começa a iluminar a consciência física do homem.
Nesta etapa já deve ter vencido os grandes entraves representados pela
dúvida,falsa noção do “eu” e pela impureza dos costumes e dos pensamentos.
Procura aquilo que é
excelente – “Subha-ich’ha” – tal
como afirma o Vedânta Siddhânta Darshana,
e o desejo da libertação que resulta da discriminação entre o permanente e o
transitório e dura até que o fim seja atingido.
Portanto, nessa etapa o
homem adquire a primeira imortalidade do físico, para que possa alcançar o seu
desiderato supremo. É nesse sentido que prova do fruto da Árvore da Vida. Passa
a seguir, para a segunda etapa, ou para a segunda
Igreja, a de Esmirna 2. Se no primeiro grau iniciático ele prova da Árvore
da Vida, só na segunda iniciação vencerá a segunda morte. Então começa a ver
aquilo que fez; visões terríficas ou angelicais. Nem inferno, purgatório ou céu
perdurará: a energia física, psíquica e mental vai se esvaecendo, e as visões
desaparecendo como imagens fugazes. A alma caminha aos limites deste mundo,
limiar das impregnações terrenas. Surge então um mundo mais sutil, mais real; o
mundo astral é substituído pelo mundo das formas mentais puras. A alma não pode
entrar com o veículo pesado astral para o mundo das causas de mais elevado mental.
Aquele cadáver psíquico fica abandonado. Mariposa que se eleva para o mundo de
luz e de repouso, passa por uma transformação semelhante à morte física,
abandonando a alma os seus princípios grosseiros e, glorificada, passa para o
Mundo do repouso. Agora é uma nova existência em que alguns podem Ter
experiência
Seguem-se novas
peregrinações estabelecidas pelo princípio anímico ¾ nova reencarnação.
“Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz
às igrejas: “Quem vencer não receberá o dano da Segunda morte”. (Apoc. II-11).
A Segunda etapa é
“vichârana” – o conhecimento discriminativo, conforme o Vedanta. Nesta
etapa conhece o homem o
campo da Individualidade. Resta-lhe o verdadeiro conhecimento espiritual, cuja
posse só pode ser alcançada pelo Super-Consciente, e o fim da Iniciação é levar
o homem a esse ponto. A salvo da morte psíquica, ou parcialmente liberto, passa
ao terceiro grau ou à terceira igreja, a
de Pérgamo.
3. Nesta fase o iniciado
continuará com a sua consciência individual. Saberá então o nome da essência
espiritual que ao anima; então pela primeira vez vai ver quem ele realmente é,
recordando qual o Som divino (nome iniciático) que há de individualizá-lo, nome
este que é tirado do próprio nome de Deus numa de suas múltiplas combinações, e
de que só ele tem conhecimento.
Quem tem ouvidos, ouça o
que o Espírito diz às igrejas: “Ao que vencer darei eu a comer do maná
escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra” um nome escrito, o qual
ninguém conhece senão aquele que o recebe” (Apoc. II-17).
O terceiro grau iniciático
está sempre ligado ao mistério do nome. Todas as tradições falam do segredo do
nome. De acordo com Môret, os egípcios faziam uma idéia bastante singular da
criação do mundo: o demiurgo, a emanação divina, criou o universo pelo olho e
pela voz. Quando viu os seres, estes se manifestaram; quando pronunciou seus
nomes, os seres existiram. A vida para os egípcios era uma emissão de luz fecundante
e verbo criador. Para Jean Marques Riviére, “o conhecimento do verdadeiro nome”
é absolutamente essencial; as coisas que não tem nome não existem, quando adquirem
a existência é porque um Deus pronuncia os seus nomes.
A tradição hebraica
afiança a necessidade do conhecimento do nome dos seres e das coisas. Os
primeiros padres da Igreja, como Origens e outros, dizem que os nomes, contrariamente
à opinião de Aristóteles, não são dados por simples convenção (thesei) mas que apresentam uma relação
profunda e misteriosa com as próprias coisas.
Na Índia, inúmeros sábios
alcançaram o pináculo da evolução pela prática da repetição do nome sagrado; japa-ioga ó nome técnico e como nos diz
Frithjof Schoun, Swami Rândâs é um
exemplo atual e frizante da importância do conhecimento do nome.
De acordo com os
conhecimentos tradicionais, o verdadeiro princípio do homem, a sua real
essência, é da mesma natureza que a palavra que a expressa. Conhecer uma, é automaticamente
reconhecer o outro. Quando o discípulo conhece o seu verdadeiro nome, o que lhe
é facultado no terceiro grau iniciático, entra em comunhão direta com aquilo
que, impropriamente, é conhecido pelo nome genérico de EU.
O sentido popular do
apelido, ainda que remota e transfiguradamente, representa o sentido exotérico
e esotérico do nome do discípulo e do Mestre. Penetramos, assim, no domínio
transcendental da Individualidade do homem, entendendo-se aqui por individual o
princípio sutil que constitui a verdadeira essência do ser, termo que se opõe
ao de personalidade.
Esta representa o veículo
grosseiro do homem, o que habitualmente chamamos de eu. Com esta distinção, o
sentido de personalidade vem a ser o tradicional, derivado de persona, significando
a máscara que caracteriza o ator, através do qual ecoa a voz do homem real.
É o ilusório, a fantasia
que envolve e cerceia o Real. É portanto no terceiro grau que se manifesta o EU
Real, que o discípulo se encontra consigo mesmo, para a realização do grande
mistério iniciático.
Uma vez vencida esta etapa
o candidato se dirige para a quarta Igreja, a de Tiátira.
Na quarta igreja receberá um cetro de ferro para governar as nações.
Sua missão será a de governar os povos. É exemplo desta fase a dinastia dos
faraós; alguns foram sábios e iniciados, como ocorreu com alguns reis da Assíria,
Babilônia, Índia e China.
Grande é o número de
adeptos que tem passado por esta Missão, surgindo então misteriosos
imperadores, como Numa Pompílio – Profeta que mantinha contato como os Mestres
da Sabedoria; Assoka, que criou o Império dos Mórias – mestres perfeitos; Mahatmas
da Linha Mória ou dos sete adeptos perfeitos de todos os tempos. Vêmo-los também
como Fo-hi – o filho do Dragão, e Kunaton, o amado de seu Pai Aton. Os acádios e
sumérios são pródigos da presença desses Seres.
Por isto ensina o
Apocalipse (II-26): “Ao vencedor, e ao que guarda minhas obras até o fim, lhe
darei autoridade sobre as nações. Ele as regerá com vara de ferro, quebrando-as
como são quebrados os vasos de oleiro, assim como eu as recebi de meu Pai. Eu lhe
darei a estrela da manhã”.
Nesta etapa, diz a
tradição oriental, o discípulo já tem consciência de quem é, surgindo nele os
poderes, ou sidhis, que podem constituir o principal empecilho à realização
transcendental, pois devem raramente ser utilizados e de manifestação espontânea,
ficando como jóias preciosas à ordem da radiosa estrela, que é a alma desperta
e plenamente ativa. Uma vez atingida e ultrapassada a prova ou o estágio dos poderes
, o possuidor dos poderes, o possuidor da estrela da manhã, que é Vênus, estando
portanto estreitamente relacionado com os Senhores de Vênus ou Kumaras, se encaminha
à próxima igreja, a de Sardes.
Na quinta Igreja, não pode mais conviver com os homens vulgares, é o
Adepto na fase secreta, é o Superior Incógnito, passando entre nós, procurando
guiar a humanidade sem ser reconhecido. È o Adepto Secreto, com suas vestes
brancas, espírito luminoso cujo nome inscrito no Livro da Vida, lhe permitirá
ligar-se aos grandes mistérios da Tríade superior no seu aspecto de Beatitude.
È o amor universal que não se cinge a um ser, a uma coisa, mas que universaliza
e pluraliza. Consciente do seu EU, da sua verdadeira Essência, se funde agora
com um dos aspectos do próprio Verbo criador. A ele se liga, se une para a
eternidade. Nesta etapa é que se diz que a alma contempla face a face a Divindade
ou a Divindade se contempla.
Faz parte agora do
mecanismo intrínseco do próprio universo. A Potestade suprema, não mais o
reconhece como parte do todo, mas o vislumbra como entidade consciente do todo.
Nesta fase, diz o
Apocalipse (III-5) “O vencedor será assim vestido de vestes
brancas: não se apagará o
seu nome do livro da vida,e confessarei seu nome diante de meu Pai e diante dos
seus anjos”.
Atingindo o estado
interior de “Ananda”, segundo as escolas orientais, segue o iniciado para a
próxima igreja, que é a de Filadélfia.
Na Sexta igreja desenvolve o Conhecimento puro, que se equilibra com o
Amor puro, que se equilibra com o Amor puro da etapa anterior, na realização
mística das duas colunas do Templo. Recai sobre ele o mistério do Santo Nome de
Deus. É a Palavra Perdida, o “Shen-Há-Meforash” dos antigos cabalistas , a
expressão inefável do AUM das tradições indo-tibetanas.
Em uma obra de grande
valor esotérico, no “Pitis Sofia”, A Sabedoria da Fé, obra fundamental dos
gnósticos, há uma referência a este Santo Mistério: “Rabi Jeoshua, certa vez,
interrogado por um discípulo sobre o valor das sete vogais da linguagem grega
que se achavam gravadas na cabeça da serpente Ofis, respondeu:
Este é o maior de todos os
mistérios. Quem conhecer o segredo que faz vibrar as sete vogais e os seus 49
poderes, é o Senhor de toda a Luz. Nem o próprio Bárbelo, o guardião dos mundos
intermediários, poderá detê-lo na sua marcha gloriosa. Se envolto em trevas
entoar esta Palavra Santa, logo a Luz se fará.
João, o Evangelista,
ensina que “no Princípio era o verbo, e o Verbo estava com Deus,e o Verbo era
Deus” (João I-1).
“E o Verbo se fez carne e
habitou entre nós ...” (I14).
Logo, tudo dimana do Som
Primordial e, portanto, pela marcha inversa, tudo se relaciona e diretamente
depende da Palavra Criadora.
O céu se manifesta, o
homem se une eternamente com o Logos, quando pronuncia a “Palavra Inefável”.
Nesta fase o iniciado
entende a carta dirigida ao Anjo da Igreja de Filadélfia, que diz (III-12):
“Ao vencedor, fá-lo-ei
coluna do Santuário de meu Deus, donde jamais sairá: escreverei sobre ele o
nome de meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do
céu da parte do meu Deus e também o meu novo nome”.
O último rebento místico
do Oriente Sri Râmakrishna, não hesita em dizer: “Deus e seu nome são
idênticos”. E precisa a sua sentença:
“Quando cremos na potência
do Santo Nome de Deus e nos dispomos a repeti-lo constantemente, nem discernimento,
nem exercícios piedosos de nenhuma ordem, são mais necessários. Todas as
dúvidas se esgotam, o espírito se torna puro, Ele mesmo, se realiza, pela
pujança do seus Santo Nome”.
Terminado esta fase,
dirigirá o iniciado para a última etapa, a igreja de Laodicéia.
Nesta sétima Igreja, atingirá a consagração final, o pináculo da
evolução. O homem se unifica com o Todo, alcança a “Seidade”. Esta
identificação é conhecida no Oriente com o nome de Samadhi; pela isenção
absoluta, pela renúncia ao uso dos poderes extraordinários que alcançou,
consegue destruir todas as sementes mentais, de há muito subjugadas, mas ainda
latentes em seu órgão interno. Pode, então, alcançar a consciência do
Permanente, do Eterno, a qual, para a consciência relativa dos que vivem nos
mundos contingentes, representa a absoluta inconsciência. Somente agora é um Liberto,
na plena acepção do termo.
Esta consagração está
contida na carta ao Anjo da igreja Laodicéia (III-21): “Ao que vencer lhe
concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me
assentei com meu Pai no seu trono”.
Tendo o iniciado nas
etapas imediatamente anteriores atingido o que as Escolas orientais chamam de
“Ananda” e “Chitt”, nesta última torna-se um “Turyaga”, e através do “Samadhi”
atinge o atributo de “SAT”.
Realiza assim o
SATCHITANANDA ou os três atributos do Pai, no seu interior, através das sete
igrejas ou sete estados de consciência, perfazendo os 21 mais 1 arcanos maiores,
pois ele é o 22º arcano maior ou Laurenta, ou aquele que sabe Quem é, donde vem
e para onde vai.
Data: Dhâranâ nº 32 – 1969 – Ano XLIV